Tenho aprofundado o debate sobre a Crise atual, que denomino de Crise 2.0, mas não apenas as consequências econômicas, mas, principalmente, seus impactos sociais, na vida dos trabalhadores e da sociedade em geral. As mudanças que tendem a ser mais terríveis do que antes, pois há, no meu conceito, uma mudança de paradigma, ou uma tendência à barbárie social, no meio de guetos de extrema riqueza, cada dia menos partilhada, inclusive no coração do Capital.
Para dar suporte a esta mudanças fundamentais o Estado mudará de qualidade, como escrevi antes: “O Estado Gotham City é a síntese da Crise 2.0, ele é, ao mesmo tempo, causa e resultado da maior crise do Capital desde 1929, uma crise que denomino de paradigmática, aquela que muda e aprofunda os controles do sistema. Do ponto de vista do Estado ele começa a ser forjado no final dos anos de 1970, com a Crise do Petróleo e das Dívidas externas no início dos anos de 1980. Precisamente com Reagan e Volcker(FED) o Goldman Sachs captura o Estado para sí e começa a determinar a ordem do capital financeiro.
Os 25 anos de longo domínio desta lógica de funcionar do Capital encontrou limites na Crise 2.0 e na resistência do velho Estado de Bem Estar Social, que trava a “liberdade” total de movimentos mundiais do Capital. A Crise é o problema-solução, toda uma nova ordem pode advir dela, inclusive a Revolução. Mas, descartada a Revolução de ruptura, o Capital faz a sua própria revolução, ou melhor, impõe uma dura mudança dentro do sistema que lhe mais favorece, em detrimento dos trabalhadores e da sociedade. A “face mais visível é a repressão aberta, ou a sutil, a do controle de tudo que acontece na sociedade para melhor dominá-la”.(Escândalo de Espionagem e o Estado Gotham City).
Esta “LIBERDADE” não é valor para todos, mas para o Capital(K), porém, ideologicamente, é preciso que a sociedade comungue plenamente com este valor, cada vez mais abstrato, a tal Liberdade. Em nome dela e por ela se sacrifica qualquer valor anterior como solidariedade, comunidade e humanidade. Tudo se resume numa formulação simples e inteligível, queremos força para que você tenha mais liberdade, um contrassenso que não é jamais questionado. O movimento que melhor expressou estes conceitos ultraliberais foi o Tea Party, na extrema-direita.
Contraditoriamente, na Esquerda, estes valores forma assimilidos de forma sutil, pelos movimentos de “Indignados” “Occupies”, agora, aqui no Brasil pelo tal “Gigante”. A maior expressão deles é a força pela diluição dos partidos, sindicatos e organizações civis, como se estes fossem empecilho ao “novo”, mas de que novo estamos a assistir? Um Estado ultraliberal, sem “políticos” sem ordem e sem freios sociais, como define: “A democracia passa a ser um “estorvo”, os velhos políticos ou as velhas formas de representação são tragados ao caos, esta aparente desordem esconde o “Novo”, um estado controlador, espião, policial que consegue galvanizar as revoltas não contra si, mas contra a própria democracia, vide Egito, Turquia e agora no Brasil. As massas perdidas gritando contra as instituições, contra os políticos, mas não contra o Estado. Aliás, este ganha força com as propostas de intervenções das “forças da Ordem” ou o surgimento de um Batman, de um herói que ajude a criar mais uma “máscara” e proteja o Estado Gotham City”. (Escândalo de Espionagem e o Estado Gotham City)
A cada dia novos episódios se somam, o mais recente, aqui no Brasil, é a questão dos médicos, que se recusam a atender no SUS (Sistema Único de Saúde), pois, corretamente, dizem que está sucateado, sem todas as condições, porém a questão não se resume a isto, há uma população carente que precisa de médicos, mesmo em condições não tão favoráveis. Mesmo com os salários vantajosos oferecidos em pequenas cidades de regiões mais inóspitas são recusados, mas também não aceitam que médicos de fora possam ser contratados, criando um entrave estúpido e desumano. Chegam ao absurdo de se dizerem “escravos” porque terão estágios obrigatórios, bem remunerados, depois de 2021, ano que termina a primeira turma sob a nova norma do MEC.
Isto não é um fato isolado, as manifestações racistas e pouco civilizadas protagonizadas pelos médicos foram de corar, cartazes abjetos e com educação zero dão prova deste individualismo burro e uma afronta à sociedade, pois não se trata de qualquer categoria, mas uma das mais preparadas e com melhores faculdades de educação PÚBLICA e GRATUITA, com acesso restrito à classe média alta e ricos, devidamente subsidiados pela sociedade, que agora desprezam, tendo claro que o peso maior dos impostos recaem fundamentalmente sobre os trabalhadores, que não tem como negar a pagar com desconto direto.
