
“A felicidade é como a pluma
Que o vento vai levando pelo ar
Voa tão leve, mas tem a vida breve
Precisa que haja vento sem parar”
(A Felicidade – Tom Jobim e Vinícius de Moraes)
A vida é cheia de surpresas e mistérios, dizem por aí, quando na verdade ela é quase 99% de coisas iguais, sem encanto e magia, com uma grande certeza, o fim inexorável que cada um de nós, ricos, pobre, remediados e excluídos. As questões são concretas, reais, em que se luta (a imensa maioria) por apenas se reproduzir, ter trabalho, comida e um teto qualquer.
Sim, muito eventualmente, acontecem coisas mágicas, rápidas, marcantes que dificilmente se repetem, mais ainda, nem sempre se percebe e se vive plenamente esses instantes, desfrutar todo, prolongar o prazer e que se sente vivo e pleno, em que se diz que viver vale a pena e como é bom estar vivo, naquela ilusão de que pode acontecer de novo e de novo.
Sinto dizer, não acontecerá, pois o ciclo da vida é espiral, elíptico, os fatos se sucedem sem ponto de retorno, mesmo que pareça, não é igual e nem teria a mesma qualidade, pode ser até que esse, não aqueloutro é que seja o grande momento, que foi vivido, e agora se apresenta não como repetição, quase sempre como farsa ou tragédia.
Portanto, é preciso seguir a lição dos poetas, aedos, aqueles que entendam de nossa alma, psiquê e sentimentos, aliás, como lembrado pelo bardo inglês o poeta maior da humanidade que escreveu no Hamlet: “Se é agora, é porque não pode ser depois, se não é depois, é porque tem que ser agora, o importante é estarmos prontos”.
Pode ser melancolia, ou apenas pragmatismo, excesso de realidade, pois mais do que a vida seja sonho, está muito mais para ilusão. Identificar os momentos grandes e felizes, é que é a arte, o resto é dor, ou, mais uma vez recorro ao grande mestre inglês, no mesmo Hamlet:
“O resto é silêncio”