Nestes momentos sombrios da humanidade, mesmo que alguns reneguem, os mitos e mitologemas gregos ajudam a entender, ou pelos jogar luzes, a psique humana, os desígnios das ações humanas, dos mais simples aos mais poderosos, como realidade mítica e fática da existência humana. As raivas e as maldições lançadas por deuses ou humanos, uns contra os outros e as hamartias decorrentes delas.
O Poder é o objeto de desejo, uma luta geracional, que se dá dentro de um núcleo familiar ou de uma tribo, de um grupo étnico, da polis ou de um país. Os arquétipos que dão o sentido dessas lutas e são a identidade que se prologam por gerações, desde o passado mais remoto, mas que se estende até o presente, reproduzindo uma realidade distante, trazidas ao contexto atual, de uma forma tão igual, que assusta.
As maldições familiares dentro da mesma família ou em guerra com outras, muitas vezes de origens comuns, mas que se dividem, entram em conflito de sangue por gerações, sem encontrar paz, ou perdão. Uma espécie de “pecado original”, na acepção bíblica, vai atravessar por gerações aquela desgraça, a Hamartia, de um patriarca/matriarca e se espalha por seus descendentes.
Foi assim com os Atridas, Menelau e Agamenon, que descendiam de Tântalo, e suas ações torpes, perante os deuses, como descendente deles, filho que era de Zeus e Plutó, além de contar os segredos dos seus pais aos homens, roubar ambrosia e néctar, matou o próprio filho, Pélops e o serviu em banquete aos deuses. Tântalo, por sua ação sórdida, lhe rendeu o castigo eterno de viver no Tártaro, como descreve Junito de Sousa Brandão:
“Tântalo foi lançado no Tártaro, condenado para sempre ao suplício da sede e da fome. Mergulhado até o pescoço em água fresca e límpida, quando ele se abaixa para beber, o líquido se lhe escoa por entre os dedos. Árvores repletas de frutos saborosos pendem sobre sua cabeça; ele, faminto, estende as mãos crispadas, para apanhá-los, mas os ramos bruscamente se erguem.”
Pélops, ressuscitado pela ação de Zeus, torna a vida terrena, antes, serviu ao Deus Posídon, mesmo Pélops roubando comida e bebida dos deuses olímpico, o amor que Posídon lhe devotava era maior, assim, ajudou-o, na terra, a conquistar Hipodamia, filha do rei Enômao, que só permitiria o casamento da filha, se o pretendente o vencesse numa corrida de cavalos (bigas). Usando de um ardil, Pélops, com ajuda de Hipodamia, corrompem o cocheiro Mírtilo, que serra o eixo do carro de Enômao, assim, durante o desafio, ele caí e morre despedaçado, Pélops, joga ao mar Mírtilo, esse, o amaldiçoa.
Pélops e Hipodamia são os pais de Atreu e Tieste, que darão continuidade ao destino funesto da linhagem que vem de Tântalo.
Tântalo e sua ambição, representam o desejo insaciável, a sede de conquistar e de não se satisfazer com o que consegue, daí o castigo final no Tártaro, jamais conseguir o que deseja, noutra versão ele é preso sobre um rochedo que ameaça desmoronar, para permanecer vivo ele tem que se manter em equilíbrio, assim, frustra o seu desejo sem limite.
Quanto à Pélops, a questão que se impõe é a sucessão do Rei velho (Enômao), que a todo custo tenta impedir o casamento de sua filha, pois é sabedor de que um rei novo pode “fecundar”, a razão fundamental do Poder, a linhagem. A luta das gerações e seus ardis pelo poder, a consequência, para Pélops e Hipodamia é que seus descendentes, o poderoso Atreu e seus filhos, Menelau e Agamenon, ainda mais poderosos, carregam a maldição da família.
Esse tema de lutas e guerras de sangue, acontecem na mitologia grega, ou no sertão nordestino brasileiro, no velho oeste dos EUA, na Rússia contra a Ucrânia, no Irã contra o Iraque, entre Palestinos e Israelenses e por tantos povos e lugares.