Ainda me lembro das aulas de história, lá nas séries iniciais,  em que o professor perguntava:“Quem descobriu o Brasil?”, a garotada respondia em coro: “Pedro Álvares Cabral”. Era o decoreba básico, fazendo sentido ou não, respondíamos entusiasmados. Mas como alguém descobre um país tão grande? Vindo de tão longe, aporta, faz uma missa, declara que aquela terra foi “achada” por ele, na famosa missiva sobre a nova conquista, em que diz tratar-se de uma terra “em que plantando tudo dar”.

Antigamente, era uma semana cheia de feriados e simbolismo, dia 19 de abril, dia do índio, dia 21, de Tiradentes e em 22, o descobrimento do Brasil. Já na quinta série começou o enrosco, uma pergunta incomoda, que o professor Biel não respondeu: “Se Pedro Álvares Cabral descobriu o Brasil, de onde vieram aqueles “índios”?”. Lembro que a molecada ficou de gozação, os “índios” estavam aqui, mas eles não contam, pois foram aqueles homens brancos que descobriram o país, eles que fizeram a história.

Os tais “descobridores”, acreditando ou não, que buscavam um caminho seguro para as índias, interrompido pela tomada de Constantinopla pelos Turcos, não restando saída para Europa, que não fosse pelo mar. Espanha e Portugal, pequenos reinos, mas muito bem localizados, desenvolveram ótimas escolas de navegação, mas uma tese de que se viajassem para o oriente chegariam mais rápido e seguro as índias, ao invés de circundar a perigosa costa africana, levou primeiro à América Central, com Cristovão Colombo. Depois chegaram à foz do rio Amazonas, antes de 1500.

Simbolicamente Pedro Álvares Cabral descobriu o Brasil, sua expedição que rumava para Índias seguindo a rota de Vasco da Gama, se afastou longamente da costa africana até aportar na Bahia, que deu o nome de Vera Cruz. Virou um ponto “acidental” uma grande ilha no percurso desejado. A verdadeira expedição de reconhecimento da tal descoberta só aconteceu em 1532, com Martim Afonso de Souza, que se estabeleceu em São Vicente, no hoje estado de São Paulo. A pilhagem terrível se deu em seguida.

A pergunta continua atual: O que descobriram? Os verdadeiros descobridores das Américas continuaram escondidos? Recentemente, no Piauí, se concluiu que havia presença humana há pelo menos 22 mil anos, ou seja, nossas verdadeiras origens não chegaram nas caravelas, apenas a “civilização” dos bárbaros europeus aportaram para arrancar o que havia aqui, ceifando vidas, histórias e riquezas. Nada há a comemorar. Esta mesma elite, ainda hoje, vive do sonho de voltar para Europa, pois, remotamente, vive aqui, com os mesmo valores de antanho.

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