“Invoco ainda o deus da tiara de ouro,
epônimo deste país,
Baco dos evoés, de rosto tinto de vinhaço,
para que, sem seu cortejo das Mênades,
avance em nosso socorro, com sua tocha ardente,
contra o deus que entre os deuses ninguém adora”
(Édipo Rei – Sófocles)
Consoante Junito de Sousa Brandão, “Mana é uma palavra melanésia e corresponde mais ou menos ao que os gregos denominavam energia, uma “força em ação”. Pode-se conceituar mana como uma energia, uma força impessoal cósmica circulante e suscetível de ser captada e utilizada pelo homem”.
Decorrente desse raciocínio, algumas pessoas têm Mana em abundância, o que lhes confere dons especiais, poderes extrassensoriais e sensibilidade aguçada, inteligência incomum e capacidade de liderar. As divindades têm Mana como dom superlativo, o que impede um humano a ter um contato direto com um deus, pois não resistiria a sua plena aparição.
Os deuses (gregos, egípcios, indo-europeus) se comunicam ou se apresentam aos humanos através de sonhos ou sob formas especiais, hierofânicas, a manifestação do Sagrado. Zeus se transforma em cisne para amar Leda, em forma de chuva se transmuta e engravida Dânae.
Apaixonado por Sêmele, Zeus a possuí e ela engravida do segundo Dioniso. Sêmele, depois do sexo, momento em que deuses e homens, são vencidos pelo cansaço, faz Zeus jurar pelo Estige de lhe concederia um desejo. Quando acorda, sob juramento, ela pede que ele lhe apareça plenamente, pois não tem certeza de que ele é Zeus.
O deus tenta lhe demover da ideia, mas “preso por um juramento, se lhe apresentasse em forma epifânica, isto é, em toda sua majestade de deus dos raios e dos trovões”. O palácio de Sêmele pega fogo e ela é carbonizada, Zeus tira o feto do seu ventre, e o gesta em sua coxa, nascendo, assim, o segundo Dioniso.
Dessarte, a forma puro de um deus, não é permitida ao mortal, sua experiência com o divino, o sagrado, é feita por formas intermediárias, pois a superioridade, o Mana divino, ao se mostrar ao ser humano, ele não resistirá.
Nesses dias, li sobre o caso da jovem senhora que fez sexo com o senhor em situação de rua, que flagrados pelo marido, ela disse que viu “deus no mendigo”, o que parece uma piada, ou uma desculpa fora do comum, talvez haja sim, uma explicação de razão psicológica, do aflorado desejo sexual repentino pelo desconhecido, para além do preconceito contra ela, ou por ele viver em situação de rua.
A vida é cheia de mistérios.
PS: No mito órfico, Sêmele, engravida ao comer o coração “vivo” de Zagreu, o primeiro Dioniso.