“Vi o tempo passar
O inverno chegar
Outra vez, mas desta vez
Todo pranto sumiu
Um encanto surgiu
Meu amor” (Você – Tim Maia)
O ano de 2020. no calendário “ocidental”, cristão, padronizado, há outras contagens do ciclo anual, tomemos esse como padrão, foi um dos mais terríveis da humanidade, por conta da Pandemia do Coronavírus, que pôs a existência humana em xeque, por mais desenvolvimento tecnológico que se tenha atingindo, um vírus veio para derrotar a arrogância e o modo de vida, no tempos atuais.
As reflexões provocadas pelo momento de crise, deveria (ou poderia) nos levar à especulação sobre o surgimento da aventura humana na terra, suas crenças e suas possibilidades, assim como a relação entre ciência e religião, que vão preenchendo as lacunas da existência humana e suas incertezas, quer sejam racionais ou apenas subjetivas.
A humanidade é um mero acaso, um acidente (big bang) que permitiu a combinação perfeita, assim se fez a evolução, numa seleção natural de desenvolvimento, até os nossos dias e nossos padrões cerebrais. Por outra, pode ser algo bem mais simples, o homem/mulher é fruto da criação de um D’Us ou de deuses, que nasceu do sopro de vida ao barro, que veio do pó e ao pó retornará um dia.
Aqui pouco importa a minha, a sua, ou de outros, a ideia de onde viemos, se de uma evolução ou se de uma criação divina, continuaremos sempre no campo das incertezas, da especulação do que efetivamente somos, mais, se somos apenas nós que carregamos essa maturidade divina ou natural, que nos fez inteligentes e consigamos nos comunicar e nos fazer entender, numa palavra, a Consciência.
Esses pressupostos, ciência ou metafísica, não resolvem a questão do que virá depois, do sopro de vida, que passa uma período (longo ou curto) na terra, e por que na terra? seguimos no escuro, ainda que alguns decidam por si, o momento de terminar sua existência, sem esperar pelo fim ou ser surpreendido com um acaso, por morte violenta e abrupta, com pouca ou mais idade, mas findada repentinamente.
A graça da vida talvez seja essa imprevisibilidade, ainda que nos torture por tantas incertezas ou pela ruptura daqueles que partem sem ao menos sabermos que estão indo.
Experimentar essa terrível sensação, da perda inesperada, absurdamente destruidora, é mais uma razão para que especulemos com mais pragmatismo sobre nosso ser. Somos dilacerados, a morte, o fim da vida, é a percepção última e mais radical da vida.
Nesse sentido, as religiões, não importa qual seja, elas funcionam como amortecedores, criando uma série de confortos que podem amenizar a dor mais profunda, uma aceitação sobre a dor individual e a perda de perspectiva nesse eventos tão dolorosos.
A escatologia é a saída, ou uma tentativa de prover meios que possam amenizar a maior de todas as incertezas, do que é a vida após a morte, para onde iremos (se iremos), ainda que, alguns casos, de que idas e vindas sejam comuns, a sua existência seria feita de várias vidas, não uma única.
Por mais estranho e improvável que assim seja, abre uma esperança de continuidade, ou uma resposta ao egoísmo comum que nos atinge, ao ter consciência do que é a vida é breve, a existência frágil, ou, apenas, a não aceitação da morte.
A sucessão de anos, 2020. 2021, respondem à ordem de comando, um renascer, a possibilidade de se reencontrar, recomeçar, para que possa efetivamente ser um ajuste de contas, internos, ou externos, que dão o poder de fazer algo diferente, até então.
A vida e sua dialética interna, seus encantos e dores, amores e finitudes, beleza e horror, vida e fenecer.