Há um instante na vida em que não se tem como retornar, as circunstâncias criadas por decisões firmes no passado não permitem que recuemos um passo atrás que seja, ou toda sua vida, seus propósitos, sonhos e utopia se perderiam num piscar de olhos. Isso não quer dizer que vivamos sempre em situações limites, ou entre a cruz e a espada, e que não possamos repensar, quais os melhores caminhos, qual a melhore alternativa ao confronto.
Por outra mão, essa firmeza de ir em frente é tão vital para que não haja vacilações ou arrependimentos futuros. Por várias vezes na vida me encontrei em situações limítrofes, em que tinha que decidir com rapidez, “no laço”, sem ter muito tempo para pensar, procrastinar, adiar e esperar para um novo momento e fazer.
De certa forma, por uma série de questões graves que apareciam, no ramo em que trabalhava, era preciso raciocínio rápido e frações de segundos para controlar bugs, falhas em sistemas que não era possível recuperar se demorasse a tomar uma ação corretiva. Por essa condição de tensão fui me condicionando a tomar decisões urgentes.
Aliás, trabalhar sob pressão, cria um estado de alerta e uma capacidade de abstração especial, em que é preciso isolar uma ocorrência grave de outra e acertar o que fazer imediatamente, uma adrenalina fora do comum, e um sensação de prazer ao resolver, difícil de descrever.
Por essa razão, raramente perdia a calma, o auto controle, pois isso é fundamental para resolver problemas complexos em telecomunicações, em software aplicados, pois um erro causaria danos sérios demais, como deixar milhões de usuários sem conseguir fazer chamadas, ou acessar a internet. Aprendi que o nervosismo ou pensar em demasia sobre as consequências, tem efeito paralisante, simplesmente você congela e não saí mais nada.
É ter sangue frio, frieza e usar a energia que vem (sabe-se lá de onde), a sensação é que parecia que meu cérebro todo se conectava e pimba.
Dessa longa experiência na engenharia, quase 28 anos, ao mudar para o Direito fui percebendo que mesmo em outras áreas, vale a mesma lógica, o que decide determinada questão, urgente ou não, é a capacidade de abstração, procurar em algum lugar na mente, onde e como resolver, dizer a palavra certa, fazer a pergunta adequada, usar o termo/artigo correspondente, enfim, a capacidade de se manter ligado, calmo e pronto para agir.
Isso valeu para situações de ruas, enfrentamentos, em que a decisão passava por mim, errar faz parte, não errar é um desafio para que aqueles e aquelas que dependiam de mim, tivessem a tranquilidade de que nada mal aconteceria, mesmo sob enorme tensão, ameaças, bombas e riscos de enfretamentos.
No fundo é um exercício que cada um de nós experimenta e sente, compensar, inclusive, grande conhecimento, por sensibilidade e capacidade de se manter zen.
É isso, ou quase isso.