Os últimos dias, 3 ou 4 dias, tenho fugido desse texto, de escrever o que tenho que escrever, dizer o que tenho que dizer: GRITAR ALTO. É sangrar mais uma vez, como sangro há seis anos, mas o texto não foge de mim de forma alguma, ele fica em volta de mim, me cercando. circulando a minha cabeça, provocando meu cérebro, cutucando minhas gostas e dando pancadas no meu velho coração, não tenho como fugir.
Meu doce amor, minha menina, hoje estamos contando o sexto ano que te roubaram de nós, de mim, da sua mãe, de sua irmã, de nossos familiares. Os não tão próximos e íntimos, mantém uma lembrança, ou são lembrados por mim, com esses textos, talvez contem uma história engraçada, um momento contigo, algo prazeroso, porque é assim querem recordar de ti.
Claro que seus amigos, suas amigas, naturalmente vão esquecendo, com os anos passando e a vida de cada um e de cada uma, seguiu, virou uma data, o que é absolutamente normal, é da vida e todos nós temos as nossas experiências.
O mesmo não acontece com nosso núcleo familiar mais próximo, para nós é sempre uma dor que não se mede, apenas sentimos, sofremos de curto, de longo prazo, para todo o sempre, é outro lado do “natural” e do “normal”, o que desmente a frase que o “tempo cura tudo”, sinto dizer, não cura, é que não passa de uma frase vazia, como outras “deus sabe o que faz”, como se isso mudasse o rumo da dor.
Inacreditável que já são seis anos, pois, para mim, continua sendo hoje, ou teria sido ontem, dia 17, quando eles cometeram o grave erro no centro cirúrgico do Hospital Samaritano, então não saberemos ao certo, nem a data de sua partida é certa, sei lá, a crueldade foi tanta conosco que nem isso temos, enfim, vale o que está no óbito, não o que está no meu coração, na minha dor.
O que é certo que não existiu um dia, uma hora em que não pense em ti, vai e volta, muitas vezes me pego desesperado por não te escutar e não ouvir sua voz, como era, as suas palavras, o seu olhar, seus carinhos, o seu cuidado conosco, de como nos poupava de suas imensas dores, das sessões de quimioterapia, de como você lutou de forma heroica contra a leucemia, quando ninguém mais acreditava, das suas conquistas.
Sinto tanto, tanto, choro, dói, morro por dentro, não importa onde esteja esse sentimento me acompanha, não busco mais entender por que aconteceu contigo, por que não comigo, certamente seria mais “justo”, mais correto e compreensível, você tinha apenas 21 anos e 2 meses. Muitas vezes me vejo pensando como seria você hoje, teria terminado Odontologia na USP, feito mestrado? Especialização, teria casado? Estaria no consultório da Mara?
Tudo não passa de uma especulação, do “E se…” E isso não existe, a única certeza é que vou lhe amar todos os dias da minha p…de vida.
Com amor, seu pai.