O Dr Sócrates entrou na vida do Corinthians em agosto de 1978, permanecendo por quase 6 anos, 298 jogos, com incríveis 172, uma marca enorme para um meio-campista, que imortalizou a camisa 8 do Corinthians e da Seleção Brasileira. Para muito além do futebol, dos 3 títulos paulistas, 1979, 82-83, a maior marca de Sócrates é a famosa construção da Democracia Corinthiana, uma afronta para um país em plena Ditadura, um desafio aos milicos, aos costumes, à mídia que ainda apoiava o Golpe militar e ter que conviver com um dos clubes mais populares do Brasil e que escancaradamente pedia:
DEMOCRACIA!
Os times do Corinthians em que ele jogou, ele foi uma liderança fenomenal.
É quase impossível dissociar a Democracia Corinthiana da imagem de Sócrates, a figura que foi uma das mais lúcidas e vibrantes porta-vozes. Ele jamais aceitou as visões autoritárias de técnicos e esquemas do futebol. Os parceiros de campo como, Wladimir, Casagrande, Zenon, e o querido amigo Adilson Monteiro Alves, mudaram a visão de jogador e de futebol como ópio do povo.
Estabeleceu-se uma relação única no futebol brasileiro entre um time de massa, quase uma religião e um jogador cerebral, que falava de coisa aparentemente distante da realidade desse povo sofrido que vê no Corinthians (e no futebol) o seu escape de alegria, revolta, sonhos e desespero, mas que o líder especial planta uma mensagem de Democracia, de que não é só por futebol, ir além, mais, de não bastava vencer, era preciso democracia, algo tão abstrato, pois a maioria vai aos estádios pela vitória, essa excepcionalidade, reverbera 40 anos depois, nos piores e nos melhores momentos do Corinthians, há um hiato que nos leva à DEMOCRACIA.
Isso se deve muito ao Sócrates.
O legado esportivo do Dr Magrão é imenso. tornou-se ícone/líder de uma geração de craques geniais do Brasil, uma das melhores safras da história que tinha craques como Zico, Falcão, Junior, Cerezo, Eder e Reinaldo, entre outros. Sócrates era o menos atlético, com certeza, entres todos eles, compensava o corpo desengonçado, sua altura e mobilidade, com passes de calcanhar, dribles curtos, lançamentos e gols, muitos gols, de todos os tipos, finalizava bem de fora da área, tinha faro de artilheiro, bom cabeceador e senso de colocação dentro da área para fazer gols, além de capitanear os times e a seleção, era inconteste.
Sócrates brilhou muito como cidadão, como homem público, como personalidade que saiu dos gramados para os palanques, como os da Diretas, Já! Depois nas lutas pelas transformações sociais, o DNA da família tem em Raí, outro craque dentro e fora de campo, uma espécie de continuador e prova que não basta ser craque, tem que ser cidadão, tem que se misturar ao povo, aos seus anseios e defender a Democracia.
São 13 anos sem Sócrates, mas seu rosto, fotos, imagens, exemplos, continuam no meio da torcida do Corinthians, ele faleceu num dia de um clássico que deu o quinto título brasileiro, em 2011, ontem, na véspera desse aniversário, o Corinthians fez uma partida soberba, inacreditável, saindo de um time derrotado, humilhado (primeiro por seus dirigentes). zoado pelos adversários, chacota pela mídia, dado como “morto”, para um renascimento histórico.
Um candidato a ídolo, o holandês Memphis Depay, que parece querer ser o símbolo de uma reconexão do time com a massa, suas idas às comunidades, a interação humana e cultural com a torcida, nos traz Sócrates na lembrança, quase um agradecimento por tudo que ele fez e faz ainda hoje pelo Corinthians, essa ligação do sagrado com o profanos, da magia com o lúdico, do herói com seu povo.
Saudades, Doutor!