Arnobio Rocha Crise 2.0 O Efeito Troika Assombra a Europa

774: O Efeito Troika Assombra a Europa

O Risco de uma Revolta Popular em Chipre

 

O nervosismo tomou conta da Europa, o Eurogroup, que reúne os Ministros das Finanças da UE, decidiu, na última sexta, dia 15 de março, confiscar parte dos depósitos do cipriotas, descrevemos o caso em dois post: O Confisco da Poupança em Chipre e O Medo do Efeito Chipre. A medida imposta, como condição de resgate ao país, é inédita, até então, os planos de resgates estavam calcados num duro ajuste, denominado de Austeridade, como tantas vezes debatemos na série sobre a Crise 2.0.

Agora, com o confisco, se avançou mais uma casa, como estampa o El País hoje, ” Europa está a brincar com o fogo, para quebrar a regra da segurança da poupança”. Em 2008, em plena crise do bancos, que quebrou o Lehman Brothers nos EUA, a UE fez um pacote de proteção de 1,3 trilhões de Euros, em que garantia depósitos dos seus cidadãos até cem euros, sem qualquer discussão sobre o que possa acontecer, esta regra, foi rompida. O confisco é imenso, algo como 7 bilhões de Euros, num PIB de 17 bilhões.

A singular situação de Chipre, em que o PIB é 1/4 dos depósitos bancários, se explica porque os bancos cipriotas são como um paraíso fiscal informal, entretanto, mais 60% dos depósitos são dos habitantes da ilha. No quadro abaixo, publicado no El País e produzido pelo BIS, tem-se uma visão mais precisa da situação e quem será afetado com o confisco:

Fonte: BIS e El Pais

 

O El País diz mais sobre a questão de que “Chipre é um país pequeno. Mas a chave para a crise do euro é sempre o contágio temido: Lehman Brothers também foi o maior banco do mundo e o que aconteceu, aconteceu. A essência deste novo episódio da crise do euro é se Chipre é de fato um caso isolado, repetir a ladainha que os mandarins de Bruxelas e nas capitais, ou é um perigoso precedente para futuras crises financeiras. Por que, em caso de crise, sem proteção aos depósitos, haverá uma corrida para retirar o dinheiro dos bancos”.

Aqui, no Brasil, pela nossa enorme experiência com o FMI e seus malfadados planos, Celso Ming, ficou furioso com a medida, na coluna “Plano Collor da Europa, classifica de estúpida, a decisão tomada por Bruxelas, leiamos:  “A decisão de sábado foi tomada para compensar a necessidade urgente de capitalizar os bancos de Chipre. Como as instituições financeiras do país vinham sendo utilizadas para lavagem de dinheiro não somente pela máfia russa, mas também ainda por outras pessoas e instituições ligadas ao submundo financeiro, imagina-se que as autoridades de Bruxelas pretenderam dar uma lição de moral nessa gente. Mas não levaram em conta que, antes e ao longo da crise econômica que começou em 2008, pequenos e grandes bancos tiveram uma atuação tão ou mais indecente do que a das máfias da Rússia. E conseguiu apavorar todos os depositantes e não só os que usam os bancos cipriotas”.

E complementa com raiva: “A decisão sobre Chipre é surpreendentemente idiota. É, antes de mais nada, precedente de enorme alcance destrutivo. Atropela contratos vigentes e mete a mão em patrimônio alheio. A confiança, essencial no funcionamento financeiro (que provém do termo latino fiducia, que carrega fé), fica seriamente abalada.  Daqui para a frente qualquer crise financeira ou bancária na região do euro corre o risco de ser objeto de confisco semelhante. Pelo sim ou pelo não, mesmo que o Parlamento de Chipre rejeite a decisão, será inevitável certa corrida aos bancos. 

Ming, lembra ainda, que na Grécia, sem confisco, apenas pela desconfiança, cerca de 30% dos depósitos foram sacados, no auge da crise, imagine agora em Chipre, mesmo que o Parlamento rejeito o confisco, a imbecil decisão, apenas piora as fracassadas políticas da Troika. O El País fala justamente do “Efeito Troika”, pois a “fragilidade bancário em vários países do Sul abre a porta para um episódio agora ser repetido e, se a confiança da zona do euro atingiu precária dessas palavras mágicas de Mario Draghi (“o BCE fará tudo que for necessário para salvar a moeda única” ) desaparece. O Eurogrupo é brincar com fogo”.

Nada está tão ruim, que a Troika não possa piorar.

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6 thoughts on “774: O Efeito Troika Assombra a Europa”

  1. Belo apanhado, Arnobio, sintetiza bem a estupidez a que pode chegar insensibilidade e despudor dos parasitas do sistema financeiro global. Indica que o ruim pode piorar. O fundo do poço pode ter um subsolo.

    1. Mari,

      Os gregos (ricos e burocratas corruptos) tinham a segunda maior “poupança” em Chipre, perdem apenas para Rússia (19 bi(conta individuais) + 12 Bi (empresas)) com quase 13 bilhões, bem atrás alemães com 6 bilhões e britânicos com 2 bilhões.

      Arnobio

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