A semana passada na série Crise 2.0, foi francesa, todos os olhos e atenção estavam colados na importantíssima vitória dos socialista, trazendo uma perspectiva, no mínimo, diferente, ao atual ritmo fúnebre da Europa. Esta semana já foi bem diferente, e poderia dizer que o centro da Crise se voltou de vez para a Alemanha, conseguimos demonstrar em dois longos posts como a dinâmica da crise tem como epicentro a poderosa economia alemã. Que cumpre, assim, o papel determinante, sugando os demais e espalhando terror e medo aos demais passeiros.
Glória Alemã
A situação da Zona do Euro, em particular pela política econômica imposta pela Alemanha gerou para si uma grande riqueza, em contraposição os países mais periféricos estão mergulhados no caos. Separemos assim as questões:
Estes três post foram centrais para demonstrar de forma definitiva os passos da Alemanha rumo ao topo e poder total sobre a UE, em especial à Zona do Euro, com um pequeno adendo e contradição interna, Merkel, que simboliza este momento atual, perdeu uma importante eleição no mais rico e forte e estado alemão, a Vestfália. Mas, por outro lado, não custa lembrar que este poderio e política teve o maior incremento com os Sociais-Democratas do SPD, de Schroeder, ali se gesta a reforma interna do país e o amplo processo de superávits comerciais do país, frente à UE.
Os números e gráficos do post Crise 2.0: Alemanha, Esmaga a UE, recomendo uma especial leitura e reflexão, pois aqui conseguimos trazer para ordem prática como se desdobrou estes 12 anos de moeda única, como evoluiu o domínio e poder da Alemanha sobre a UE. As relações comercias, lastradas numa moeda forte, que parecia ser o passaporte ideal de igualdade entre países de padrão produtivo tão diferentes, se mostrou o verdadeiro desastre. Enquanto houve dinheiro fácil para se captar, tudo corria bem, mas o mal, já estava ali carregado.
Caos Grego, Espanhol
A Alemanha, assim como Zeus, cuidadosamente encheu a Caixa de Pandora, juntando ali todos os males, deu de presente a Epitemeu, aqui usemos a Grécia, já que ele é grego, de presente. As festas e faustos foram muito apreciados, comeu, bebeu à vontade, nada parecia ter fim. Mas dentro daquela caixa, tudo estava pronto, um desavisado, como Epimeteu jamais perceberia o que estava porvir. A Crise apenas liberou toda sorte de males, foi aberta a “Caixa de Pandora”.
As desgraças do lado grego, sem mais a alegoria mitológica foram expostas aqui:
A resistência que o povo encontrou foi virar as costas para todos os políticos que defenderam os ajustes impostos pela Alemanha via Troika. Outra reação são os saques permanentes dos Euros das contas bancárias, provocando mais crise no já abalado sistema bancário grego. Apenas em 3 dias desta semana houve retirada de 1,2 bilhões de Euros, causando pavor nas autoridades do país, que se vê sem governo, sem dinheiro e sem crédito, em síntese um caos.
Há estudos que preparam a saída da Grécia da Zona do Euro e adoção do Dracma, o prejuízo será equivalente à quebra do Lehman Brothers, as cifras vão de 300 bilhões à 1 trilhão de Euros. Um estudo encomendado por David Cameron chegou a conclusão que se a saída grega for bem controlada, o prejuízo será de 300 bilhões. Entretanto, se houver descontrole, corrida aos bancos, por exemplo, a queda será de 1 trilhão. O que nos parece, que o segundo cenário é o mais provável, pelo menos foi o que se viu esta semana. Como diz a matéria do Estadão de hoje:
“Em discurso nesta quinta-feira, em Manchester, Cameron fez um apelo para que os líderes europeus cheguem a um acordo que permita à Grécia seguir com a moeda única. Para ele, a União Europeia está “no limite”. “Seus dirigentes devem se entender e enfrentar um possível esfacelamento. A sobrevivência da zona do euro está em questão.” Para o premiê, a crise envolve a todos, inclusive os países que, como o Reino Unido, não aderiram à moeda única”.
Extrapolemos à questão grega, pois na Espanha houve o mesmo movimento de saques generalizados numa única instituição, que foi estatizada semana passada, o Bankia, a quarta instituição bancária do país. Em apenas um dia, devido aos boatos houve saque de 1,3 bilhões de Euros, em 10 dias as ações dela caíram quase 60%, houve recuperação hoje, chegou a subir 30%, mas estabilizou numa alta de 18%, mas o saldo líquido é de cerca de menos 40%. O falido governo espanhol torrou 10 bilhões de Euros para assumir o controle do Bankia, mesmo na crise aguda, se salva os banqueiros.
A imensa contradição espanhola é que o PP, partido de direita, busca apoio no parlamento para impor um ajuste de 10 bilhões em cortes na Saúde e Educação, sozinho o PP aprovará, mas quer dividir a conta. Num instrutivo debate entre o Ministro da Educação e um parlamentar do PSOE, aquele disse que sentia muito em ter que cortar, não era o que estava no nosso plano de governo. O parlamentar retruca, mas mandar 40 mil professores para rua? cinicamente o ministro responde: ah, mas eles são temporários. Os trabalhadores vistos como temporários, mas mesmo assim se salva um banqueiros Eterno.
O governo da Direita espanhola enfrenta a crise com uma obediência cega aos ditames da Troika, mas percebe que a situação apenas piora, hoje no El País um longa matéria diz que Rajoy busca um encontro urgente com Hollande e Merkel para que ambos sensibilizem o BCE a ajudar a Espanha: “O Governo espanhol tem um objetivo que não pode se confessar em público, mas que não pára de trabalhar no privado, especialmente através do Escritório de Rajoy, que fala duas v
ezes por semana com a equipe de Merkel, o Ministério das Finanças em seu negociações em Bruxelas e fabricantes estrangeiros. Esse objetivo é fazer com que o BCE a dar liquidez aos bancos e comprar dívida espanhola. É assim em palavras cautelosas de Rajoy, torna-se “enviar uma mensagem clara de apoio ao euro”.(El País, 18/05/2012)
Eis a maior contradição na Espanha, como também foi assim na Grécia. O ajuste é questão de prioridade, o povo um mero detalhe.