Arnobio Rocha Política Crime e Castigo (Post 2147 – 210/2022)

2147: Crime e Castigo (Post 2147 – 210/2022)


As várias violências vão se somando num crescente de crise econômica e social.

“Cuspir, não, nada disso, mas protestar. Eu persigo um fim útil. Eu posso, de uma maneira indireta, contribuir para a evolução e para a propaganda” (Crime e Castigo – Dostoiévski)

Causam profundo pesar as violências do cotidiano, algumas absolutamente chocantes como a praticada pelo médico, Giovanni Quintella Bezerra, que estupra uma mulher durante um parto, isso reduz a nossa condição humano para abaixo de zero. É assustador que se desça abaixo do fundo do poço, dói como humano, como homem, companheiro e pai de mulheres, corrói nossa alma, nossa crença no ser humano e na vida.

O mundo atravessa uma época das mais difíceis para a humanidade, em particular para as mulheres,  como também para os grupos mais vulneráveis, os (as) excluídos (as) do grande banquete do Capital, de seu consumo pornográfico, nababesco e corrupto, afastando da mesa o grupo dos três Ps; Preto (a), Pobre e Periféricos (as).

As cenas de ostentação desenfreada estão ligadas ao mundo paralelo em que a fração minoritária da humanidade vive, sem nenhum pudor, comiseração ou qualquer sentimento de respeito aos demais grupos sociais que lutam desesperadamente apenas pelo direito de existirem, quase sempre sem qualquer dignidade.

Essas pequenas ilhas de extrema riqueza são protegidas pelo Estado, pela ideologia, pela (sua) mídia e religiões.

A questão não é moral, moralismo, ou sentimento de culpa e de pecado, é fundamentalmente de Classe, oposição de desejos e poder. De certa forma, num estágio anterior ao atual, a luta se estabelecia com algum grau de igualdade, ou que não permitia o desvario burguês, ainda que detivessem o poder econômico, não lhe era permitido a tola ostentação, pois os de baixo, não aceitavam passivamente, o medo da Revolução ou da revolta, refreava (não completamente) comportamento de tola ostentação.

Essa fase atual do capitalismo, o ultraliberalismo, deu a essa fração burguesa, a mais desmedida força para que ela se comporte como numa cena de Calígula continuada, sem medo do amanhã. De certa forma, essa cultura de desprezo pelo sofrimento e pela luta diária por sobrevivência da maioria das pessoas, vai criando um sentimento de ódio, que é trabalhado pacientemente pelos meios de controles e filtros ideológicos para dividir exatamente os mais miseráveis.

A violência urbana e no campo, o genocídio dos povos originários, dos periféricos, a cultura de objetificação da mulher, do corpo, o incentivo ao consumismo (mesmo dos despossuídos), a ilusão de meritocracia ou dos exemplos isolados de alguém que “chegou lá”, contrastam com a intensificação da formas ulteriores de exploração direta via uberização, a ditadura dos patrões invisíveis dos aplicativos, os algoritmos de segregação das redes sociais.

A reação da sociedade às várias violências, como no caso do militante petista morto de forma torpe por um fanático bolsonarista, ou no caso do médico estuprador, ou dos assassinos do imigrante congolês Moïse Mugenyi Kabagambe, ou no caso mais pretérito, como o de Daniela Perez, é sempre a mesma, uma indignação que se transforma em leis mais duras, tudo vira “crime hediondo”, sempre à espera de nova modalidade de violência.

Esses paliativos do punitivismo penal, no fundo não discutem a violência, ficam como medidas inócuas, na maioria das vezes é a resposta demagógica e irracional, que encontram para um momento de crise. Isso não é um privilégio nacional, os debates e “soluções” se repetem em todo o mundo, como se a violência, os crimes fossem fenômenos isolados, então com medidas de forças, eles acabam ou mesmo diminuirão.

As reflexões deveriam passar por um debate mais amplo, pelo modelo de Poder, Estado e Sociedade.

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