Arnobio Rocha Crise 2.0 Crise 2.0: Soluções e Humor (Post 134 – 88/2011)

135: Crise 2.0: Soluções e Humor (Post 134 – 88/2011)

 

 

 

 

“Pérolas”

De todas as coisas tolas que tenho lido nesta atual Crise 2.0, poucas superam a declaração do ex-ministro Mailson da Nóbrega, para os mais jovens, esta triste figura foi o último Ministro da Fazenda do malfadado Governo Sarney, que levou a inflação mensal em Fevereiro de 1990 aos inacreditáveis 83%, é isto mesmo 83% ao mês. Leiamos a pérola, do agora consultor financeiro, Mailson:

A Grécia não encontrará o caminho de volta à normalidade e ao crescimento sem um alívio no seu endividamento público e sem reformas para restabelecer o dinamismo na economia”

A declaração acima vinda de quem vem parece piada, mas não é. A consultoria de Mailson é uma das mais caras do país, o que revela o quanto a memória e inteligência são desprezadas no mundo atual. Mais ainda, como é que alguém que “afundou” um país inteiro merece crédito e, ser bem pago, para falar sobre Economia? Qual validade real de seus “conselhos”?

Infelizmente isto não é sessão de humor na desgraça, é mais que sério, os “especialistas” que os jornais, revistas e TVs trazem para fala sobre a crise, prova o quão longe estamos de uma solução razoável para o momento, invariavelmente, pois suas cabeças estão presas ao pensamento único dos anos 90, só encontram saída na destruição do Estado, não sem antes salvar os bancos.

Estatizar a banca?

O Professor Luiz Gonzaga Beluzzo, de outra matiz econômica, numa entrevista ao portal Terra, fala sobre a questão europeia, se mostra muito preocupado, em particular com a crise bancária, e dar uma explicação sobre o salvamento deles:

“A questão não é o banco Dexia ou BNP Paribas, Société Générale ou os bancos alemães, os bancos gregos… Você precisa salvar esse funcionamento do sistema. As empresas, quando têm problemas, prejudicam os fornecedores, prejudicam seus contratantes, mas na verdade não atingem o coração do funcionamento da economia. Os bancos fazem parte do sistema de provimento de liquidez da economia, eles constituem a rede de pagamento da economia. Toda mudança de expectativa acaba abalando os bancos. Então, uma crise de endividamento recessivo privado e público – uma parte dessa dívida pública dos governos europeus é fruto das intervenções para salvar os bancos na primeira etapa da crise privada – agora virou uma crise de dívida soberana. Toda crise de endividamento tem como conseqüência uma dificuldade de coordenação entre os agentes privados que, na realidade, são gestores de um serviço público. A rede de pagamentos, o crédito e a liquidez são serviços públicos que constituem, digamos assim, a rede informacional do mercado. Ou seja, a infraestrutura do mercado capitalista. Você não pode deixar isso quebrar. Os mais exaltados dizem que são contra o socorro aos bancos… Mas, se deixar quebrar, as consequências são piores – sociais, econômicas, etc.”

A perspectiva posta é diferente da corrente “menos Estado” como cinicamente é colocada pela corrente do pensamento único, a preocupação sistêmica apontada não pode ser o salvamento dos banqueiros, mas necessariamente dos bancos. A irrigação dos recursos no sistema não pode ser interrompida, mas os malfeitores que levaram a esta condição não podem receber benesses pelos crimes cometidos, vide caso americano, que os executivos receberam “bônus” mesmo com os bancos falidos e “semi-estatizados”, uma situação anacrônica, que desmoraliza qualquer ajuda ao sistema financeiro, que repito, é necessária.

Solução Radical

Beluzzo ainda indica que Alemanha e França tomarão medidas mais radicais:

“A Alemanha e a França ainda não se entenderam. Eu acho que eles vão caminhar pra uma solução mais ampla, mais radical. A Alemanha está vendo que um ‘default’ da Grécia ou um aumento do descrédito na Espanha e na Itália, que dificulte o refinanciamento da dívida ou aproximem a Espanha e a Itália de uma situação difícil do ponto de vista da solvência, é muito pior do que tomar decisões agora e se antecipar ao que pode acontece”

A solução mais radical deles (Alemanha e França) será o que? Uma nova proposta de Estado Europeu comum sob sua liderança, não somente econômica, mas também política? É esta a solução final.

Fecha o pano, preparemos-nos para as próximas cenas.

