É assombroso quando você acorda de um sonho que parece real, mas era apenas um sonho, foi assim mais uma vez nesses dias, em que sonhei com minha Letícia, minha Leleka, a amada filha que nos deixou há quase 6 anos, criando um buraco na nossa tola existência.
Raramente sonhei com Letícia, nessa semana, na terça, já amanhecendo o dia, ela me aparece e me deu um abraço, intenso e presente, mas foi rápido demais. Comentei aqui, que alguns sinais assustadores de perda real e concreta dela, isso se dá com o esquecimento da voz, do cheiro, do olhar, das palavras, como se a minha mente bloqueasse o sentir, seria proteção ou castigo?
Ela veio quieta, suave, nada lembro do lugar, como e porque, apenas veio e me deu aquele tremendo abraço, nada falamos, nada dissemos, apenas senti, senti mesmo, um sopro, um breve instante, acordei e tudo sumiu ao vento, como nossos sonhos, lembrando do bardo inglês, no Macbeth, as bruxas se foram e atormentaram, antes o grande personagem.
Essa jornada novembro, desde o reinício da saga da doença, até o inesperado final, foram tão poucos dias, revivo isso mentalmente tantas vezes, mais forte na repetição de datas, dos dias, os momentos, a esperança, a evolução irresponsável e as condutas irresponsáveis do hospital, do desfecho, confesso que não é fácil, mas não desligo, talvez será assim até meu último suspiro, para além dele.
Viver muitas vezes é o maior desafio, sigo e não sigo, vivo e não vivo, sinto e não sinto, me afirmo e me nego, uma batalha perene e injusta, cruel, dolorida, cansa horrores, mas vamos quase em frente, mas com olhar não tão longe, dias, semanas, no máximo meses, sem planos ou projetos.
Quem sabe um próximo sonho.