
“A questão de saber se ao pensamento humano pertence a verdade objetiva não é uma questão da teoria, mas uma questão prática. É na práxis que o ser humano tem de comprovar a verdade, isto é, a realidade e o poder, o carácter terreno do seu pensamento. A disputa sobre a realidade ou não realidade de um pensamento que se isola da práxis é uma questão puramente escolástica” (Teses sobre Feuerbach – Karl Marx)
O conceito de Realidade Objetiva, caso ainda me lembre de velhas lições de filosofia, é toda aquela que existe independente de si e apesar de si, à ela não cabe a interpretação pessoal, pois ela existe fora e independente da nossa consciência, de nossos conceitos e conhecimentos, cultura e compreensão do mundo, e mesmo de uma situação concreta.
Dela, da Realidade Objetiva, decorre a Verdade Objetiva, que conceitualmente, seria aquela que não depende de como interpretamos um fenômeno qualquer, quer seja ele social ou da natureza. E tem como critério de comprovação a prática, sendo essa a mediação entre consciência e teoria, apenas a práxis a reproduz para si para o mundo (interno e externo), que pode transformar uma realidade específica ou total.
Quando atuamos na vida real (fática e prática), na política e na filosofia, os nossos estágios de consciência (interpretação em interação com a realidade) muitas vezes nos levam à conflitos próprios da luta entre consciência e realidade, quando nos posicionamos (interpretamos) sobre um fenômeno, pode não coincidir sobre o que ele é, mais, pode ser inclusive o oposto.
Podemos expressar alguns princípios, como, por exemplo a defesa de Direitos Humanos, no entanto, a parcialidade ou incompletude do que sabemos sobre uma Realidade (objetiva), nos leva a, na prática, fazermos o oposto, tomarmos posições que são diametralmente oposta ao que pensamos e deveríamos agir de acordo como tal.
Alguns dos maiores dilemas humanos que nós militantes políticos enfrentamos, seria sobre a nossa capacidade de pensar/agir de forma coerente com a dada realidade concreta, não por uma questão abstrata, ou que nos leve à mera especulação, mas porque a ação, que é o móvel que leva da Filosofia (capacidade de análise) para Política.
Há enormes exemplos de assincronia entre pensamentos e ações, como também de compreensão da realidade (conjuntura econômica ou política) e dos seus desdobramentos fáticos, o que leva às forças de transformação da sociedade ao imobilismo/contemplação e que não faz avançar o mundo.
Há uma tentativa, em todas as épocas, de diluição dos conceitos e das categorias filosóficas, para criar um mundo que não se pode conhecer/interpretar, muito menos transformar. A pós-modernidade, a “modernidade líquida” que impediria um campo de ação (politica), para aceitação do mundo como é e nada se pode fazer, nem pequenas ou grandes mudanças.
Parte dessa ideia (ideologia e Hegemonia) vem dos modernos sistemas infocomputacionais que tornaria o mundo absolutamente incerto e em que a vida/práxis humana não se aplicaria mais a nenhum processo de enfretamento com o modelo do capitalismo e seu estágio atual de concentração, que criou um Poder Político e Ideológico como poucas vezes visto.
O Capital é hoje dominado por uma aristocracia digital (Big Techs) fundida ao capital financeiro (digital e especulativo), que se apoderou do Poder Político dos Estados “nacionais”, pois essas empresas rompem as fronteiras e as soberanias nacionais, especialmente a Soberania Digital. Essa realidade quase impede, objetivamente, a Democracia e a Política, não significando que se rompeu com a essência da Realidade Concreta, torna mais complexa.
“Os filósofos têm apenas interpretado o mundo de maneiras diferentes; a questão, porém, é transformá-lo”