2315: O papel dos Isentos frente à ameaça fascista

Não vai ter copa? Teve. Foto: Gianluca Ramalho Misiti/Flickr

Revisitar os últimos 15 anos do Brasil é fundamental para entendermos o que se vive atualmente, as posições políticas e de como enfrentar os embates com a mídia, lavajatismo judicial e de personagens isentos num momento crucial do Brasil e suas consequência, para além do desastre Temer-Bolsonaro.

O Brasil entrou numa espiral de queda entre 2011 e 2014, consequência da crise de superprodução de capital, ocorrida em 2010. O conceito de crise em Marx diz que ela (a crise) se dá no pico superior de produção, em que salários e preços pressionam a taxa de lucro, esta é comprimida e, de um lado, os trabalhadores têm maiores ganhos e poder, com o quase pleno emprego, de outro, o capital perde no lucro e na capacidade de ditar sua política sem freios.

Abre-se, assim, um período especial em que a correlação de forças está equilibrada e a disputa pela hegemonia política, depois da luta pelo Poder, levará a ruptura revolucionária, ou de manutenção de poder de forma mais dura pela burguesia. Dialeticamente Marx fala que a crise é no alto, o período de queda, é preparação de um novo ciclo de produção de capital.

Em geral enxergamos apenas o período de baixa, de corte de empregos, renda, demissões, imposição de condições precárias e, muitas vezes, de recrudecimento do sistema, com ditaduras ou de leis draconianas contra a classe, seus sindicatos, partidos e contra os seus aliados, de classes médias urbanas, por exemplo.

Por volta de agosto de 2010, Lula começa a agir para segurar o crescimento com o risco inflacionário e restrição da capacidade produtiva, alta taxa de ocupação industria, a mão de obra com escassez e preços de produtos e mobiliários em alta. Dilma vence nesse cenário e será a responsável para que o país mantenha empregos e produção, mas em condições que não desande pelas suas limitações de produção e falta de crédito internacional, o endividamento público e das famílias.

Nesse ambiente, os bons anos parecem ficar para trás e a classe média em especial, a dona do Corolla, volta a ver seus fantasmas, de não ter como ir comprar muamba em Miami, depara com os preços do supermercado, das escolas, plano de saúde, cartão de crédito, então, religiosamente, procura um culpado (a) pelos problemas.

Em janeiro de 2013, os preços de transportes urbanos de São Paulo, Rio de Janeiro de várias capitais, sobem, algo em torno de 0,20, VINTE CENTAVOS, o que significa mais gastos. A Presidenta Dilma tinha diminuído a CIDE para evitar um maior aumento no preço do óleo, ou seja, agiu positivamente contra os preços das passagens, no entanto, o estoque de ódio, longamente preparado, desde o mensalão, contido pelos anos de ouro e bonança, se liberou de forma irresistível, o que explica o famigerado junho de 2013.

A política de ódio ao PT, em especial, tudo era culpa da Dilma, usando da extrema-direita à extrema-esquerda (a esquerda é uma capítulo à parte), tem raízes na crise econômica, a incapacidade de dar resposta, nem mesmo de se comunicar, a mídia que vinha cevando o ódio, teve papel fundamental na preparação, manutenção e no pós-junho de 2013. Pautas absolutamente distinta, como a PEC do MP, virou bandeira, hospital e escola padrão FIFA, justamente o que segurava a economia, era atacada desenfreadamente, o famigerado “Não Vai Ter Copa”, é mais do que um emblema.

A Lava jato foi a continuação da luta sem fronteira contra o PT, a criminalização é a maneira mais prática de desgaste político, colar na testa do PT: LADRÂO, CORRUPTO, ou qualquer coisa que o valha foi usada frente à maior força política vinda da classe trabalhadora. O processo errático, conduzido por uma obscura vara federal em Curitiba, virou o centro do combate, já dizíamos na época, que a presença dos EUA (era) foi decisiva para os passos e a capacidade de influenciar os resultados de uma prática medieval de investigação, que hoje se provou ser uma farsa.

É desse período canalha que se revelou uma parte da esquerda, que apoiou a lava jato, as ações de mídia contra o PT, como se fosse uma oportunidade para ser herdeira do espólio histórico do partido e a destruição de Lula seria fundamental para uma “nova” esquerda. No meio jornalístico não foram poucos os colunistas que viraram “Isentões”/”Isentonas”, dava público, cliques, falar mal do PT, da Dilma e de Lula, muitos, hoje, agem como se não tivessem escrito o que escreveram, a tal isenção era o mote para atacarem e serem letais.

Na academia também não foi diferente, a loucura como método, o que é difícil é esconder artigos daquela época, ou criar desculpas quando aparecem em conversas no mínimo constrangedoras com os gendarmes da lava jato, por exemplo. Omissão também era uma prática comum, como se a Democracia não estivesse em risco, parece que não se aprendeu nada, quando se “passa pano” para o bolsonarismo, Aliás, muitos disseram que o bolsonarismo não era risco, nem que o método de fakenews corrompia as eleições, no limite, que Bolsonaro era cria do PT, não tinha relações com a lava jato, nem com as jornadas de junho de 2013.

Uma das cretinices mais repetidas era EXIGIR/IMPOR que o PT fizesse autocrítica, principalmente dos acertos, numa dessas é que o PT tinha distribuindo renda, mas não tinha politizado os pobres, a falta de visão desses é tamanha, que nunca vão entender a referência que o PT é para o povo mais simples.

De vez em quando voltamos ao tema, pois parece que há um esquecimento, do nosso lado, sobre quem é quem, e o que fizeram no verão passado.

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Author: admin

Nascido em Bela Cruz (Ceará - Brasil), moro em São Paulo (São Paulo - Brasil) e Brasília (DF - Brasil) Advogado e Técnico em Telecomunicações. Autor do Livro - Crise 2.0: A Taxa de Lucro Reloaded.

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