
Há vários níveis de debates (e desgastes) que se apresentam na vida política no meio “digital” e vamos enfrentando-as, muitas vezes com pouquíssima paciência, pois a internet criou um tipo personalidade autoritária com verdades fechadas, que ai serem contrariadas passam para desqualificação pessoal, ou ironias, quando não, as famosas “lacrações”.
Raramente se chega a qualquer consenso, nem mesmo alguns pontos comuns, linhas de contato para que se possa desenvolver novas ideias, ou argumentos que mesmo divergentes possam representar um diálogo produtivo, franco, que leve ao crescimento, alguma dúvida sincera, quem sabe convencimento do/da interlocutor(a), ao contrário, boa parte caem na vitimização ou num excesso de “não-me-toques”.
A saída tola que muitos (as) encontram é tentar criar um estigma, uma forma de ridicularizar o debatedor, uma coisa meio tosca, “governista”, “negacionista” (sobre qualquer tema que se discorde), entre outras caracterizações pouco dignas, uma forma de desonestidade para impedir o debate, ou que os argumentos se esgotaram.
Infelizmente não se entende que embate político não é ruptura pessoal, não nos torna-se inimigo/a, não é para se provar que se é maior ou melhor, para exercer qualquer autoridade política, moral, muito menos intelectual. Houve grandes embates políticos e intelectuais, Marx x Proudhon, Marx x Bakunin, Lenin x Martov, duríssimo, sem nenhum receio ou reservas.
As teses de Marx/Engels sobre Feuerbach, os livros que Lenin dedicou às polêmicas com os Mencheviques, as críticas de Rosa Luxemburgo, fazem parte de nossa história, qual o receio de ir fundo nos embates? A herança stalinista é a raiz de uma esquerda sectária e autoritária, mesmo os que se opõem ao método daquele, agem pela mesma via.
Admito que venho de uma outra tradição política, de onde embates eram duros, muitas vezes sectários, mas sem tergiversação, ou dourar pílula, sem se preocupar em temer que isso provocasse rupturas, animosidades, talvez esteja num lugar errado, mais polido, cheio de dedos e reservas.
As divergências ajudam no crescimento, não há com fugir delas, contorná-las, viver um falso consenso, melhor sempre seria clarificar as posições, ir à fundo nos debates e extrair ideias, que se potencializam nas divergências e de que no antagonismo pode surgir novas sínteses.
Sigamos.