O liberalismo à la Tea Party contaminou o mundo, os cyberativistas vestidos de idiotas mascarados pregam a mesma liberdade egoísta da Direita. Conceitos como Cidadania, Urbanidade, Compromisso Social e Humano foram jogados na lata do lixo. O que tem valor, hoje, é a individualidade mesquinha, reflexo da sociedade ultraliberal do cada um por si e “deus contra todos”, assim vamos muito mal. A barbárie é um caminho, uma possibilidade cada vez mais visível no horizonte, quem a combaterá?
Arnóbio, sou médica, trabalho no serviço público, por sinal, me sinto mais ‘a vontade trabalhando nele do que na clínica privada. Votei no Lula e na Dilma, sou defensora de ambos, porém espero que esta linha em que o governo federal está trabalhando seja revista. Pelo bem de todos, do governo, dos médicos, da população, da saúde. Levar o médico para as áreas inóspitas, com um estetoscópio no pescoço, não adianta nada… Trabalho em Fortaleza, mas quantas vezes, ao ser agredida (graças a Deus, apenas verbalmente) pela paciente que atendo na Emergência, grávida, em busca de vaga, tenho que mostrar que não a interno, porque não tenho vaga, ou porque o caso dela não é para o meu nível de atendimento, precisa de UTI neonatal, ou coisa parecida, que não disponho no hospital de nível secundário que trabalho. Eu sofro tanto quanto a paciente.
O grande problema da saúde se chama: MUNICIPALIZAÇÃO. O governo federal tem que buscar saber o que é feito com o dinheiro repassado para os estados e municípios. Tenho 16 anos de formada e desde a faculdade se sabe que trabalhar no interior é só passar uma chuva. Porque quando muda o prefeito, o médico perde o emprego, ou não recebe o salário. Não há um pingo de estabilidade. Ah! Mas com o programa do governo, o PROVAB, este problema acaba. NÃÃOO! O dinheiro continua sendo repassado para o município e é este que paga os profissionais.
Então, a mudança tem que ser de vários ângulos, mas principalmente dar condições adequadas de trabalho para o profissional e estabilidade, não só para os médicos, mas para todos os outros profissionais da saúde que compõem uma equipe multidisciplinar, tão importante para o bom atendimento à população.
Não me arrependo da profissão que escolhi, me realizo quando atendo uma paciente e consigo resolver o problema dela. Faria tudo de novo, mas me preocupo com o nosso futuro.
Rosiane,
Sei bem de várias situações relatadas e suas enormes gravidades, mas também há casos de médicos que furam plantão, que usam “dedo de silicone” para fraudar o ponto, que há cidades com postos de saúdes prontos e sem médicos, tudo isto faz parte do contexto, Segundo, os futuros médicos, em 2021, veja bem, não agora, é que terão que prestar serviço de 2 anos, com BOLSA paga diretamente pelo MEC, não passando por troca de prefeitos.
A municipalização foi uma decisão constitucional, para impedir que Presidente/Governador não repassasem as verbas vinculadas aos munícipios, concordo que aconteceu o oposto, estes prefeitos surrupiam o dinheiro não pagando não apenas médicos, como também professores e funcionalismo em geral. Cabe ao MP e aos órgãos de controle a fiscalização e punição. A reversão da municipalização não é simples e não maioria dos casos não desejável.
Você também há de convir de que os médicos são, em sua maioria, advindos de classe média alta que entram nas melhores universidades, mas seu compromisso em regra é com a medicina privada, seus consultórios, planos de sáude etc. Ou você não acha que tem que ter uma retribuição social pela alto custo de suas formações? Em particular a medicina, odontologia, tem uma função social imensa, não lhe causando estorvo servir por pouco tempo. Lembremos ainda que as Residências Médicas são em sua maioria bancadas pelo poder público, ou estou errado?
Ao mesmo tempo, estas mesmas entidades médicas são contra a vinda de profissionais estrangeiros, por qual motivo?Certeza de que não pela qualidade do serviço, principalmente ninguém viu uma ÚNICA manifestação dos médicos e dos CRM quando se acabou a CPMF, certo?
A situação é complexa, espero que possa ter uma negociação que venha a mediar os extremos, mas o que vi na Paulista aqui em SP foi de dar vergonha a boçalidade e os arroubos, como uma foto da Dilma e nos lábios o desenho CUbanos, com escritos vá se tratar em Cuba, ou dize que dedo do Lula tava “enfiado no C..” etc… isto depõe contra os próprios envolvidos, muitos inclusives pagos pelo Cremesp para ir até à Paulista.
Vamos debatendo, quem sabe acharemos uma saída?
Atenciosamente,
Arnobio
Arnóbio, excelente análise.