
Há nove anos, numa terça-feira qualquer, meu pai foi ao hospital, estava frágil, como acontecia desde um ano e meio antes quando teve um AVC. Idas ao hospital era comum, depois de uma recuperação difícil, alguns momentos em que não sabíamos se iria resistir, mas ele teve uma melhora significativa, entre março e junho, parecia superar o pior.
Essa ida ao hospital, não preocupava tanto, foi consciente, conversando, mesmo com o diagnóstico de “pneumonia silenciosa”, como ele dizia, o que “mata velho”. O transcorrer do dia as medidas médicas foram aumentando, de internação simples para UTI, até que no início da noite, com a pressão baixa, saturação e batimentos cardíacos baixos, decidiram que seria entubado.
Minutos antes, ele fez piada com a barba grande do meu irmão, perguntou se ele estava virando comunista, Fidel. Nada indicava que seria sua última boa brincadeira, para que não nos esquecêssemos de sua essência, de seu senso de humor aguçado, que não se deixava abater por nada e amava muito viver e aos seus filhos, nesse quesito, meu irmão era o primeiro, por sua enorme identificação com o nosso velho.
Nosso pai se foi há nove anos, não deixamos de tê-lo como presente em nossas vidas, sua figura querida, sedutora, bom pai, excelente avô e companheirão da nossa mãe. Um homem que se refez tantas vezes na vida, meio que como nosso país, de gente que nasce no campo, vai para cidade para dar “estudo” aos filhos, melhores oportunidades.
Para nossa sorte ele desfrutou de nossos crescimentos, orgulhoso de nossas conquistas, todos os filhos “doutores”, pois faz faculdade tem essas, mas mais importante do que alcunha, nossa retidão de vida, de dedicação aos nossos, especialmente aos nossos velhos, os ensinamentos de humildade, gratidão e honradez.
Obrigado, meu velho, quanta saudades do Senhor, sua benção te peço sempre.