O futebol me define. O post 999 é dedicado aos artilheiros. Seria impossível ser o que sou sem o futebol, a paixão primeira, a vontade de jogar, esfolar os dedos no calçamento, descalço ou de conga, ou de kichute. Desde muito cedo o futebol alimentou minhas fantasias provocando grandes felicidades ou tristezas profundas. É aquele momento que você se sente não o melhor ou pior, mas o que é capaz de alegrar um grupo, seus amigos, familiares e a si mesmo. E futebol vem de cedo, mesmo na casa em que os pais não assistem como no meu caso, mas que as ruas convidavam para mais uma pelada.
Nas distantes garagens ou no campinho improvisado, nossos primeiros ídolos tomavam forma em nossas jogas, mas principalmente nos gols, e que gols. Aqui entra a mística da camisa 9, aquele cara que pode ser grosso ou craque, mas que tem como ofício empurrar a “gorduchinha” para o fundo das redes. O Nove é Nove, não tem explicação, nem importa se ele vai usar a camisa onze (11 – Romário) ou mesmo a Dez ( 10 – Roberto Dinamite), o artilheiro tem que cumprir seu papel principal, fazer o gol e deixar a torcida louca de felicidade.
Em 1978, o Nove era Mario Kempes ( que vestia a 10, mas era Nove de ofício), o artilheiro da copa, mas meu Nove era Reinaldo, o Rei, aquele baixinho supercraque do Atlético Mineiro, que levantava o braço de punho cerrado, na época nem sabia seu significado, mas era marcante. Além dele, outro com camisa 20, mas também nove, Roberto Dinamite, do Vasco. No time com a Dez, Roberto, era espetacular, carregava nas costas a responsabilidade de lutar contra o poderoso Flamengo, o maior dos campeões naqueles anos, com Zico, um dez, que fazia muitos gols mas não era Nove, que depois trouxe um Nove grosso, mas fazedor de gols, o índio Nunes, como jogava, que raça e oportunismo, fez os gols mais importantes do Flamengo, final do Brasileiro, contra o Reinaldo, mesmo contundido fez dois gols, mas Nunes fez aquele inacreditável gols pela esquerda. Nunes ainda faria mais dois no mundial no Japão.
Naqueles anos ainda tinha Serginho, o nove do São Paulo, o chulapa, estilo rompedor, brigador, em todos os sentidos e artilheiro, como fazia gols, de todas as formas. Nos jogos da Democracia Corintiana um jovem, grandalhão, desengonçado, aparecia para nossa felicidade, Casagrande, o Casão, ali dividindo com Sócrates, o mago camisa 8, que podia ser Nove, por tantos gols marcados. Em Campinas, no Guarani, surgiu Careca, o típico centroavante craque, forte, driblador e oportunista, com meros 17 anos foi campeão brasileiro por um time pequeno, surpreendendo o país inteiro. Careca brilhou no São Paulo, depois mais intensamente no Napoli, que era de Maradona, um Dez como Zico, mas que era nove de alma. Ali, Maradona e Careca, fizeram a mais linda história do sofrido e humilhado povo do sul da Itália. Careca nunca deu sorte na Seleção, em 1982 se contundiu, em 1986 e 1990, dois times que não decolou e não levou o artilheiro ao seu máximo.
Por esta época surge o maior Nove (que jogava com a Onze) que vi na área: Romário (Romário:O poeta dos gols). O Baixinho era inacreditável, ninguém conhecia os centímetros da grande e pequena área. O supercraque já no Vasco com poucos anos mostrava seu imenso talento e irreverência. Depois no PSV e a explosão no Barcelona. Mas foi na seleção que Romário se mostrou gigante, a classificação para copa naquele jogo contra o Uruguai no Maracanã é uma das mais extraordinárias partidas de um centroavante de seleção, o desempenho nos EUA que garantiu o tetra, tudo passou pelos pés do poeta dos gols.
Ali, passo a passo, Ronaldo(Ronaldo, o mural do Corinthians e Neto x Ronaldo: Obrigado “Gordinhos” ), o fenômeno, o maior artilheiro em copas do mundo, o cara que, feito fênix, ressurgiu das cinzas tantas vezes. O espetacular artilheiro do Barcelona, das arrancadas incríveis, dos muitos dribles e muitos gols, depois na Inter de Milão e os infernos das contusões. As duas paradas fatais em 2000 e 2001 parecia que encerrava precocemente a carreira de Ronaldo, mas eis que em 2002, ele volta mais espetacular se tornando campeão do mundo e artilheiro da copa. Depois em 2009, já muitos e muitos kilos acima do peso, Ronaldo, faz mais um milagre, transforma o Corinthians de desmoralizado no maior clube do país, com atuações inesquecíveis, com uma técnica e habilidade que desafiava a gravidade do peso e das contusões passadas. Dos que vi em campo, seguidamente, com a idade e peso fora do padrão, Ronaldo foi o mais espetacular de todos, não sei se verei outro igual.
O futebol é uma arte cujo maior momento é o gol, sem o Nove nada seria.
PS: Obrigado Paolo Guerrero, o Nove que nos deu o Mundial do Japão neste dia no ano passado, um 9 de verdade.
Os gols mais bonitos de Romário
[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=8rtNAT7cRLA[/youtube]
Ronaldo Fenômeno pelo Corinthians
[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=eDkU4IbQh0E[/youtube]
Apenas uma correção: Ronaldo foi um dos Galácticos do Real Madrid, não do Barcelona. Na Catalunha os reis foram Ronaldinho Gaúcho e, antes, Romário – os dois até hoje endeusados no Barça.
Mas ele jogou no Barça também, Luiz, menos jogos, mas jogou…