Antes de mim coisa alguma foi criada
exceto coisas eternas, e eterno eu duro
Deixai toda esperança, vós que entrais!
(Inferno, Canto III, A Divina Comédia – Dante Alighieri)
Ao se prometer uma nova era, uma ruptura, de que não restaria pedra sobre pedra, de que desse dia em diante, haverá um novo alvorecer, os seus inimigos seriam vencidos num golpe só, numa ação rápida e indolor: Um cabo e um soldado, cuidariam de um poder, um orçamento secreto do outro, uma bazófia de um marajá-general, calaria as urnas, tudo simples e fácil.
O fenômeno do bolsonarismo surgiu, lhe é anterior ou seu útero, através de MBL e Vem Pra Rua, redes e ruas, que criaram uma certeza de que estava surgindo um novo mundo, parido e ungido por eles, nenhuma instituição resistiria ao seu poder, que estavam nas ruas e nas ameaças de redes sociais, nenhuma autoridade seria capaz de lhes contestar, deles e por eles se alimentou a Lava Jato, daquele ex-juiz, a turma dos catões do MPF e PF.
O Brasil seria deles, e foi!
Entretanto, a vida real se mostrou um pouco distinta, a mídia que lhes deu o fogo de prometeu, sentiu que a fome do monstro (gigante, criatura disforme) fascista era cada vez maior, difícil de controlar e nem seu poder de sedução e holofotes dariam conta de um novo acerto, uma trégua, uma paz momentânea, a solução de continuidade e cabresto histórico.
Daquele delírio midiático, de memes, fakes, estupidez, pariu o seu homem ideal, o Frankenstein, a criação divina, não-divina, de anos de escuridão, direto para as luzes, o personagem farsesco, Bolsonaro, figura obscura e hedionda, sem nenhum pudor, caráter, pronto para se aproveitar de tudo, ele e sua família, anos e anos de desserviços, de culto ao que há de pior na humanidade, Ustra, Pinochet, Medici e tantos e tantas coisas horrendas.
Ungido por um resultado eleitoral absolutamente viciado pela lava jato, a coisa criada, veio sem cérebro, sem inteligência, mal projetada, um governo de ocasião, jamais imaginado por ele, o que viria a ser quatros anos de vexames, de desprezo pela humanidade, pela vida, a insensibilidade na Pandemia, é a confirmação da sociopatia, imitar quem morre sem ar, rir de piadas grosseiras, criar novos e velhos inimigos.
O que se viu, nesse 07 de setembro, assim como no ano de 2021, em 2020, foi a exposição publica de uma figura tétrica, misógina, machista, que cultua um PINTO, atribuindo alguma rigidez suspeita, isso tudo em nome de Deus, da Família e da Pátria, usando do dinheiro público, da máquina, maculando instituições, autoridades e pessoas, num máquina de moer reputações e valores humanos, como poucas vezes vista.
A diminuição de público, uma certa apatia, pode virar ressaca, porque ontem, como nos outros 07 de setembros, não houve ruptura, não se quebrou a ordem, apenas em palavras chulas e desconexas, arroubou e ufanismo que não trazem resultados práticos, aliás, desmoraliza, pois o calendário eleitoral e a institucionalidade, mesmo medrosa, covarde, cambaleando, mas vai se impondo.
Por quantos anos esse esgoto a céu aberto vai feder? Quanto tempo vai nos lembrar dessa quase década louca e delirante iniciada em junho de 2013. Derrotar o monstro no primeiro turno se impõe, para que não tenha energia para vilipendiar o Brasil.
É isso, ou nada.