“Em troca do mundo, que já destruíste,
extrai de ti outro, melhor, menos triste!
Profere o teu Fiat, e logo é criado!” ( Fausto – Goethe)
Leio no mural de um amigo que um jovem, cheio de saúde, bonito, alegre, veio a falecer (não tenho curiosidade de saber como e porque morreu), aí nos comentários, outra jovem diz “é o sinal dos tempos”, sem dúvida, o sinal de finitude, dele, não nosso ou dela. Esta coisa não alivia a dor da família ou dos amigos, não passa de uma maneira artificial de “valorizar” a morte de alguém. No fundo, a frase, não significa absolutamente nada, nem para quem escreveu e menos ainda para quem leu.
Quem sou eu para zombar da fé e crendice alheia, longe de mim fazer pouco caso ou ironizar qualquer credo professado, por quem quer que seja, respeito e ouço, mesmo que não concorde com absolutamente nadado que foi dito. Uma das coisas mais comum nas religiões é a ideia fixa sobre o “fim do mundo”, com os “sinais do fim dos tempos estão aí, mais visíveis” e seguem nesta toada, repetidamente, em cada caso trágico.
Talvez esta coisa dita nas cavernas ou num aldeia perdida na idade média, diante de um fenômeno extraordinário, fizesse todo o sentido, reforçaria as superstições, mas escritas hoje em dia não sei se faz muito sentido. A busca por uma explicação lógica é mais complicada, então vamos apelar para algo mais simples, irracional, quem sabe nos conforte, o desconhecido, a incerteza das coisas da vida, o apelo ao fim de tudo é mais plausível, afinal, tudo acaba.
Em 12 de dezembro de 2012 (12/12/12), o número cabalístico levou muita gente a crer no “fim”, aproveitei o “evento” e fiz minhas listas definitivas de músicas, livros e filmes (Influências Literárias, Filmes Para que o Mundo não Acabe e Canções Para que o Mundo não Acabe ). Vai que depois do nosso fim catastrófico, uma nova geração apareceria, os anjos separando ímpios e pecadores, dos bons e pios, minhas listas poderia ser resgatada e serviria para alguém que quisesse saber sobre alguns de nós, né?
Enfim, melhor levar de forma leve a perspectiva de que não haverá o amanhã, um dia acontece, principalmente quando cada um de nós parte rumo ao desconhecido. O fim está em nós, desde muito cedo acredito nisto, sou totalmente descrente de qualquer outro destino humano que não seja o seu “fim”, individual, sem possibilidade de crer que um asteroide venha e nos puna coletivamente, assim sem mais nem menos.
Aliás, nosso tempo, digamos, 100 anos (no máximo), é apenas um grão de areia no “tempo”, por que seria na nossa geração o novo Caos? Quantas gerações anteriores ansiaram por viver a escatologia terrestre? Este parece ser um desejo ardente de nos tornar especiais, de participar de algo maior do que nós e sempre esteve presente na história humana, sem se concretizar, até hoje.
Vivemos esta eterna contradição sobre a vida, pois sobre a morte, sempre é algo líquido e certo, inescapável, mas precisamos envolver todos os demais seres humanos, no nosso destino, neste ato único e intransferível. Cada dia, cada mês ou a cada ano, busco me livrar destes nós, destas amarras e superstições, a aceita a vida e seu findar como parte de um mesmo processo, que é a existência humana, num dado momento de tempo e espaço, em condições bem específicas, surgiu, evoluiu (não sei se parou de evoluir), depois pode decair, mas nada indica que seja hoje, amanhã ou ano que vem.
Que tal tornamos a vida melhor? Esquecer o fim, viver o início, a plenitude, com valores mais justos, igualitário e mais amplo, que favoreça a todos, plenamente.