
“O termo reflexão não deve ser entendido como simples ato de pensar, mas como uma atitude. A reflexão é uma atitude de prudência da liberdade humana, face às necessidades das leis da natureza. Como bem o indica a palavra ‘reflexio’, isto é, ‘inclinação para trás’, a reflexão é um ato espiritual de sentido contrário ao desenvolvimento natural; isto é, um deter-se, procurar lembrar-se do que foi visto, colocar-se em relação a um confronto com aquilo que acaba de ser presenciado. A reflexão, por conseguinte, deve ser entendida como uma tomada de consciência”. (Carl Jung)
Realmente nos damos conta do que somos, nosso potencial e nosso limite, num momento da vida em que ela passou, já não somos mais interessantes, ou nunca fomos efetivamente para si, para os outros, nem mesmo nossa satisfação com o que atingimos faria sentido, passamos a crer que o passado é muito maior do que o porvir, o que nos leva à algum lugar mais denso sobre nossa trajetória e história, quase sempre pequena e de pouca valia.
E esse dado, vem com as reflexões cada vez mais presentes com aquilo que chamamos de maturidade de si. A definição de Jung de que a reflexão é uma tomada de consciência, é, sem dúvida, a mais real possível, sobre nós mesmos, aliás, essa consciência, é a mesma que temos diante do espelho, em que o Narciso que nos habita não tem para onde ir, então ficamos inertes, ou não.
Na mesma mão, a questão do Espelho (ou tabu do reflexo) e da sombra (umbra), que também é amplamente debatida em várias culturas. Platão trata do tema em parte do mito das cavernas definindo as sombras como “as imagens das ideias verdadeiras“. Sendo o espelho o lugar que colhemos, o que somos e o que não somos.
Aqui reflexão, espelho, sombra, são variações da consciência, psiquê, ego, id, o que fala mais alto ou cala mais fundo em nós mesmos.
Tomado por esses sentimentos, a ideia que retorna, de novo e mais uma vez, é a da finitude, do inexorável, que não escapamos. Essa questão traz amargura a cada ano que vive, não é um ano a mais, é um ano a menos, em nossa escala, pode ser alívio para uns, peso para outros, difícil é ignorar e tornar normal. De certa forma, por tudo que me ocorreu, a vida perdeu grande parte do seu encanto, mitigou minha dor quanto ao fim, mas não me faz esquecer o fim.
O sentido de urgência é maior, de preocupação do que fizemos aqui, algum legado (não mais por vaidade, ou seria?) positivo de nossa tola existência, principalmente não deixar desamparados aqueles que de nós depende, por mais que repitamos que cada um deve cuidar de sua luta, não é possível dizer isso ao vento.
O resto é silêncio!
“Eu vi coisas que vocês homens nunca acreditariam. Naves de guerra em chamas na constelação de Orion. Vi raios-C resplandecentes no escuro perto do Portal de Tannhaüser. Todos esses momentos se perderão no tempo, como lágrimas na chuva. Hora de morrer”. (Replicante Roy Batty, personagem de Blade Runner, 1984, dir. Ridley Scott, EUA)