“Pois soube da Terra e do Céu constelado
que lhe era destino por um filho ser submetido
apesar de poderoso, por desígnios do grande Zeus.
E não mantinha vigilância de cego, mas à espreita
engolia os filhos. Réia agarrou-a longa aflição.”
(Teogonia – Hesíodo)
O filho de D’Us, o Messias, virá ao mundo, na profecia de Isaias, para salvar seu povo escolhido, numa clara separação da humanidade entre os eleitos e os demais. A cosmogonia Judaico-cristã tem muitos elementos de outras religiões, no sentido restritivo de Deus único, ainda que ele, no caso cristão, tenha uma tríade, pai-filho-espírito santo.
A mitologia grega com seus deuses e seus sucessores violentos, as lutas entre gerações, entre pais e filhos pelo “poder central”, mesmo com a multiplicidade de divindades, houve um afunilamento para um desfecho de criar um Deus-Pai, Zeus, é o pai dos deuses e dos homens, o romano Ju-piter (Deus-Pai), não um deus-único, mas uma divindade superior às demais.
O poderoso Zeus, filho de Cronos e Réia, não à toa, teve seu nascimento na Terra, no Monte Ida (Creta), pela precaução de sua mãe, preocupada com o destino dos filhos, todos engolidos pelo pai (Cronos), com medo de que um deles tomasse o seu poder, assim, eram devorados quando nasciam, menos o “filho do homem”, que veio a terra não como enviado, mas como parte de sua iniciação, inclusive, sua proximidade com a raça dos homens.
O ardil de Réia foi parir o filho na terra, para que ali crescesse, dando a Cronos uma pedra enrolada em cueiros, o raivoso pai, apenas engole mais um filho de sua prole. O mais importante é a condição do “filho do homem” ser criado na terra, o que não é incomum em tantas religiões e custos, o simbolismo de Zeus é que, ao crescer, sucede o pai, se tornando a maior das divindades.
Sua relação com a humanidade será de amor e ódio, por não ter a devoção e vassalagem inconteste, sem a intervenção do “tio” Prometeu, que ajudou a subida ao poder e o estabelecimento do Olimpo como centro das divindades, ao mesmo tempo entrega aos homens o fogo (a ciência, consciência, inteligência) para que estes não sejam destruídos pelo poder despótico de Zeus.
A visita, a vinda do “filho do homem” à terra é parte de uma relação complexa de fé e de reafirmação do poder divino, uma forma de marcar o seu povo escolhido.
O Cristianismo, de certa forma, não existiria sem as formulações de Paulo de Tarso, um grande intelectual e de conhecimento militar e de política. A construção do cristianismo foi muito além de mais uma Religião, pois ela foi formatada visando unir o Poder Político e Espiritual.
Nesse sentido, entre as sutilezas, a própria compreensão de Verdade como revelação e libertação abstrata, como sendo a palavra daquele jovem profeta judeu dissidente. Algo não incomum, a questão da verdade, mas ela foi transformada em ideologia e Fé.
Essa duas semanas, a Páscoa Judaica e Cristã, uma seguida da outra, o que nos leva à tantas viagens, como essa, feitas por um agnóstico, como dizia Eco, tão apaixonado por religiões e deuses e deusas.