“Ah! Himeneu! Deste-me a existência
e como se isso não bastasse inda fizeste
a mesma sementeira germinar de novo!” ( Édipo Rei – Sófocles)
Mergulhar no mundo grego, sua rica mitologia, sempre é um profundo exercício de busca pessoal, em especial, sobre coisas que me afligem, aqui não precisando explicitar motivos ou razões para tais empreendimentos. Muitas vezes vou ler determinados temas, no caso era uma perspectiva de Narciso, aí me deparo com textos lidos e não compreendidos, mas que têm perfeito sentido, hoje.
Mergulhei no mito de Himeneu, que, segundo Junito de Souza Brandão, em “grego Ὑμέναιος(Hyménaios), talvez proceda de χιμέμ (hymén), “grito do cântico nupcial” e seria, eventualmente, idêntico à χιμέμ (hymén), hímen, película, membrana. Himeneu é o deus que conduz o cortejo nupcial e miticamente era filho de Apolo com uma das três Musas, Calíope, Clio ou Urânia ou ainda filho de Dioniso e de Afrodite”.
A primeira associação à Himeneu é o androginismo (tema que será tratado em futuro post) do personagem, sua extrema beleza, confundia a todos, muitas vezes tomado por mulher. Ainda muito jovem se apaixona por uma bela eupátrida (Classe Social dos bem-nascidos), o que se tornou um problema, pois Himeneu era pobre, sem chance de contrair núpcias com a jovem. Ele passa a seguir a jovem, como Eco fizera com Narciso, mas em condições piores.
Por obra da sorte e do destino, Himeneu, foi sequestrado por piratas, com várias jovens atenienses no templo Elêusis, dedicado a Deméter. Sem perceber que se tratava de um rapaz, ele é deixado junto com as moças, sem maior preocupação. Ao chegarem a uma ilha deserta, os piratas, foram descansar, Himeneu, aproveita a oportunidade e com muita coragem, mata um a um, os seus captores.
Deixa as jovens na ilha e volta a Atenas, lá faz um acordo com as famílias de que libertaria todas as jovens, se recebesse a sua amada em casamento.O acordo foi aceito prontamente, as jovens voltaram e Himeneu teve suas nobres núpcias, além do eterno agradecimento, seu nome passa a ser associado como de bom augúrio em todos os casamentos.
Ele preside os casamentos, seu nome era pronunciado e invocado como benção, assim como provável primeira relação sexual dos nubentes. Antígone, por exemplo, já no cárcere, lamenta a sua sorte, invocando Himeneu, por não ter consumado o casamento com Hêmon:
“O deus dos mortos, que adormece a todos,
leva-me viva para os seus domínios
sem que alguém cante o himeneu por mim,
sem que na alcova nupcial me acolha
um hino; caso-me com o negro inferno.”
Depois, aprofunda seu desespero:
“Sem que me chorem, sem amigo algum,
sem cantos de himeneu sou arrastada”
A maldição de sua família, os Labdácidas, chegou até ela, nem mesmo o prazer carnal, pôde experimentar, o que torna suas lamúrias mais fortes. Há uma dimensão simbólica enorme, nos dois mitos, que superam a questão sexual, mas que também determinante em ambos os casos.
Himeneu, para os homens, será o patrocinador dos casamentos na Grécia, enquanto que a similar função é Hera quem desempenha no Olimpo.
Poetas e bardos, pelos séculos seguintes, cantam em homenagem ao Himeneu, no sentido romântico ou de luxúria, do prazer, da perda da virgindade (“inocência”).