“O deus soberano, cujo oráculo está em Delfos, nem revela, nem oculta coisa alguma, mas manifesta-se por sinais”. ( Heráclito)
É por um mero acaso a maioria das chamadas “revelações”, ou dos insights que modificam os rumos da vida de uma pessoa ou de um estado?
Há uma construção anterior, uma espécie de preparação, ritos de passagens bem definidos, até quando acontece o momento perfeito para ouvir ou saber o verdadeiro potencial que você já carregava consigo, ainda que não tivesse certeza ou resolução.
Ora, na charneca molhada por intensa chuva, depois de uma grande batalha vitoriosa, Macbeth, é saudado pelas três bruxas premonitórias, que lhe dizem sobre seu futuro, os cargos que ocuparia em breve. As tais revelações causam impacto, entretanto, apenas a força decisiva de Lady Macbeth é que impulsiona e que fará o herói Macbeth se tornar resoluto sobre seu destino, nobre ou não, pois não nos cabe valorar a decisão funesta.
Assim é predito o destino de Aquiles, por Tétis, a deusa marinha, sua mãe mítica, de que ele tem dois caminhos: Ir à guerra de Tróia e ser celebrado como o maior herói grego, entretanto, morreria ainda muito jovem, ou ficar entre os mirmidões, sucederia Peleu, seu pai terreno, e seria grande rei do seu povo, morrendo na velhice. O Sentido da escolha torna Aquiles o herói por excelência.
Psiquê vivia o sonho do amor eterno, nada poderia mudar sua felicidade. Do oráculo de que a jovem de extrema beleza deveria ser empurrada de um penhasco, pois seria salva por um monstro para desposá-la. Ao invés do “monstro”, Eros lhe salva e se apaixona terrivelmente por ela. Então, engana sua mãe, Afrodite, para viver com Psiquê. Bastava-lhe que ela ali permanecesse, no amor-prisão, isolamento. Deu-se o que se deu.
Alertado sobre os idos de março, Júlio César não recuou. O famoso general que com suas enormes conquistas lhe deram grande prestígio, numa Roma grande e dispersa, com a malícia de poder partilhado, uma república de aristocratas e que não se submeteria a um “imperador”. Ao atravessar o Rubicão, o caminho de César era sem volta, e não seria uma previsão funesta que lhe faria retornar, as facadas não lhe tiraram a grandeza histórica.
Medéia apaixonada por Jasão, rompe com seu pai, Eetes, rei da Cólquida e ajuda, com suas porções mágicas, o estrangeiro grego a cumprir as tarefas para ter o velocino de ouro, Depois foge para Europa com ele, para viver num outro país, na companhia do volúvel Jasão. Ainda que tivesse os dons da adivinhação, e com todos os oráculos, Medéia segue em frente sabendo do porvir, não fugindo dele.
Hamlet pressente seu fim numa tola brincadeira, uma demonstração de habilidade com espadas, um jogo, uma trapaça. Mesmo ele tão vacilante e tão reflexivo, mais uma vez entra em debate consigo, se deveria ou não participar do torneio, previsível armadilha. Por fim, decidir, e sela seu destino, com um ar heroico, improvável pela sua enorme inteligência e cautela, mas o fim é o fim, o resto é silêncio.
Esses são nossos arquétipos, aparentemente distantes de nós, pequenos, no entanto, se moldam à cada realidade, mesmo que imperceptível, mas se cumprem quase sempre de forma integral, numa observação mais próxima, se conseguirá verificar.
Divagações de um domingo.