A turnê internacional de Mariano Rajoy terminou em Bruxelas, acompanhamos seu esforço desesperado aqui na série Crise 2.0, de se cacifar, mostrar-se importante, diante do mundo e na própria Espanha. O fracasso se comprovou com a seguida piora da Economia da Espanha, com a crise dos saques aos bancos, que levou em apenas um dia os clientes sacarem mais de 1 bilhão de Euros do recém-estatizado Bankia. Mesmo assim Rajoy continuou sua viagem.
Ao regressar, ainda desarrumando as malas, encontrou o país em polvorosa, a greve nacional de Educação contra os cortes violentos nos gastos sociais. Mas o pior continua a vir da economia, em particular dos bancos. A conta do Bankia parece um saco sem fundo, começou com 4,5 bilhões de Euros dados por Zapatero, Ex-Presidente, do PSOE, em 2010. A injeção de capital a algumas fusões acalmou temporariamente a situação, mas a crise se aprofundou em 2011, o desemprego e a inadimplência cresceu assustadoramente.
No início do mês de maio, o presidente do Bankia, pediu que o banco fosse estatizado, pois estava insolvente. O Governo “liberal” do PP, assume a conta, que a princípio seria simples, o governo perderia os 4,5 bilhões anteriores, e poria mais 4,8 bilhões, que foi feito por decreto presidencial. Em menos de uma semana um segundo decreto elevou a fatura aos 6,2 bilhões suplementares. E Guindos, Ministro da Fazenda, fechou a conta, dizendo que o valor final seria de 7,5 bilhões de Euros. A conta subiu de 9,3 aos 12 bilhões. Valor que supera o esforço de corte em Saúde e Educação que alcançará os 10 bilhões de Euros.
No dia 18 de maio houve uma corrida desenfreada aos caixas do Bankia, suas ações caíram quase 30 %, mas ontem veio a facada final: A controladora do Bankia pediu 19 Bilhões de Euros, fora os 4,5 de 2010, totalizando os astronômicos 23,5 Bilhões de Euros. Apenas para comparação o Proer de FHC, atualizado, daria o mesmo, mas que foi para toda banca nacional, este valores se referem apenas a um único banco. A fatura da banca espanhola pode chegar aos 70 bilhões de Euros. No Parlamento uma luta surda entre o PP e oposição para que não haja uma CPI que investigue os crimes por trás da quebra, está estampado no El País de hoje.
O líder do PSOE, perguntou: “Nós concordamos com a nacionalização da Bankia. Mas desde então muita coisa aconteceu, e isso representa um dilema muito diferente de três semanas atrás. Vimos que as coisas eram muito piores do que disse inicialmente. O que aconteceu para que passou de 4.500 para 23.000 milhões em duas semanas? Por que não o número 23.000 e algum outro? Se não as aparências e explicações, não vamos continuar a apoiar [a ajuda] Bankia “. No mesmo El País nos informa que, apenas um ex-executivo do Bankia recebeu 14 milhões de Euros de indenização, Aurelio Izquierdo, que foi para o Banco Valencia que também está sendo Estatizado, isto explica muito dos rombos.
As consequências são as piores possíveis o Yeld espanhol está a mais de um mês acima dos 6%, o que indica insolvência geral, mas ontem explodiu e se mantém acima de 6,5%, a luz vermelha assusta não apenas a Espanha, se bater em 7%, o país entra numa espiral de crise muito maior do que a grega, Segundo Estadão de hoje: “Os dividendos dos títulos da Holanda e Finlândia caíram ontem para mínimas recordes, ao mesmo tempo em que os papéis alemães se aproximaram do menor nível recorde, em meio aos temores crescentes relacionados à saúde do sistema bancário da Espanha. A insegurança vinda de Madri incentivou a busca dos investidores pela segurança dos bônus de economias que não estão na linha de contágio da crise de dívida soberana da zona do euro”.
Celso Ming, em sua coluna “A Espanha sob Ataque”, no conta que “A imprensa espanhola não vacilou em definir este dia como “segunda-feira negra”. Nem foi tanto pela queda das cotações da Bolsa de Madri (2,17%), mas pelo salto dos juros. O valor dos títulos soberanos da Espanha caiu a seu nível mais baixo desde setembro do ano passado. O rendimento (yield) avançou para 6,5% ao ano, já mais próximo do nível que os analistas entendem ser o limiar da insustentabilidade (7% ao ano). E que diante do desastre: O presidente do governo, Mariano Rajoy, veio a público, em entrevista não programada, para dizer duas coisas: (1) que não pediria recursos oficiais à área do euro para socorrer os bancos espanhóis; e (2) que os dirigentes do bloco têm de dirimir de uma vez as dúvidas sobre seu futuro. “Precisamos de declarações claras em defesa do euro e da sustentabilidade das dívidas da zona do euro”, disse (Estadão 29/05/2012).
Ao final do artigo Ming diz: “ O que é retirada de depósitos em alguns países passou a ser o oposto em outros. Nesta segunda-feira, o governo da Suíça, conhecido refúgio financeiro global, se viu tão atolado em movimento de entrada de recursos que anunciou que estuda a instituição de controles na entrada de capitais”.
É o estresse sem fim na Espanha, nem a turnê de Rajoy respeitou. Pelo menos uma coisa positiva, Rajoy saiu exaltando Merkel e seu plano de ajustes, voltou declarando Hollandista, se sentiu abandonado pela chanceler alemã.
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