Esse blog só existe e sobreviveu porque a Marinilda Carvalho um dia me encontrou no Twitter, em 2010 e nunca me largou.

Ela insistia para que continuasse a escrever, que revisasse os textos, que transformasse artigos em livros, que tivesse mais cuidado com os temas, que linha deveria seguir, corrigia, mudava frases, reclamava, comentava, e publicou e prefaciou meu livro, Crise Dois Ponto Zero: A Taxa de Lucro Reloaded.

Marinilda Carvalho era uma jornalista que no final dos anos 60 saiu da redação do Jornal do Brasil direto para o curso de formação de quadro do PCUS, em Moscou. Com 22 anos, ela estava na escola de quadros convivendo com militantes comunistas de todo mundo, em plena ditadura no Brasil, seus pais achavam que ela morava em Paris, lhe escreviam cartas e recebiam suas cartas para um endereço do partido na cidade.

Marinilda era extremamente inteligente, em 6 meses aprendeu russo fluentemente e para o Cinema da URSS, fazendo letreiros em russo de filmes em inglês, francês e português. Ficou dois anos estudando marxismo e, segundo me contou, conhecendo pessoas de todas as partes, sendo feliz como nunca, numa trajetória que parece de cinema.

Ao voltar para o Brasil, “caiu” e foi presa, torturada barbaramente, no DOI-CODI da rua Tutóia, em São Paulo. Ela trabalhava na Veja como revisora e apanhou muito. Seu torturador dizia: “vou destruir sua alma comunista, você nunca mais vai falar russo, sua filha da puta”. O que efetivamente aconteceu, por décadas, ela “esqueceu” o idioma.

Nossos primeiros encontros se deram no portal experimental “Teia Livre“, nas eleições de 2010 até meados de 2011, nos aproximou muito, todos os dias no falávamos, de manhã, tarde e noite, ela era organizadora das pautas, da seleção de artigos, das correções gerais e arrumava tempo para arrumar meu blog, com tanto amor, que me comovia.

Todas as questões que precisava resolver, compra de celular, trocar planos e de operadora, ela me pedia para fazer, uma relação filial, de muito amor, carinho e de grande cumplicidade política, de opiniões sobre livros, filmes, séries e futebol, que ela tanto amava.

Marinilda veio algumas vezes a São Paulo, para nossas confraternizações, abraços, conversas sem fim. Ou as minha idas ao Rio de Janeiro, que nos encontramos numa noite incrível, ela, Lufeba, Jorge Rodrigues e eu, em que ela nos contou os detalhes acima de sua vida, sobre Moscou e morreu de chorar ao voltar a falar russo, ela falava e chorava, como uma libertação.

Marinilda e Lufeba eram meus “velhinhos”, meu coração sangra a perda deles, em menos de um ano. Em setembro, Lufeba, hoje (02.06) a minha amada camarada, serei eternamente seu comunistinha, era muito amor envolvido, uma dor no peito por ela, nossas milhares de interações no Twitter, nossas DMs, as centenas de comentários dela no meu blog.

Muito obrigado, Marizinha, te amo para sempre!!!

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