2593: O Estado é o Mal do Mundo?

A agressão à Marina Silva mostra o verdadeiro embate sobre o Estado!

 

“O Estado não é pois, de modo algum, um poder que se impôs à sociedade de fora para dentro; tampouco é “a realidade da ideia moral”, nem “a imagem e a realidade da razão”, como afirma Hegel. É antes um produto da sociedade, quando esta chega a um determinado grau de desenvolvimento; é a confissão de que essa sociedade se enredou numa irremediável contradição com ela própria e está dividida por antagonismos irreconciliáveis que não consegue conjurar. Mas para que esses antagonismos, essas classes com interesses econômicos colidentes não se devorem e não consumam a sociedade numa luta estéril, faz-se necessário um poder colocado aparentemente por cima da sociedade, chamado a amortecer o choque e a mantê-lo dentro dos limites da “ordem”. Este poder, nascido da sociedade, mas posto acima dela se distanciando cada vez mais, é o Estado”. (A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado- Friedrich Engels)

Esse velho e potente conceito sobre o que é o Estado, ainda do século XIX, trazido por Engels em diálogo com Marx seu parceiro das grandes elaborações, deve ajudar as reflexões do presente, em que o Estado é posto em xeque, sua razão de existir e seus fundamentos fundantes, a atual tendência destrutiva (disruptiva), não por forças de emancipação (socialistas) da sociedade e e pelo fim da sociedade de classe, mas, por dentro, por uma formação política anti-humana, de barbárie social, econômica e política, como poucas vezes vista na história da humanidade e civilização.

A tentativa de desconstrução do Estado, no estágio atual de ser o de Estado de Direito, ou da “república democrática — a mais elevada das formas de Estado” (Engels), que mesmo tendo sido questionado por liberais, neoliberais, que sempre questionaram a “intervenção estatal contra as liberdades (econômicas, em regra)”, nessa nova onda conhecida como ultraliberal, promete a destruição, ou no mínimo a redução quase que total do que se conhecia como Estado. A ruptura radical ou a redução radical do Estado à poucos aspectos, quase que exclusivamente como força de repressão contra a maioria da sociedade (de classes).

A onda ultraliberal conjuga vários elementos de revolta e de questões que são pertinentes, entre elas a crise de representação política, o engessamento da participação popular, a incapacidade de mudanças perceptíveis por eleições com partidos cada vez mais iguais em programas e formas de governar, a corrupção endêmica, a falta de respostas ao desemprego, às condições de vida e falta de perspectiva de futuro, os problemas do meio ambiente, de saúde, educação, moradia, fluxo migratório, guerras, xenofobia, questões religiosas, diversidade e desigualdades raciais e regionais.

Essa gama de temas e graves problemas somados à grande crise de 2008, sem respostas adequadas, são usados pela ultradireita para golpear o Estado, ser contra “tudo que está aí” e em nome de uma Liberdade (econômica), ao mesmo tempo de profundo obscurantismo civilizatório, como se a crise geral fosse pelo estado de coisas da modernidade decadente de costumes e de decadência moral (algo assim). Esse caldo de cultura foi bem cozido pelo poder indescritível da redes sociais, seus algoritmos, que captam e capturam ideologicamente a imensa maioria de quase todo o planeta.

O uso das redes sociais para desmoralização da instituições de Estado e de seus representantes foram muito além do “escracho”, virou uma arma letal contra a Democracia (burguesa), contra o Estado de Direito, os pilares e valores civilizatórios, os políticos de extrema-direita usam de métodos autoritários e intimidatórios contra não apenas a Esquerda, mas todos aqueles que lhes façam frente. Os exemplos abundam em todo o mundo, aqui no Brasil, a criminalização do Presidente Lula, os ataques e ameaças (até dos EUA) ao Ministro Alexandre de Moraes, por último o asqueroso ataque à Ministra Marina Silva, que misturou todos os atributos de machismo, misoginia e racismo.

Aliás, a criminalização da política obviamente é seletiva e voltada aos que defendem a Democracia mesmo na forma burguesa e é feita pela mídia corporativa e ganhou amplitude nas redes sociais, sem nenhum controle.

Por fim, esse semi-Estado, a chamada pós democracia é um envelope de uma construção autoritária e autocrática, comandada pela fusão de capital financeiro (especulador) com as Big Techs com políticos e grupos extremistas radicais, a conquista do Poder Político, é um sinal de retrocesso e de miséria dos trabalhadores/as e do povo em geral. Esse Estado mínimo e de repressão máxima vai fazer eclodir novas guerras gerais, regionais e híbridas, que pode levar a destruição da experiência humana sob a Terra.

É esse o mundo novo?

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Author: admin

Nascido em Bela Cruz (Ceará - Brasil), moro em São Paulo (São Paulo - Brasil) e Brasília (DF - Brasil) Advogado e Técnico em Telecomunicações. Autor do Livro - Crise 2.0: A Taxa de Lucro Reloaded.

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