Dando continuidade aos posts de roteiro/revisão do blog para facilitar aos que chegaram mais recentemente, além de ajudar a compreender de forma mais global a linha de elaboração de temas e assuntos, depois de publicar Homero – Um Roteiro, partimos agora para roteirizar as tragedias, dentro do mesmo tema, Mitologia. As tragedias, boa parte delas já tinham seus temas anunciados na Ilíada ou na Odisseia, bem como na Teogonia, de Hesíodo, mas que ganharam autonomia e grandiosidade, em particular nas mãos de Sófocles, Ésquilo e Eurípedes, o alto teatro trágico grego.
Nossas elaborações se baseiam, em regra, nos meus rascunhos de resumos e análises do início dos anos 90, uma época em que, no meio da confusão ideológica da queda do muro de Berlim, me voltei completamente aos estudos dos clássicos, inclusive, ler o próprio Marx, um grande conhecedor da cultura grega, bem como dos grandes clássicos da humanidade. Foi uma grande viagem ao humano, iniciada na Grécia antiga, berço da cultura ocidental. A sequência, tenham certeza, não é aleatória, é proposital, a radical exposição de Prometeu preso nos rochedos, torturado pela águia de Zeus.
As lições do enfrentamento do autoritarismo de Zeus, feita pelo seu tio e ex-aliado, Prometeu, é uma das mais belas páginas da literatura, infelizmente apenas o primeiro texto da trilogia chegou até nós.
O ciclo tebano, ou a maldição dos labdacidas, foi objeto de amplo estudo, que postei em momentos diferentes, mas que demonstram toda a força, daquela que é considerada a mais terrível de todas as tragédias, iniciada com Édipo Rei. Procurei ir além do lugar comum de ver na tragédia de Édipo, apenas o aspecto do incesto, pois é muito mais profundo o tema, as conotações não se limitam ao tema-tabu, percorrem o conceito de Metron(Medida), dos crimes de sangue, que posteriormente ouvimos falar como “pecado original”. Parte da desobediência a um ditame dos deuses, aprofunda-se já no caráter moralista da condenação da pederastia praticada por Laio, terminando com a condenação cabal às relações entre pessoas do mesmo núcleo familiar.
Falta para completar este ciclo, Édipo em Colono, que em breve publicarei, mas trouxe uma das obras pouco conhecidas do grande público, os Sete contra Tebas. Fechando com a grande tragédia Antígone, em que o tema da Liberdade e desobediência é punida com a morte, o édito, agora, não é a vontade divina, mas sim a estatal, do poder do homem, e a força do Estado.
A Orestia, ou trilogia de Orestes (Ésquilo), cujo tema central são os crimes de sangue, que deveria ser punido de geração a geração, era exigido que cada um que cometesse tais crimes fossem vingados pelos descendentes, uma sequência que não acabaria, sendo sempre alimentada a cada geração sem se conseguir a “paz social”. Outro tema corrente é a questão do matriarcado que será definitivamente derrotado, com a não punição do assassinato de Clitemnestra, por seu filho Orestes. Aqui se impõe a força do Estado, do desejo patriarcal vencedor.
A força da tragédia de Orestes foi reinterpretada de forma ainda mais bela por Eurípedes com Electra, que ainda não fiz o resumo, que também é objeto de futuro artigo, demonstrando que o tema jamais se esgota.
Varias outra grandes tragédias procurei trazer ao blog para apreciarmos a força e a intensidade daqueles homens, que vivendo numa sociedade com baixo desenvolvimento científico, escreveram e imaginaram um mundo tão rico. Hipólito trata da questão da fé, da castidade, o repúdio do amor espúrio, a vingança da deusa do amor que não admite ser rejeitada. Ájax é o maior forte dos gregos, depois de Aquiles, seu natural sucessor, quando morre, mas os ardis de Odisseus, o priva de possuir as armas do herói, hybris transborda em toda sua força e energia.
Por fim Alcestes, em que o amor da mulher ao seu companheiro fala mais alto, se sacrifica por ele, o grane Herói Herácles(Hércules), comovido com a sorte funesta e devida a grande amizade socorre o amigo. Há de se notar, que não falei aqui, sobre Medeia, mas como tratem como um tema amplo no mito de Jasão e os Argonautas, no futuro roteiro sobre Mitologia, falarei dela.
Tem muita a fazer, mas espero que com estes roteiros conheçam não apenas meus posts mais antigos, mas se encorajem a ler ou reler os textos clássicos, que nos ajudam a compreendermos o que somos, de onde viemos, quais nossas forças e fraquezas, não importando a época que vivemos.
Muito bacana esse artigo! Estava pesquisando Prometeu Acorrentado e descobri esse estudo, que ma ajudou a compreender a simbologia contida nesse mito. Compreendi que estamos todos buscando a autolibertação das nossas correntes intimas e exteriores e isso me enriquece significativamente! Agradeço o trabalho postado!
Felomena Maria Scarpati
Olá, Arnobio!
Veio a calhar!
Hoje apresento seminário sobre Antígone!
Abraços
Elaine