Alguns debates históricos, teses, táticas, vão e voltam à cena de acordo com determinada conjuntura, especialmente, em anos de eleições gerais, ou após rupturas bruscas que o grande capital faz ao seu bel prazer, alternando Democracia e Liberdade, com Autoritarismo e cerceamento de liberdade, sempre no que mais lhe favorece para manter o sistema capitalista sem riscos, mesmo nas crises de superprodução de capitais.
Uma dessas teses históricas é sobre o etapismo, ou da necessidade de alianças com uma burguesia nacional para governar, para só depois a tomado do Poder pelos trabalhadores, a revolução por etapas. Uma visão clássica do stalinismo de chegar ao poder, uma espécie de interpretação de como os Bolcheviques tomaram o Poder, tendo como pressuposto que antes houve um governo Menchevique (burguês nacional).
Essa tese, ainda que fosse válida, circunscrevia-se à Rússia de um capitalismo ainda incipiente, ou com uma economia com baixo desenvolvimento industrial, boa parte do país era agrário e com relações de transição entre feudalismo e capitalismo no campo. Essa tese praticamente desconhece que Lenin escreveu o livro tratando do Imperialismo, em que demonstra que mesmo com relações múltiplas, o determinante na Rússia era o Capitalismo, na sua forma monopolista.
Por décadas, os partidos stalinistas no Brasil e no Mundo, partiam dessa análise da revolução por etapas, então, desesperadamente, buscavam uma “Burguesia Nacional” (progressista?) para se aliar, fazer governos nacionalista e com o avanço, o partido vai se tornando hegemônico e faz a revolução. É um esquema, uma transposição mecânica, artificial, de conjunturas e realidades tão distintas, mas que tem que se adequar ao pressuposto teórico, mesmo que por décadas dessem com os burros n’água.
Nos anos 80, essa tese teve em voga, com a queda da Ditadura, levantada pelo PCB e PC do B, mas o PT, com influência de trotskistas e setores anti-stalinistas, foi amplamente rechaçada de que não haveria as duas etapas para revolução ou para tomado do Poder pelos trabalhadores.
Grupos minoritários traziam outras análises de Economia Política, demonstrando que a burguesia brasileira era sócia minoritária do grande capital internacional, aceitava à condição de subordinação e não havia aquela base de “burguesia nacional” (progressista), mais ainda, o desenvolvimento monopolista com a fusão dos capitais, com o Estado sendo um dos vetores, tanto de empresas estatais, como também parte fundamental dos interesses do capital estrangeiro-nacional.
De toda forma, depois da queda do muro de Berlim, o PT passou por uma longa etapa de adaptação, do programa anticapitalista rumo aceitação da Democracia Burguesa (o Capitalismo). Assim, passa a ser da perspectiva de não ruptura ou de trabalhar dentro do Estado, para melhor administração, fazendo governos que faça concessões às demandas históricas, distribuição de renda, terras, sem mexer na estrutura de classes e de Poder.
Por este caminho, a velha tese do etapismo, ainda que de forma sutil, ganha força na prática no PT, mesmo que no programa não se explicite tal tese.
Nesse novo momento, depois dos profundos retrocessos dos últimos seis anos, com o Golpe de 2016, com dois governos (Temer e Bolsonaro) ultraliberais, o segundo aprofundando um viés autoritário, criou-se novamente o campo fértil para a retomada da tese da busca de uma “Burguesia Nacional” (progressista), como aliança imprescindível para vencer a conjuntura atual, o PC do B, nunca abandonou tal tese, a novidade é o PT ir de forma consciente para a mesma tática política.
O debate está aberto, inclusive, para reafirmação de teses contraposta, mesmo em aliança ou dentro do PT, o partido hegemônico da Esquerda Brasileira.