“Este é algum monstro da ilha com quatro pernas que pegou, me parece, uma febre. Onde diabos aprendeu nossa língua?” (A Tempestade – W, Shakespeare)
O que explica os 49,10% de votos de Bolsonaro, depois de um governo tão desastroso? O Bolsonarismo é uma corrente política perene e veio para ficar, ou uma onda que se transformará em espuma depois da derrota? Do que se compõem esses 49.10% de votos, a metade dos eleitores do Brasil?
Vamos tentar debater algumas questões para responder essas indagações.
1. O bolsonarismo foi o local para o qual convergiu todos movimentos neofascistas do Brasil, semeados pela onda de extrema-direita que surgiu das primaveras árabes, turca, ucraniana, occupies, indignados e que aqui no Brasil se revelou nas jornadas de junho de 2013, e essa nova velha direita ganhou energia e corpo, ruas e redes sociais.
2. O bolsonarismo era um grupo marginal, insignificante, mas que tinha uma plataforma clara de orientação neofascista, com valores ligados aos da Ditadura, defesa da “Pátria”, valores “cristãos”, de Família e da Propriedade Privada, mas que defendiam um Estado forte, rapidamente se adequaram ao ultraliberalismo, sem nenhum rubor.
3. A nova Direita, veio como extremista, e elevou o patamar da velha UDN (Ademarismo, Janismo, Malufismo) para algo de massas e com força de ruas. Os partidos de centro e de direita foram atropelados pela radicalidade, nesse sentido o casamento com o bolsonarismo foi a onda perfeita, ainda que o líder fosse um sujeito completamente desumano e amoral, Bolsonaro, jogaram “fora os escrúpulos”.
4. O amalgama comum e a bandeira da corrupção foi o lavajatismo, catapultado à paladinos da ética e combate à corrupção, pela grande mídia, órfã de protagonismo político e influência nos governos de Lula (1 e 2) e de Dilma 1.
5, Os movimentos de 2013 confluíram para um novo arranjo da Direita, extremista, Aécio e o PSDB flertaram com eles, mas foi o bolsonarismo quem melhor soube compreender o movimento e juntos se tornaram uma força política nacional com poder de se estabelecer como antípodas da esquerda, especialmente o PT, que era demonizado pela mídia.
6. A vitória (surpreendente, ou não) em 2018, foi a confirmação do recado das urnas em 2016, do meio político de propagação de ideias, as redes sociais,
O Método
O governo Bolsonaro foi caótico e refletia todo o despreparo político administrativo do presidente, quem sempre foi um personagem menor no congresso, sem estudar, sem ter ideia do que é um país como o Brasil. Entretanto tinha um método claro, orientado por Bannon e outros: “não sair do palanque”.
Nisso Bolsonaro foi mestre, todos os dias criava polêmicas, ficava em evidência, não importando se mentiu 6823 vezes, em quase 4 anos como presidente, as mentiras mais esdrúxulas às mais comprometedoras, como chamar embaixadores e detonar o processo eleitoral que ele venceu, lançando suspeitas para essa eleição.
Bolsonaro fez mais, com ajuda da própria esquerda, aprovou uma PEC com valores bilionários para uso sem rubrica de ajudas e auxílios, no momento em que eleitoralmente ele tinha exatamente o tamanho da Direita e extrema-Direita,: 20% a 25%, aqueles que votariam num poste, num carareco, num Bolsonaro, para Presidente.
Os números que se agregaram aos 25% (patamar maior), uma aprovação espantosa, estão ligados ao pacote de ajudas e auxílios de programas socias que jamais Bolsonaro dera atenção, ao contrário, desprezava e discriminava as famílias beneficiadas pelos programas.
A isso se somou a imposição de uma nova forma de tributação de combustíveis que fez derrubar o preço em 40%, em menos de um mês, entre junho e julho, noutra ponta vários preços de alimentos, tiveram seus preços reduzidos e/ou sem aumentos. Houve uma clara sensação de melhora da economia, acompanhado de uma intensa propaganda de rádio, jornal, revistas e de TVs.
Apenas nesse mês de outubro, uma série de medidas econômicas positivas foram tomadas, com claro intuito eleitoral, junto com uma ameaça, sem Bolsonaro, tudo será perdido, por exemplo, antecipou a ajuda aos taxistas e caminhoneiros, além de empréstimos consignados de quem nem renda teria para ter acesso.
A soma de todos essas questões, são mais significativas do que a aparente “pauta de costumes”, uma espécie de armadilha e “distração” para esquerda, enquanto a situação real e aposta do bolsonarismo era em outro campo, associando essas melhorias a (falsa) propaganda de que não há corrupção nesse corrupto governo.
São esses pontos que explicam, a meu ver, esse desempenho extraordinário de Bolsonaro, o que me faz concluir que esse movimento de maré alta, volta ao lugar comum, no tamanho exato da Direita mais radical. E apenas com anos de debate ela voltará ao esgoto.
É paciência e muito trabalho.