“Angela Merkel (chanceler alemã) e a União Europeia jogam pôquer com as vidas dos europeus. Se a doença da austeridade destruir a Grécia, ela vai se espalhar para o resto da Europa.” (Alexis Tsipras – Líder da Esquerda Grega)
Ontem na série Crise 2.0 três posts dos mais importantes das últimas semanas, pois, de certa forma, organiza didaticamente os três elementos principais desta crise em geral e da questão do Euro em especial. Vale a pena, aos que acompanham estas elaborações cotidianamente notar que as definições políticas e econômicas, do velho continente, estão chegando no desfecho final, com estes posts teremos um balizamento claro dos motivos de ruptura,ou não.
Os três artigos estão intimamente ligados, mesmo quando parecem tratar de temas diferentes.
Durante a fase de introdução do Euro, um longo período de crescimento, principalmente de crédito abundante com taxas de juros irrisórias, montou-se uma armadilha letal aos países que aderiram ao Euro, sem o mesmo padrão produtivo ou desenvolvimento pelo menos próximo dos mais ricos. Tentou-se, artificialmente, uniformizar preços e salários na Zona do Euro para um relação “igual”. Em síntese se financiou amplamente o consumo de países, empresas e famílias, como se não houvesse amanhã, nem crises cíclicas.
As dívidas públicas e privadas tratadas no no primeiro artigo(Crise 2.0: A Dívida Privada), encontram seus números definitivos e com gráficos precisos no terceiro artigo(Crise 2.0: Alemanha, Esmaga a UE), os dois são confirmação de que a União Europeia, como foi montada pode se tornar um fiasco, pior ainda, com risco de se romper de forma violenta, devido a hegemonia da Alemanha. O nível de dependência é gritante e pode ser fatal, não apenas para os países com menor poder econômico, como Irlanda, Grécia ou Portugal, mas afeta gravemente os médios e grandes como Espanha e Itália. A própria França tem situação crítica de dependência com a Alemanha.
Como citei ontem a conclusão do Sílvio Guedes: “A criação da zona do euro colocou na mesma arena economias completamente desiguais. Enquanto existiam moedas diferentes, a taxa de câmbio ajudava os mais fracos a manter algum grau de competitividade. Quando a Espanha começava a importar muito da Alemanha, a peseta se desvalorizava em relação ao marco. Com isso, os produtos alemães ficavam mais caros para os consumidores espanhóis, de modo que estes passavam a importar menos.
Com o euro, no entanto, os espanhóis, entre outros europeus da periferia, continuavam com poder de compra alto mesmo enquanto sua indústria perdia espaço para as empresas alemãs. Tanto as empresas como os consumidores de países periféricos conseguiam tomar dinheiro emprestado facilmente no mercado, com as taxas relativamente baixas determinadas pelo Banco Central Europeu. Isso mantinha a produção e o consumo em um ritmo razoável, sustentando o Produto Interno Bruto”.
O caso grego é emblemático por que retrata de forma cruel a lógica de funcionamento da UE, a economia pequena foi atraída para Zona do Euro, com várias restrições na época, mas recebida com festas, boa parte porque através da fronteiras gregas se teria controle de entrada eficaz na própria Europa de hordas vindas do leste e do oriente médio. O país recebe grandes financiamentos, os seguidos governos corruptos usam de forma pródiga, fizeram gastos absurdos com as Olimpíadas, que foi um fracasso. Os banqueiros franceses e alemães faziam vistas grossas, pois o conjunto da UE pagaria o prejuízo.
Nenhum sinal concreto de alerta foi dado e gastança continuou sem maiores problemas, havia muito capital disponível que precisava ser realizado, sem parcimônia, a Grécia era um bom lugar para queimar. O advento da Crise dos Eua, trouxe para a Zona do Euro uma enorme turbulência, pois as linhas de créditos foram interrompidas, os bancos começaram apertar seus devedores, a conta foi apresentada, nem governo, nem empresas, muito menos as famílias tinham condições de saldar os débitos. As novas linhas de créditos vinha com juros altíssimos, uma ciranda que não dava mais para entrar.
Como tratei ontem no artigo sobre a agonia da Grécia que ela se tornou cronicamente inviável, o nível de pressão se tornou insuportável, sua exclusão da Zona do Euro parece inevitável, ontem disse que em apenas 2 dias houve uma correria aos com saques de mais de 700 milhões de Euros, a população correu para retirar a ‘moeda forte”, pois, a próxima, o Dracma estar a ponto de ressurgir. Muitos acharam que o valor de saque era absurdo, 700 milhões, no fim dia ficamos sabendo que chegou a 1,2 bilhões em três dias, mas a realidade é mais complexa.
Num artigo do correspondente do Estadão em Paris, Andrei Netto, fomos informados que a realidade é muito pior do que estes últimos saques: “Para muitos experts, é o primeiro sinal de caos na economia da Grécia. Desde a última segunda-feira, entre € 700 milhões e € 1,2 bilhões em dinheiro foi retirado por clientes do sistema financeiro do país. A iniciativa demonstra a preocupação crescente da opinião pública com os desdobramentos da crise política grega e o risco crescente de que Atenas seja obrigada a deixar a zona do euro e a União Europeia. Desde 2009, quando do início da crise das dívidas, mais de € 60 bilhões já foram retirados dos bancos, que sofrem problemas de capitalização”.
Havia informações em vários artigos que li nos últimos meses que empresas e ricos locais, tinham expatriado mais de 40 Bilhões de Euros, agora com esta notícia se confirma que a informação era verdadeira. Es
tas questões foram debatidas, segundo Andrei Netto, entre o Presidente Grego e os líderes partidários, que não chegavam a um acordo sobre um novo governos:
“De acordo com o documento, Papoulias advertiu seus interlocutores que mais de € 700 milhões haviam sido retirados dos bancos apenas na segunda-feira. Citando o presidente do Banco Central da Grécia, George Provopoulos, o chefe de Estado afirma: “Provopoulos me disse que não se tratava de pânico, mas de grande medo que poderia evoluir para pânico”. A transcrição também revela que as autoridades acompanham o caso hora a hora. “Quando eu liguei, às 16h, as retiradas excediam € 600 milhões e atingiriam € 700 milhões. Ele esperava a saques totais da ordem de € 800 milhões”, advertiu Papoulias. Insensíveis ao drama, o líder da Nova Democracia (centro-direita), Antonis Samaras, do Partido Socialista (Pasok), Evangelos Venizelos, e Alexis Tsipras, da Coalizão Esquerda Radical (Siriza), não chegaram a um acordo para a formação de um governo de coalizão”.
Segundo ele: “Até fevereiro, segundo informou ao Estado a diretora-executiva do Fundo Monetário Internacional (FMI), Miranda Xafa, o sistema financeiro grego já havia perdido mais de 30% de seus depósitos desde o início da crise das dívidas soberanas, em dezembro de 2009”
[…]
E, diante da perspectiva de retorno do dracma, o sistema financeiro do país implodiria. “As pessoas correrão para retirar seu dinheiro. Elas já o estão fazendo”, disse ela, à época. “Se houver default, não vai haver nem euros, nem dracmas. O governo terá de congelar os depósitos, como aconteceu na Argentina.”
O caos é iminente na Grécia, mesmo caminho que segue a Espanha, como diz o líder da esquerda grega, Alexis Tsipras, na frase que abre este artigo, o caos pode se espalhar por toda Europa, acompanhemos.