Arnobio Rocha Crise 2.0 A Crise dos Refugiados Assombra a Europa

1247: A Crise dos Refugiados Assombra a Europa


O desespero para entrar num trem em Budapeste (Hungria) – (Foto Reuters)

O desespero para entrar num trem em Budapeste (Hungria) – (Foto Reuters)

A Europa colonizou violentamente a América e a África, em especial essa última, pois além de explorar e roubar todas as suas riquezas naturais, seus tesouros, destruir civilizações, provocou e armou as guerras tribais. Mas não se deram por satisfeitos, os europeus ainda cometeram o maior crime contra a humanidade, pois “exportaram” os africanos para que fizessem trabalho escravo na América e na própria Europa.

Foram séculos de desonra e de exploração da miséria humana, cessando apenas a poucas décadas, das ocupações militares e de direção despótica dos destinos de vários países africanos. São crimes impagáveis, mas que continuam a ser cometidos dia a dia, com a atual crise migratória. Os navios negreiros estão de volta à cena, o desespero para se chegar na Europa, que agora em crise, age barbaramente recusando a entrada e submetendo à morte violenta centenas de pessoas.

A questão é humanitária não adianta fechar fronteiras e entrega os africanos à própria sorte, a última guerra de rapina, a invasão da Líbia, para “derrubar” Khadaf seu resultado, hoje, assombra o continente, que agora finge não ser com ele. A indústria armamentista europeia e dos EUA realizou seus lucros na guerra da Líbia, por acaso oferecerá armas para expulsão dos “visitantes incômodos”? A resposta parece muito óbvia.

Ao mesmo tempo, desde 1991, na primeira guerra do Iraque, o Oriente médio virou praça de guerra e invasões, causando mais desequilíbrio, sem jamais trazer nenhum sinal de democracia. Tudo ainda vitaminado pela “guerra ao terror” iniciada em 2001, após a queda das torres gêmeas, depois o inventivo as tais “primaveras árabes”, agora o feitiço se voltou contra o feiticeiro. O resultado final é o Estado Islâmico e sua guerra sem fronteira.

A política de derrubar o governo da Síria, hoje produz uma horda de pessoas fugindo desesperadamente do fogo cruzado. Sírios, curdos, iraquianos batem em retirada rumo as fronteiras orientais da Europa, a fragilidade grega facilita a entrada e o corredor humano segue em comboio como poucas vezes visto, entrando por todos os lados.

A simbólica foto do garoto sírio morto na praia apenas demonstrou a crueldade da situação, são quase três mil mortos na travessia dos mares e campos, desde janeiro de 2015, mas aquela visão de Aylan Kurdi, como se dormisse, assombrou o mundo, trazendo à luz a verdadeira tragédia humana, causada pelas guerras, conquistas e hipocrisia comandadas pelos EUA e UE.

A crise econômica interna da UE, com sete longos anos, é o maior agravante desse novo tempo, a rica Alemanha, que se alimentou da desgraça dos demais sócios (Espanha, Portugal, Grécia), tenta impor limites à entrada dos refugiados, controlando assim o fluxo migratório, pois nos últimos anos o destino comum dos cidadãos europeus tem sido para Alemanha, absorvendo melhores técnicos, engenheiros, médicos, fugidos da crise geral de seus países.

É bom relembrar as palavras ditas a cerca de um mês, pelo ex-primeiro-ministro grego, Alex Tsipras, sobre os refugiados: “É evidente que o fluxo de refugiados e migrantes resulta das intervenções militares do Ocidente, em particular na Síria e na Líbia, bem como no Iraque e Afeganistão, no passado recente”, lembrou Tsipras, contrapondo que hoje são “os países de acolhimento a serem chamados, infelizmente, a lidar com esta situação grave, tanto para a Itália como para a Grécia”. (Grifo nosso – site InfoGrécia, 09/08/2015).

Calcula-se em quase 500 mil refugiados, contatos de janeiro de 2015, entretanto, como informa o site EuroNews, apenas 160 mil seriam recebidos em caráter emergencial pela UE, em decisão de comissariado, nas palavras do seu presidente, Jean-Claude Juncke “A Comissão já tinha proposto um mecanismo de emergência, em maio, não agora, para distribuir inicialmente 40 mil requerentes de proteção internacional que chegaram a Itália e à Grécia. Por essa razão, propomos agora um segundo mecanismo de emergência que contempla mais 120 mil pessoas que chegaram a Itália, Grécia e também à Hungria. Terá de ser feito de modo vinculativo”, sublinhou o presidente do executivo comunitário. ( EuroNew, 09/09//2015).

A crise é acentuada na Hungria, Áustria, Grécia e Itália, que são portas de entradas para o “sonho europeu”, a concentração de refugiados criou uma paisagem de caos, em especial na Hungria, cujo sentimento contra os refugiados é mais exacerbado, tendo a frente, seu governo atual, que inclusive constrói uma ampla cerca na fronteira com a Sérvia para impedir entrada dos “indesejados”. Parece um velho filme com o Muro de Berlim renascido.

Aliás, como informa o site DW,  “O primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orban, afirmou em um artigo de opinião publicado no jornal alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung (FAZ) que o fluxo migratório representa uma “ameaça às raízes cristãs” da Europa, e conclamou os países da União Europeia a controlar suas fronteiras antes de decidir quantos refugiados podem abrigar”. Ainda, observa, o DW, que O primeiro-ministro, cujo governo conservador é considerado autoritário e antidemocrático pelos seus críticos, afirmou que seu país está “sobrecarregado” com a grande quantidade de refugiados. Ele fez questão de apontar que a maioria dos migrantes é de muçulmanos, e não de cristãos. (DW, 03/09/2015). 

Ou seja, eles são “muçulmanos, não cristãos”, portanto menos “humanos”. É o fim.

Silenciosamente os EUA assistem a crise estabelecida na Europa, como se não fosse com ele, ou que não tivesse nenhuma responsabilidade, nada como bater palmas para o Caos.

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