1903: Coriolano


“Nobres, perdoai-me; mas preferiria ter de pensar de novo estas feridas a ouvir contar como cheguei a obtê-la” (Coriolano – William Shakespeare)

O general romano retratado por Shakespeare é um dos personagens que mais gosto.

Ele seria candidato ao senado, pelos atos de bravura e facilmente se elegeria. Seus seguidores exortam para que abra suas vestes e mostre suas cicatrizes de guerra, para que angarie os votos, pelo reconhecimento dos seus feitos.

Entretanto, Coriolano, se recusa a abrir as vestes, pois não deveriam ser as feridas, as marcas, o que o levaria ao senado, um orgulho, uma visão de ruptura com a “tradição” romana.

De certa forma, todas as eleições em que tomei parte, releio o Coriolano, uma espécie de inspiração, ou tolice, dirão, de ser orgulhoso e não ceder ao que é mais “fácil”.

Fato é que as pessoas, em geral, tendo ou não cicatrizes, estão prontas para abrir suas vestes, mostrar ou inchar suas feridas, como ritual de demonstrar sua bravura, muitas vezes, bem longe da realidade. O que fazemos nas lutas, em certa medida, lembra a caridade, que é silenciosa, e vira mero oportunismo, quando noticiada.

Sigamos a vida, não precisamos vencer de qualquer jeito, apenas vencer pelos nossos propósitos.

Há braços.

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