
Os filósofos têm apenas interpretado o mundo de maneiras diferentes; a questão, porém, é transformá-lo. (11ª tese de Marx sobre Feuerbach)
O bizarro do (falso) debate (pois ele não há) sobre não se ter Comunicação, do governo ou da Esquerda, e uma culpa religiosa de falta de conhecimentos sobre o funcionamento das redes sociais, dos algoritmos, da IA. O arrancar de cabelos com as pesquisas, ou o massacre diário que levamos na internet e na mídia corporativa, exige reflexões e alguma dose de ouvidos apurados para começarmos a mudar, se é que queremos mudar.
Perdemos o eixo (POLÍTICO e IDELÓGICO), como dizia Suplicy (em 1986), que fique claro que esse texto não é uma cobrança moral, nem apontar dedo para ninguém, é uma pequena contribuição para sairmos do atoleiro e vem de quem tem uma certa militância política e conhecimentos em tecnologia de algumas décadas.
Uma primeira constatação é que talvez o significado de militância política para a maioria de nós passou apenas ser apenas o ato de votar, eventualmente, ir à comícios (se não tiver muito sol, ou chuva), o tesão pelas mudanças e pelas ruas (e redes) nos tomaram, especialmente depois de 2013. Há um peso gigante de 1989 sob nós, quase todos de minha geração, como há uma questão geracional, idade, cansaço e sentimento de que a solidariedade militante morreu.
O aparelho de estado nos consumiu, a máquina nos devorou, cargos, posições, hierarquias, uma acomodação ao sedutor e enganoso “poder”, não o real, que é a economia, mas sua superestrutura, Estado, Governo (cada dia com menos poder).
Não sabemos o que é militância, aí culpamos as redes sociais, ou a interação dentro delas, sua dinâmica. Uma vez num debate (no Twitter) com um intelectual de esquerda, em 2010, ele veio me dizer que não retuitava ou não interagia porque não sabia como fazer, mas o engraçado era que ele sabia interagir com os capas pretas, os “grandões”, mas não com os “pequenos”.
Nossos Capas seguem 2,10, 200 pessoas e têm interação ZERO, não conversam, não compartilham, são oráculos para seguidores, como vão entender as redes sociais se elas exigem horizontalidade interação, especialmente para nós que viemos de uma tradição de debates de conversas partidárias e sindicais? E com esse pessoal que quer ouvir, receber um afago “virtual”, mas você só segue os “iguais”, nem para disfarçar.
Parece indigno um iluminado elogiar um texto de um/a desconhecido/a, compartilhar então? Sseria uma tortura, depois não entendem porque não “bombam” nas redes, não têm milhões de acessos ou “likes”, não fazem o básico, o Bê-á-bá das redes, aí vêm com a desculpa esfarrapada de “somos analógicos”, isso valia para 2010, 15 anos depois é burrice e teimosia.
Leio elocubrações fantásticas (sem dizer nada com nada), mas com elogios supimpas porque era alguém “importante” que escreveu, pois amamos uma hierarquia política, intelectual, casta etc…Péssimo constatar isso, mas é fato, muitas vezes escrevemos o essencial sem firulas e não há nenhuma interação.
São exemplos simples, daí as pessoas cansam de seguir ou de curtir, esses figurões fazem redes pagas e sabem trazer as pessoas para serem público, não sabemos, porque nós somos politizados/as e odiamos verticalidade…Então esse meio é difícil, mas não é tão complicado assim, um pouco de vontade ajudaria muito.
É por aí.
PS: É chato dizer isso, mas não tem como não fazê-lo, quem se melindrar, desculpas antecipadas: Venho da área de engenharia de telecomunicações e TI, entrei na internet quando se chamava BBS (1994,95), vi nascer no Japão o primeiro “portal” de Web notícias (biglobe – 1996), o Uol veio ao mundo em 1997. Passei por todas as gerações e evoluções, tanto na infraestrutura quanto na camada (OSI) de Aplicações. Hardware/Software, Apps, algoritmos, 1G até 5G. Isso não é lattes, mas a questão é simples, sou um incompetente, nunca me procuraram para nada nesse campo. Isso diz muito sobre nós, não sobre mim e um monte de amigos que fiz que poderiam nos ajudar.