Andar pelas ruas de Quioto e de Nara já vale a visita ao Japão. Quioto é minha cidade, ao chegar lá a primeira vez fui tomado pelo mesmo sentimento que tive quando conheci São Paulo. Voltei agora e o amor por suas ruas, vielas e templos, aumentou, é algo inexplicável, de identidade e emoção. Difícil foi voltar para Osaka, a saudade e o peito apertado.
No sábado, 25 de fevereiro, acordamos ainda de madrugada e aprontamos nossas malas, preparamos a volta a Tóquio, logo cedo. O dia amanheceu muito frio, mas com sol brilhando, perfeito para volta, principalmente porque passaríamos perto do Monte Fuji, com o céu claro, seria possível avistá-lo, era o que pensava o tempo todo e olhava nervoso o GPS do celular para não perder a visão.
Realmente demos muita sorte, começamos a avistar o maior símbolo da natureza do Japão em todo seu esplendor. A neve no topo como um véu torna mais linda a imagem, mesmo com a velocidade do shinkasen não atrapalhou aquele espetáculo. Perfeito, lindo, absolutamente arrebatador, de encher os olhos de lágrimas de tanta emoção de ver o Fuji-san. Foram minutos que serão guardados para sempre.
Chegamos em Tóquio por volta das 10:30 da manhã. Nosso novo hotel era próximo à estação de Shimbashi, mais ao sul da cidade, não muito longe do Palácio Imperial, do Hibiya Park, ao lado do charmoso bairro de Ginza. Deixamos as malas na portaria e fomos flanar pelas ruas da cidade. Fizemos uma longa caminhada.
Saíamos do hotel e fomos ao Hibiya Park, um belo parque de flores e com uma enorme concha acústica. Os banquinhos para sentar e admirar a paisagem, sem pressa. Naquele dia parte dele estava interditado, pois no dia seguinte teria a maratona internacional de Tóquio e a corrida começaria e terminaria justamente naquele local. Isolamento, monitoramento de segurança, não impediu o nosso passeio.
Logo ao lado do Hibiya Park fica o imenso complexo do Palácio Imperial, uma área gigantesca serve de moradia para família imperial japonesa. O que é uma contradição para uma cidade com tão poucos espaços, com os apartamentos apertados e as moradias amontoadas, ter algo tão desproporcional à realidade da cidade.
Anda-se por quilômetros por um jardim de pedras e árvores que parecem bonsais em tamanho ampliado, todos rigorosamente cortados iguais, o que dá uma impressão de infinito. Os portões são protegidos e a visão quase não alcança os prédios principais de um castelo medieval, amplo e com vários prédios menores.
Infelizmente o imperador não pode nos encontrar, aceitei as desculpas, mas faz parte, quem sabe na próxima viagem?
Dali partimos rumo ao bairro de Ropongi, passando pelo Domo, que é a sedo do parlamento japonês. Andamos por uma imensa avenida, que parecia não ter mais fim. Uma curiosidade é que o corredor central dessa avenida tinha um pedágio para seguir como se fosse um “sem parar”, num elevado horroroso, estilo minhocão, só que com três níveis de pistas. Nós, Luana e Eu, ali perdidos andando pela lateral delas.
Chegamos a Ropongi, mas como era sábado a tarde, os restaurantes e bares estavam quase todos fechados, ressaca da sexta e preparação da noitada do sábado. Seguimos um pouco mais até a Tóquio Tower, para observar a cidade a 340 metros de altura. É uma visão linda, pois a localização é bem central, se enxerga os limites da cidade.
Resolvemos voltar ao hotel para fazer o check in, depois fomos explorar os arredores de Shimbashi e Ginza. Entre o hotel e a estação de trem, não mais que 400 metros, várias ruelas esquisitas, com casas “estranhas” e restaurantes suspeitos. Um certo receio de ficar circulando por ali, mas fomos tranquilizados no hotel de que não tinha perigo, claro, desde que não entrássemos neles.
Do outro lado da estação fica Ginza, bairro rico, com suas lojas de grifes famosas, convivendo com esse lado B, aparentemente sem muitos problemas. Perto da estação há uma série de cafés, restaurantes e lojas de conveniências. Algumas vezes comemos ou lanchamos tranquilamente, mesmo a noite.
Textos anteriores: “Crônicas do Japão“, sobre 1996. Aqui já foram publicados, nessa nova fase, os textos: