Arnobio Rocha Reflexões Blogueiro:Pequeno Ditador? (Post 124 – 78/2011)

125: Blogueiro:Pequeno Ditador? (Post 124 – 78/2011)

 

 

“Meu caro amigo,toda a teoria é névoas; auriverde só a árvore da vida” ( Fausto – Goethe)

 

A experiência de escrever, fazer um blog, por menor que seja, é riquíssima, incentiva nossas mentes a funcionar com maior vigor, impulsiona a atividade intelectual, ter mais rigor e compromisso, tem uma série coisas prazerosas e positivas que se descobre quando se começa a produzir um blog. Às vezes o receio, medo, de que não saía bom aquilo que escrevemos acaba retardando o início desta aventura, mas depois que se começa, difícil parar.

Porém a cada dia chego algumas conclusões pesadas sobre a atividade de blogueiro e sua função, as piores são as seguintes:

1)   Longe de projetos coletivos, muitos de nós acha que deve dar respostas a TODAS as demandas: Políticas, sociais, econômicas, culturais e estéticas;

2)   Tentar abarcar amplas demandas piora em muito a qualidade do que produzimos, não precisamos dar respostas a tudo o que acontece;

3)   Viramos doutores e “sabe tudo”, na verdade sabemos muito pouco de muitos temas, ou sabemos muito de poucos temas;

4)   Blogueiro se torna um pequeno ditador do seu pensamento, incluo-me, obviamente;

5)   Combinação explosiva de Blog, Twitter e Facebook levam a um distanciamento do mundo real;

Esta coisa de saber que o mundo não gira em torno de nós deve ser o primeiro ponto a ser visto como fundamental na hora de escrever textos e exercer a atividade de blogueiro. A tentação de responder a tudo e todos francamente nos fragilizam, pois as respostas são piores à medida que não dominamos determinados assuntos, conceitos e fundamentos. Temos que ter humildade de procurar fazer bem feito o que de melhor conhecemos.

O risco de querer virar “Guru”, superhomem, ou supermulher, apenas porque em algum momento o que escrevemos tem uma boa sintonia com alguns que nos lêem não nos dar garantia que sejamos superiores ou que tenhamos respostas sempre boas e verdadeiras para nossos amigos. A interação e o bom debate no mesmo nível com os que nos lêem é fundamental para aferirmos o que realmente podemos contribuir, talvez com algum acúmulo sobre determinados temas que temos maior domínio. Nada, além disto.

Mas o maior problema é quando o blogueiro, deliberadamente, não participa de movimentos coletivos, organizações culturais, políticas, sociais ou partidos começam a achar que pode sobrepor com seu blog, estas ações coletivas. Menospreza o elemento coletivo, achando que sozinho dará resposta ao mundo, autoritariamente tenta fazer às vezes, a função daqueles, mas óbvio que não consegue ir além dos seus mais próximos leitores. Depois quando as coisas não acontecem costumam culpar as organizações coletivas por não terem lhe dado o suporte. É uma flagrante contradição, pois o voluntarismo individual, não o fez dialogar com o coletivo, quando a sua ação fracassa culpa o coletivo.

Nortear a ação do espaço opinativo individual e buscar se inserir em espaços coletivos, colaborativos, deveria ser o ideal dos blogueiros, compartilhar as experiências, entender como cada um pode influir e contribuir com o debate e a intervenção social. Ainda continuo acreditando na soma das idéias, não conheço ninguém que tenha dado resposta a tudo, mesmo os mais geniais sempre buscaram o mundo coletivo para inferir suas idéias e ações. Mas a internet parece que mexeu com o Ego, que quanto mais inflamado mais individualista.

Outro dia um destes “famosos” chegou a dizer que não debateria com ninguém sobre Belo Monte se não tivesse escritos fortes e consistentes, mais uma prova deque  se subestima a inteligência por ter um “blog”. Uma vez nominei de “Personal Ideologic” outra figura que achava que podia “corrigir” o pensamento político de outro apenas por ter um blogão.

Precisamos sim debater, mas sem querer impor aquilo que julgamos ser “certo”, o espaço que, por exemplo, ocupo é à esquerda, procuro colaborar com este debate, mas sem usar “peso” de blog, ou de trajetória pessoal, mas claro nem sempre conseguimos, caímos muitas vezes na mesma tentação, mas afirmo, aceito as críticas e ponderações nos debates. Blog, Blogueiro, quando escreve tem de estar disposto a ser contrariado, ser desdito, no momento que escreve e torna público ele tem que se conscientizar que será alvo da crítica, justa ou não, mas não pode deixar debater, isto não tem a ver com patrulhamento político ou ideológico, é a contestação natural num mundo amplo e democrático, sem entender isto falamos apenas para nós mesmos, não cultivamos o senso crítico que tanto nos ajuda a mudar de pensamento e idéias.

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0 thoughts on “125: Blogueiro:Pequeno Ditador? (Post 124 – 78/2011)”

  1. Olá menino.Semana passada participei de um debate entre blogueiros e jornalistas e a conclusão que chegamos também foi essa. Ninguém é dono da verdade absoluta. Cada um tem seu ponto de vista. E quanto mais amplo seu leque de abordagem mais superficial é seu posicionamento. Eu como blogueira, vejo infelizmente poucos blogueiros compatilhando ou colaborando com os demais blogueiros. Divulgar um texto parece que fere o “ego” alheio. É como se o blogueiro tivesse medo de divulgar algo que ele não fez ou participou. Este é o erro que devemos corrigir. Divulgar é preciso!
    Abraços,
    @KatytaSV

  2. Parabéns compa! Bela reflexão sobre o tema, sendo esse um comportamento que poderíamos dizer ser natural do ser humano, que nos julgamos ser o limiar da cadeia evolutiva, sem ao menos ter a capacidade organizacional das formigas.

  3. Prezado Arnobio

    Apesar de formação diversa, todos nós tendemos a ser “jornalistas”. Esse é o ponto básico a debater. NÃO somos jornalistas e nem devemos sê-lo. Somos meramente blogueiros eu e você dentre muitos milhões, e dispomos de maiores ou menores listas de correspondentes e leitores os quais apreciam ou não nossos escritos e/ou postagens. O que sempre vai contar é a somatória mádia das opiniões. Somos MÍDIA. Essa é a novidade.

    Os “jornais/jornalistas” não falam mais sozinhos. Nós existimos e SEM qualquer ética jornalística de “fancaria”.

    Um exemplo clássico disso pode ser encontrado no Blog do Azenha (jornalista) na recente discussão de um “jornalista” com o pessoal da Vila Vudu (não jornalistas, mas um gentil grupo anônimo de tradutores que se dispôs a trabalhar para melhor nos informar).

    O Azenha (jornalista e portanto baseado numa “etica” jornalística) resolveu privar seus leitores das traduções da Vila Vudu baseado na opinião de outro “jornalista”. Este último sendo e conforme inúmeras opiniões expressas lá nos comentários, um SIONISTA de quatro costados. Até fui informado que o indigitado tem filho no exército israelense; fato que não foi aventado lá no Blog do Azenha.

    O jornalista/jornalismo é o CÂNCER da internet, pois querem “transplantar” sua ética de fancaria e própria do “jornalismo-que-existe” para os Blogs.

    NADA temos a “importar” do jornalismo e dos jornalistas. Indo mais longe, ouso dizer que os jornalistas/jornalismo devem se despir da sua armadura profissional e andarem nus (como nós) pela internet. É o que tentamos fazer na redecastorphoto e no bloguinho e, tenho certeza, que o pessoal da Vila Vudu tenta fazer exatamente a mesma coisa.

    A LIBERDADE que devemos considerar aqui na internet é justamente a preservação do TOTALITARISMO de cada blog. Expomos nossas (ou de outrem) ideias e opiniões e pronto. Acabou. Estamos na mídia. Somos mídia.

    O debate acontece quando o leitor e/ou correspondente “compara” cada postagem/e-mail entre os diversos blogs individualizando/alterando cada opinião. É aí que entramos (nós, blogs e redes) na concorrência com as mídias convencionais.

    É claro que alguns blogs chamados grandes terão peso maior na formação da opinião “média” na internet, mas isso não é importante uma vez que o verdadeiro combate internáutico é ideológico e se dá, principalmente, dentro de cada leitor/correspondente.

    Não creio que você deva recear “impor o seu certo”, pois você será, assim como eu, apenas mais um entre milhões, na formação da média das opiniões.

    O que TODOS devemos combater com o máximo denodo é pela presevação da liberdade na internet; TOTAL e IRRESTRITA. Para isso temos que nos desligar TOTALMENTE de qualquer vestígio de jornalismo/jornalista “ético” que tenta se fazer valer entre nós.

    Grande abraço
    Castor

  4. Parabéns, Arnobio. Como diria minha querida e saudosa avó, você falou pouco, mas falou bonito. Disse tudo. De minha parte, tenho evitado os blogueiros famosos, que simplesmente ignoram os não-famosos, ainda que o debate entre eles possa ser bastante produtivo. Também fujo dos “subfamosos”, que puxam o sacos dos famosos e, a exemplo destes, não falam com quase mais ninguém. Se um dia tomarem jeito, volto a passar por lá. O mais triste é que a situação anda tão patética nesses blogues que eles acabam não fazendo falta nenhuma.
    Um abraço!

  5. Buenas, Arnobio:

    vc tocou na questão que, para mim, é central:

    “Mas o maior problema é quando o blogueiro, deliberadamente, não participa de movimentos coletivos, organizações culturais, políticas, sociais ou partidos começam a achar que pode sobrepor com seu blog, estas ações coletivas. Menospreza o elemento coletivo, achando que sozinho dará resposta ao mundo, autoritariamente tenta fazer às vezes, a função daqueles, mas óbvio que não consegue ir além dos seus mais próximos leitores. Depois quando as coisas não acontecem costumam culpar as organizações coletivas por não terem lhe dado o suporte. É uma flagrante contradição, pois o voluntarismo individual, não o fez dialogar com o coletivo, quando a sua ação fracassa culpa o coletivo”

    Um Blog/Blogueiro que incorre nesse tipo de comportamento acabam, como bem assinalou a Rita – “… não fazendo falta nenhuma”. E a razão é bem simples, pois, por mais que o umbigo de alguém possa ser interessante para ela própria, para o coletivo é apenas um umbigo enada mais !!!

    Abs.
    Jorge

  6. Muito bom, Arnobio, adorei. O “risco de virar guru” deixou de ser risco. A maioria “vira” guru (entre aspas porque, né, #not) e quem não segue é excomungado. Estou como a Rita Machado, parei de ler praticamente todos, a não ser numa eventualidade, quando reencontram sua condição de voz na multidão. Porque são isso, não? Uma voz nessa multidão antes silenciosa, caladona. Muito bons os comentários, e que luxo o do Castor Filho, beleza de ponderação!

  7. Gostei bastante do texto, mas percebi que é bem direcionado a um determinado grupo de blogueiros um pouco mais famosos, que estão ficando como certos jornalistas, achando que são detentores da verdade!
    Mas a grande diferença entre um blogueiro e um jornalista é a liberdade, o que muitos daqueles não sabem aproveitar.
    Parabéns pelo texto, mais uma vez!

  8. Ta certo, mas acho que vocês (todos que tem blog)saem um pouco da linha às vezes, é difícil não tentar impor opiniões. Não acho que existe certo, errado etc, só que tem que existir liberdade e , na minha opinião, muitos (a maioria, vai) confunde com o pessoal. Pode-se ter antipatia por essa ou aquela figura, ou sua maneira de agir/escrever mas não desconsiderar o que ela diz se for feito com propriedade. Meritocracia tem seu valor se não atingir o ego ;).É claro que eu tenho meus preferidos, sou normal, mas procuro ler todos que acho relevantes, até e principalmente às vezes, os do outro lado. O que não vale (minha opinião again, óbvio)é usar de alguns artifícios para fugir da discussão maior e se sentir ofendido por coisa que não foi dita mas entendida. Problema é que todos somos inteligentes hehehe.

  9. Gosto de ler seus textos são carregados de algo que não sei explicar, talvez alguém lendo este comentário, pense: “que coisa piegas”, mas a verdade é que me sensibilizam e me fazem refletir bastante.
    Sua autocrítica me enternece, coisa rara nos dias de hoje, leio outros Blogs, porém percebo que alguns blogueiros não conseguem disfarçar suas vaidades, talvez por que tenham informações privilegiadas, nomes conhecidos e certamente seus leitores sentem-se fascinados.
    O importante de tudo isso, é o poder de escolha que é colocado à nossa frente, lemos o que queremos e filtramos tudo, nos identificamos com aquilo com o qual mais temos afinidades, seja culturalmente ou politicamente.
    Parabéns pelo o Blog e pela simplicidade em seu modo de escrever!

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