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0 thoughts on “135: Crise 2.0: Soluções e Humor (Post 134 – 88/2011)”

  1. Arnobio Rocha, parece que o que temos pela frente é uma forte pressão sobre o nosso parque industrial com perspectivas de desemprego e quebras neste setor. Europa e EUA estão agora graças aos mimados sem limites do mercado financeiro, sem mercado interno. Escolheram como opção para fazer dinheiro e retomar a economia,as exportações. Estas se tornarão mais competitivas e a China não terá como absorver sobrando para nós o excedente. Não podemos nos fechar para o mundo e temos que criar um mercado comum por aqui mesmo (Mercosul), o que já estamos fazendo apesar do que muito lentamente. Esta crise será longa é o que tudo indica. Só não quero que a globo, veja e seus clones, responsáveis pela informação(?) de cerca de 90% da população brasileira, caso esta crise venha a nos afetar, não convença o eleitor de que a culpa seria da esquerda. Nunca devemos esquecer que graças a mídia perdemos em São Paulo, Minas Gerais e em outros estados. E no Rio de Janeiro, sem alianças com PMDB de Sergio Cabral a situação seria Serra hoje dando as cartas. As esquerdas na minha modesta opinião, como continuam graças a mídia dominada, falando entre e para si na Internet, continuam subestimando o monopólio e poder da mídia.

  2. Melhor frase do texto, a meu ver: Toda crise de endividamento tem como conseqüência uma dificuldade de coordenação entre os agentes privados que, na realidade, são gestores de um serviço público. A rede de pagamentos, o crédito e a liquidez são serviços públicos que constituem, digamos assim, a rede informacional do mercado. Ou seja, a infraestrutura do mercado capitalista. VOCÊ NÃO PODE DEIXAR ISSO QUEBRAR.” Óbvio, Nada a ver com “premiar” banqueiros irresponsáveis, ou melhor, preocupados apenas com a salvar a própria pele. Tem ultraesquerdista aqui que precisa entender isso.

    1. Uma coisa é não deixar a infraestrutura do mercado capitalista quebrar – outra coisa, que pra mim é bem distinta, são as facilidades que são sim dadas aos bancos em relação a outros segmentos empresariais. Não considero isso uma mera avaliação leviana ultraesquerdista!

      O próprio texto do Arnobio traz o exemplo que aconteceu nos EUA, os executivos receberam bônus quando tudo estava falido! É uma desmoralização.

      Pra ficar em UM exemplo tipicamente brasileiro, onde o banco leva maior vantagem sobre qualquer outra empresa, cito o artigo do Fernando Brito no portal Vi o Mundo:

      “Quanto à má distribuição entre os setores, ela fica clara quando se observa os critérios de tributação: as maiores alíquotas incidem sobre a renda do trabalho. Os bancos, por exemplo, recolhem cinco vezes menos imposto de renda do que todas as pessoas físicas do país. E as empresas se valem da isenção de imposto sobre seu lucro, em boa parte, pelo ‘pagamento de juros sobre o capital próprio” feito a seus acionistas, entre outros mecanismos para “driblar” recolhimentos maiores.”

      http://ht.ly/6SXS4

      Considero essa informação relevante demais para ser rotulada como de ultra-esquerdista. A proteção exagerada dos bancos é um dado da realidade: quando eles estão em crise todos lembram da obrigação de socorrê-los, quando eles lucram, não querem reverter nada para a sociedade. E isso ocorre não só no Brasil mas também em outros países.

      No Brasil tem também o problema do alto custo do empréstimo: os juros cobrados dos pobres são no geral bem mais altos do que os dos ricos. Vejam aqui a história do Banco Pérola, da Alessandra França, e que mostra como é possível ir na contramão desse pensamento de que o banco “tem que ser assim porque é estrutural, é impossível ser diferente e blablabla”: http://www.somosbiografia.com.br/blog/?p=2084

      Pergunto: cadê a responsabilidade social dos bancos? Porque não se pode pensar num banco que dê conta de atender pequenos empreendedores e cumprir alguma função social a altura de seus lucros?

      São perguntas bem pertinentes e, na boua, não me sinto nem um pouco ultraesquerdista de fazê-las. Gostaria de ver mais economistas preocupados de fato com a renda das pessoas, com a qualidade de vida das pessoas, com os empregos, enfim, que se colocassem o desafio de estudar soluçòes que envolvem as pessoas da base da pirâmide social. É o mínimo que eu posso fazer.

      Ai, desculpa aí se o comentário foi longo…Mas ó Arnobio,seu texto está bom demais!

      Abraços,

      Amanda

  3. Sobre o Maílson, tive um colega de trabalho que dizia o ter conhecido e acompanhado toda a sua carreira de um simples “aspone” a ministro da economia.

    Dizia meu colega que o Maílson tinha uma memória boa e sabia onde determinados assuntos ou trabalhos estavam arquivados ou sendo efetuados/debatidos dentro da estrutura governamental, a tal ponto que era muito requisitado para dar pitacos exatamente por ele saber onde encontrar material para o assunto em questão.

    Quando ele percebeu que isto lhe dava “status” soube aproveitar essa “expertise” em causa própria, subindo vertiginosamente no coração do poder burocrático.

    Daí a Ministro foi um pulo, até pela falta de nomes que se dispusessem a trocar a iniciativa privada pelas “merrecas” que até então os ministros recebiam, afora o problema estrutural deixado de herança pelos governos passados.

    Até hoje, pelos comentários que ele faz, continua não entendendo nada de economia.

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