Arnobio Rocha Crise 2.0 Crise 2.0: Alemanha, Esmaga a UE

376: Crise 2.0: Alemanha, Esmaga a UE

 

Alemanha Esmaga o Euro

 

O desafio maior desta série, que denomino de Crise 2.0, é conseguir tempo para ler e compilar informações e dados, que brotam aos montes, principalmente nos jornais e revistas da Europa e EUA. Aqui no Brasil, o Estadão é que faz uma cobertura descente, tanto traduzindo textos como seus colunistas escrevendo e analisando os fatos e desdobramentos desta grande Crise. Aqui devemos separar o aspecto ideológico, mesmo discordando da maioria deles, as informações que nos dão são preciosas e podemos/devemos usar para outros fins mais nobres.

 

Os colunistas que mais aparecem aqui são Celso Ming e responsável pelo “Radar Econômico”, Silvio Guedes Crespo, cada um a sua maneira me ajudam enormemente, com seus artigos analíticos(Ming) ou com as traduções/ compilações(Sílvio), como sempre faço pego os trechos mais interessantes e informativos, reproduzo aqui e tento analisar, com todos meus limites teóricos, numa visão marxista e de classe. É certo que dá muito trabalho de ler/entender, com rigor, sem cair no copiar/Colar, tão em voga, principalmente por ser feito em intervalos de trabalho ou em casa, sem esquema profissional.

 

Hoje no final da tarde a coluna Radar Econômico, do Estadão, trouxe um conjunto de gráficos recolhidos e compilados por seu editor,  Sílvio Guedes, que são uma pequena preciosidade, que me deixou muito feliz, pois trabalhando com fontes diversas chegara a conclusão sobre como a Alemanha de “apossara” da Zona do Euro, intuía politicamente e até, com alguma referência econômica, mas não tinha os números que dessem prova cabal ao que sempre venho escrevendo. Agora com este artigo do Sílvio Guedes, a equação fechou com exatidão. Vou reproduzi-los e trazer comentário dele, acrescentado os meus.

 

A transfusão de Sangue: da UE para Alemanha

 

Desde a entrada em circulação do Euro, em 1999, até 2010 a Alemanha teve um superávit comercial de 1 trilhão de Euros com seus parceiros de Mercado comum, como observa Sílvio Guedes : “O número indica que a nação germânica foi a mais beneficiada pela moeda comum no comércio exterior, em valores absolutos.

Em 1998, quando os alemães ainda usavam o marco, seu superávit comercial junto às nações que mais tarde adotariam o euro era de apenas US$ 29 bilhões. Em 2008, já com a divisa comum, o saldo atingiu US$ 177 bilhões, número sete vezes maior. O valor caiu a partir de 2009 por causa da crise originada nos Estados Unidos, mas ainda assim permaneceu bem acima do nível verificado nos tempos do marco, como mostra o gráfico abaixo”.

 

OCDE/Estadão

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Nesta semana,15/05, tinha escrito um artigo ( Crise 2.0:UE cai, Alemanha sobe) sobre os números do PIB da Zona do Euro em que concluí assim: “A lógica é perversa e simples, a quebradeira geral alimenta os músculos da economia alemã, uma transfusão de sangue aos contrário dos corpos doentes para o corpo forte. A exigência de mais sacrifícios está em linha com a política da Alemanha, quanto maior, sobra mais dinheiro para que as exportações e os bancos alemães recebem mais capital”.

 

O Gráfico acima do comércio exterior dá a exata medida de como funcionou o comércio na Zona do Euro, ao invés de solidariedade o que tem é concentração. Mas é preciso entender a lógica interna destes números, os bancos da Alemanha, emprestaram fortemente aos países, agora endividados, estes com este dinheiro ia à Alemanha comprar seus produtos, o que hoje Merkel clama de não emprestar para não financiar o “consumo” era exatamente isto que sempre fez, o crescimento era alemão, em detrimento dos demais.

Aqui nos ajuda, novamente , Sílvio Guedes: “Não por mera coincidência, a escalada das exportações alemãs ocorreu principalmente em cima de países que mais tarde se tornaram o foco da crise europeia. De 1998 a 2008, o superávit comercial da Alemanha com a Espanha aumentou 11 vezes; com a Itália, 8,6 vezes; com Portugal, 7 vezes; com a Grécia, 3,5.

Somente em cima da Espanha, a Alemanha ganhou US$ 270 bilhões no comércio de bens de 1999 a 2010. Sobre a França, os alemães acumularam um saldo de US$ 328 bilhões (No entanto, os franceses são a segunda maior economia da zona do euro e por isso não sentiram tanto essa perda.) Abaixo, quanto a Alemanha ganhou em superávit comercial com outros países da zona do euro, de 1999 a 2010″.

 

OCDE/ Estadão

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Vejamos que a lógica fecha, os empréstimos abundantes, juros baixos, os países recebiam e gastavam por conta, principalmente na Alemanha, que saía do buraco com a fusão com o lado oriental, que lhe fez gastar 1, 3 trilhões, mas ganhou 40% de território e uma população instruída de 16 milhões de pessoas, um grande “negócio”. Sílvio ainda observa bem o fundamento da lógica alemã: “Não é à toa, portanto, que a Alemanha não defendeu, até agora, a saída de nenhum país da zona do euro. Isso só ocorrerá se a situação ficar insustentável, ou seja, se o país achar que o que ele ganha no comércio exterior não compensa o que perde no caso de ser contaminado por uma crise financeira originada nos seus vizinhos”.

