Arnobio Rocha Crise 2.0 Democracia para Quê?

1071: Democracia para Quê?


Um Estado Vigilante, sem Democracia ou Política (foto de Don Bayley/Getty Images)

Um Estado Vigilante, sem Democracia ou Política (foto de Don Bayley/Getty Images)

Uma das jogadas mais geniais do Kapital, do ponto de vista ideológico, foi conceder a Marx um lugar entre os grandes pensadores da história mundial, claro, filtrando seus estudos para o tornar palatável, comum, assim, ora vende-o como um economista, que não entende de economia/administração, ora mostrando-o como filósofo que não compreende de metafísica.

Marx ainda é visto como sociólogo, apenas teórico, sem práxis. E, por fim, como cientista político que defendeu um sistema que faliu, o tal socialismo russo, stalinista, cruel. Contudo isso, com todas as ressalvas, Marx foi aceito, quase domesticado, na academia e entre pensadores fundamentais da humanidade.

As consequências direta desta aceitação não deixaria de atingir em cheio a esquerda, boa parte dela abandonou Marx, sem jamais o compreender, ou por compreendê-lo apenas formalmente. As inúmeras deturpações do pensamento e da obra de Marx durante o século XX e início do novo século, em grande parte afastou os mais jovens de conhecer e analisar o mais original e radical dos pensadores do mundo.

Em alguma medida, lá pelos anos de 1990, cheguei a imaginar que Marx seria apenas uma caricatura da academia (à moda do Kapital) ou apenas um fantasma rondando as seitas da extrema esquerda.

Porém, para nossa sorte, a maior crise que o Kapital sofreu em todos os tempos, iniciada em 2005, trouxe de volta os estudos e a imensa contribuição de Marx para a humanidade. O pensador que dissecou o Kapital, ainda que estejamos prestes a comemorar 150 do lançamento do “Das Kapital”, parece um visionário, de tão atual e vigorosa a sua análise e compreensão da Crise, ou das Crises.

Os ciclos de acumulação, a produção de riqueza e de Valor, observados e descritos com enorme precisão, assim como as consequências de sua circulação, distribuição, que levam à crise tornam Marx único e nos ajuda a compreender o nosso papel na sociedade do Kapital.

Minha contribuição ao resgate de Marx, o pensador do Kapital, está expressa no livro  Crise Dois Ponto Zero – A Taxa de Lucro Reloaded, um grande esforço de analisar a atual crise, que denominamos de  Crise 2.0, sob esta categoria, o blog, tem um grande número de artigos, que levaram ao livro e continuaram o debate sobre os rumos do Kapital.

Ultimamente tenho me dedicado a estudar a questão do Estado e da Democracia e, subjacente, a ideologia dominante, que prepara as bases fundantes, não apenas de um novo ciclo do Kapital, que se abriu com a Crise, mas também sob qual Estado ele se edificará.

Aqui não se trata de um estudo isolado da realidade, ou para demarcar posições, ajustes de contas mesquinhos, mas como contribuição ao debate, mínimo que seja, sobre para onde vamos e que pode ser feito para se contrapor ao tsunami ideológico vigente. Mesmo na imensa Crise que mergulhou, em nenhum momento houve um questionamento cabal do sistema do Kapital, as críticas são periféricas e feitas pelos próprios ideólogos do Kapital.

Outras são apenas moralistas, religiosas, mas as mais imprecisas acabam sendo as de esquerda, que interpretam a Crise como terminal ou permanente o que pode nos levar a um desarmamento ou a simplesmente esperar que o Kapital acabe por si, nada mais anti-Marx que isto.

O papel do Estado, o Novo Estado, que surge, emerge dos escombros da Crise 2.0, será de mais controle e violência, a doutrina da “Segurança”, pacientemente cultivada por décadas, assumiu o centro das preocupações da máquina burocrática.

A Política e a Democracia passam a ter um papel secundário, em alguns lugares da terra, de tão desimportante, não existirão. Toda sorte de desvalor das duas atividades (Política e Democracia) foram exploradas e quase criminalizadas pela mídia e ideologia do Kapital. Aqui cumpre lembrar que parte da esquerda enveredou pelo mesmo caminho reforçando o repúdio, junto aos trabalhadores, da Política e da Democracia, esquecendo-se que sem elas, não chegaremos a lugar algum, pois as condições de luta e resistência são sempre piores sob Ditadura, abertas ou disfarçadas.

As bases do novo Estado, que denomino de Estado Gotham City, estão lançadas, dominado pela Burocracia Permanente, sem prestar contas aos congressos, aos presidentes, em estrito cumprimento de regras e vontade do Kapital, facilitando e impulsionando os negócios das grandes corporações mundiais, quebrando regras e barreiras dos antigos estados nacionais, consolidando os blocos regionais e organismos multilaterais, que servem para ampliar o poder e controle do Kapital sobre qualquer instituição.

A questão da Democracia e seus entraves ao novo ciclo do Kapital estão tratadas incialmente no artigo A Democracia é um Estorvo para o Kapital?, que procuro trazer mais luz ao debate, aqui.

Os burocratas usam as portas giratórias: ora estão na NSA, ora estão na Booz Allen; ora presidem o FED, ora é executivo do Goldman Sachs; o burocrata saiu do Banco Central do Brasil diretamente para dirigir o Itaú, são movimentos que nem os olhos mais atentos percebem a fusão entre o que era público ou privado.

A fragilidade da Democracia e da Política se torna evidente, o modus operandi do velho Estado, impediria, em alguma medida, esta relação promíscua tão escancarada. As eleições, os ajustes e os partidos tão idênticos, ou que não se diferenciam, reforça a imagem da pouca eficiência da Democracia.

Mesmo assim, a Democracia (Política) é um Fardo pesado demais para o Novo Estado, seu fim é exigido por uma aliança inusitada: Tea Party e Indignados. Sob o olha feliz da Kapital. O grande Kapital está exultante, pois uniu os extremos (Direita e Esquerda) contra o Velho Estado.

Do traço de Frank Miller (Tea Party) ou as palavras de Negri (Indignados) se unem contra a Democracia Representativa. O Que propõe: NADA. Ambos deixão as mãos, do Kapital, para a implementação do Novo Estado. No texto O Ultraliberalismo é a Barbárie, discuto com mais detalhes a terrível armadilha que parte da esquerda caiu, em particular os ativistas digitais.

Esta é a síntese da Crise 2.0.

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