2551: A história de um post

“Casamento com Vesta e Himeneu como Protetores e Conselheiros da União de Vênus e Marte”, pintada por Ticiano em 1532

Si un jour la vie t’arrache à moi
Si tu meurs, que tu sois loin de moi
Peu m’importe, si tu m’aimes
Car moi, je mourrai aussi
(Hymne à l’amour – Édith Piaf)

Algumas vezes escrevi posts para situações em que vivia/vivo, como mensagens para mim mesmo, um certo jeito de refletir sobre questões resolvidas ou não, outras para amadurecer ideias, sentimentos, dores, angústias e aflições que nos atingem, da mais varias formas e temos dificuldades de lidar, expressar para alguém ou para nós mesmo, escrever, nesse sentido, é uma forma de conversar com nosso íntimo.

Doutras vezes quis deixar escrito algo para as pessoas mais próximas, de um círculo mais íntimos, que um dia revelaria, pois naquele momento, não tinha certeza de que seria entendido inteiramente, poderia ser mais doloroso, não resolvendo nada, nem para mim, nem para quem escrevi.

Letícia e Luana, minhas filhas, por virem depois de mim de de Mara, sempre sonhava que elas um dia lessem e através daqui entendessem o que eu penso, as minhas contradições, ideias, algum método, meus limites humanos, intelectuais, coerência com muitas coisas, outras não, quem sabe quando não estiver mais aqui. Letícia se foi, nem sei se me lia, se teve interesse, talvez ela tenha sido mais literal, conviver e viver o que nos cabia.

Ainda em agosto de 2016, num momento lindo da curta vida dela, em que se entregava de corpo e alma à Odontologia da USP, ela tinha 18 anos, uma garra, saía das quimioterapias e ia para faculdade, uma disposição inacreditável. Naquela época muitos amigos e amigas, namoravam, ficavam, tinhas relacionamentos, sexo, coisa natural pela idade, Lelê estava numa batalha pela vida, muitos dos garotos, penso, tinham receio de um envolvimento com ela, isso me angustiava muito.

Por escrevi um texto chamado Himeneu. Claro que era inspirado e para ela, tinha uma relação com o desespero de Antígone, que foi condenada por Creonte e não consumaria suas núpcias (o canto de Himeneu) com Hemon, no belo trecho da obra Antigone:

“O deus dos mortos, que adormece a todos,
leva-me viva para os seus domínios
sem que alguém cante o himeneu por mim,
sem que na alcova nupcial me acolha
um hino; caso-me com o negro inferno.”

Isso calava fundo em mim, um certo desespero porque tudo era incerto, o dia seguinte, o que viria.

Letícia conheceu um grande amor, a vida lhe sorriu nesse campo, mas a vida lhe foi breve. O texto revi por acaso e me trouxe uma vontade de contar porque saiu aquele texto, claro que não tive a oportunidade de dizer para ela.

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Author: admin

Nascido em Bela Cruz (Ceará - Brasil), moro em São Paulo (São Paulo - Brasil) e Brasília (DF - Brasil) Advogado e Técnico em Telecomunicações. Autor do Livro - Crise 2.0: A Taxa de Lucro Reloaded.

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