 

Austeridade x Crescimento?


A relação da dívida vs PIB, tant
as vezes analisadas por nós, agora com um gráfico demonstra o comportamento dos países desde a  introdução do eixo, como diz Sílvio Guedes: Os dados mostram por que a austeridade fiscal, sozinha, não salva nenhum país da crise do euro. A Espanha, por exemplo, mantinha suas contas públicas em ordem desde a criação da moeda europeia. Na verdade, a partir de 2002 tornou-se mais prudente até do que a Alemanha. Foi somente em 2008, após a crise dos Estados Unidos, que a Espanha descambou.

 

 

FMI/ Estadão

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Percebam que o caminho de cada país e suas relações comerciais com a poderosa Alemanha está ligada diretamente aos deficits que cada apresenta da relação desequilibrada, mas mais ainda quando se verá no próximo gráfico o saldo/ defícit em contas correntes entre as economias, aqui definitivamente prova que a Alemanha funciona como um sugador brutal das demais economias, diante do risco de calote, ela impõe que os Estados se apertem para pagar suas dívidas, que por mera coincidência é com os bancos alemães em primeiro lugar.

 

O Poderio alemão foi amplamente reforçado com a adoção do Euro,  os países com moedas locais não puderam mais, quando em crise se desvalorizar, virou uma pressão de se viver sob a égide de uma potência com alta produtividade, capacidade econômica e poder de atração de novos capitais, canalizando assim todos os principais recursos para Alemanha. O gráfico aponta exatamente isto:

 

FMI / Estadão

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Como analisa corretamente Sílvio Guedes:  A criação da zona do euro colocou na mesma arena economias completamente desiguais. Enquanto existiam moedas diferentes, a taxa de câmbio ajudava os mais fracos a manter algum grau de competitividade. Quando a Espanha começava a importar muito da Alemanha, a peseta se desvalorizava em relação ao marco. Com isso, os produtos alemães ficavam mais caros para os consumidores espanhóis, de modo que estes passavam a importar menos.

Com o euro, no entanto, os espanhóis, entre outros europeus da periferia, continuavam com poder de compra alto mesmo enquanto sua indústria perdia espaço para as empresas alemãs. Tanto as empresas como os consumidores de países periféricos conseguiam tomar dinheiro emprestado facilmente no mercado, com as taxas relativamente baixas determinadas pelo Banco Central Europeu. Isso mantinha a produção e o consumo em um ritmo razoável, sustentando o Produto Interno Bruto.

 

A introdução do Euro fez crescer mais ainda as diferenças, mas enquanto havia dinheiro a rodo tudo ia bem, sem preocupações, mas quando veio 2008, as torneiras se fecharam, aí a “‘maionese desandou”, os países mais endividados se afundaram, não perceberam o tamanho do abismo, como diz Sílvio a seguir: “Mas quando os bancos pararam de emprestar, as companhias ficaram com dificuldade para rolar a dívida. Ainda, o financiamento imobiliário caiu, derrubando os preços dos imóveis e revelando o estouro de uma bolha.

O governo espanhol, até então disciplinado e austero, teve que escolher entre deixar o mercado se equilibrar por si só – com todas as consequências sociais previsíveis e imprevisíveis – ou abrir os cofres públicos. Optou por injetar 146 bilhões de euros no mercado financeiro, arcar com o aumento de gastos sociais – por exemplo, para suprir o aumento da demanda por auxílio-desemprego – e ainda lançar pacotes para estimular a economia.

Com isso, o governo da Espanha, que em 2007 gastava menos do que arrecadava, em 2009 desembolsou 117 bilhões de euros a mais do que arrecadou. Isso fez as contas públicas do país piorarem, gerando medo, nos mercados, de um calote na dívida do Estado. A consequência é que os investidores passaram a cobrar juros mais altos para emprestar à Espanha, tornado ainda mais difícil, para o país, rolar sua dívida”.

 

A política restritiva da Alemanha está em linha com suas perspectivas, mas frontalmente contra os demais países, dificilmente se terá uma saída razoável, sem que a Alemanha abra mão deste poder coercitivo, os números acima demonstram o quanto ela lucrou, o quanto foi beneficiária de todo o boom, por que agora não quer dividir o bolo? Ao contrário, quer retirar mais e mais dos países francamente depenados, pode ter solução pacífica diante de tanta imposição e arrogância?

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0 thoughts on “376: Crise 2.0: Alemanha, Esmaga a UE”

  1. Prezado Arnóbio
    Há um equívoco flagrante no título deste artigo. Deveria ser:”A Alemanha de Angela Merkel esmaga a Europa e os … ALEMÃES”. Não foi à-tôa que o partido governista boche teve desempenho “piriquitante” (Viva o Mendonça!) nas últimas eleições regionais germânicas.
    Abraço
    Castor

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