Ontem foi uma noite muito especial para o futebol cearense, é uma espécie de coroação de quase uma década de retomada dos times do estado ao cenário nacional, o que coincide com dois fatos fundamentais: O crescimento econômico da cidade e do Estado e a reconstrução do estádio Castelão, que foi palco da Copa das Confederações (2013) e da Copa do Mundo (2014).
O estado do Ceará era uma das unidades da federação mais pobres nos anos 70, uma combinação de incompetência administrativa (autoritarismo dos coronéis) com as constantes secas e calamidades. Houve um reordenamento na burguesia local, que era rica no Ceará, mas seus negócios/investimentos maiores, fora do estado.
No processo de redemocratização houve a virada, ainda que baseada numa economia de exclusão, que de certa forma foi minorada pelas ações de políticas públicas combinadas do governo federal (Lula e Dilma) com uma série de gestões de tucanos, neotucanos, petistas e neopetistas. De toda sorte é inegável que o Ceará avançou muito nessas ultimas 4 décadas.
O futebol cearense, vendo daqui de longe, foi se ajustando à realidade geral, em particular com os grandes eventos que tiveram o Castelão como palco, Porém faltava uma resposta local, para o estádio não virar apenas mais um elefante branco, como era o antigo estádio construído pela ditadura.
Ceará e Fortaleza viviam numa espécie de segunda divisão nordestina, e se contentavam com a série B nacional. O Fortaleza chegou a ficar 8 anos na série C. Era a glória passarem um ano passeando e fazendo figuração na série A. A mentalidade era bem pequena proporcional ao tamanho e poder econômico do futebol cearense.
A Copa do Nordeste passou a ser prioridade dos dois times, a afirmação regional, enfrentando os times de Pernambuco e Bahia, ajudaram de sobremaneira aos dois times cearenses, a rivalidade local, foi deslocada para as disputas regionais com muito sucesso, Ceará e Fortaleza, são respeitados e viraram grandes forças do nordeste.
A grande mudança desses 10 anos foi a nova postura, pés no chão das diretorias dos dois times.
Primeiro o Ceará subiu e permanece há 5 temporadas na série A, sabe de seu pode jogando em casa e conseguiu dar vida financeira ao clube no Castelão, bons jogos fora e vai se mantendo bem. O Ceará está na segunda participação da Copa Sul-americana, nesse ano com grande desempenho.
O caso do Fortaleza é de enorme sucesso e de evolução, a primeira mudança foi se livrar do trauma da série C. Depois com muita ousadia levou Rogério Ceni para dirigir o time, venceu a série B, está há quatro anos na séria A. Nas idas e vinda de Rogério Ceni, ano passado trouxe o seu maior achado, o técnico argentino, até então desconhecido no Brasil. Juan Pablo Vojvoida.
Voyvoida fez o Fortaleza dar um salto impensável, montou um time consistente, forte em casa e fora, mentalidade vencedora, sabedor dos limites do seu elenco, mas criou um espírito de um grupo que não teme joga bola, algo parecido com o que Ranieri fez no Leicester, campeão da Premier Ligue.
Fortaleza foi quarto colocado no brasileiro de 2021, entrou direto nos grupos da Libertadores, caiu num grupo pesado com o multicampeão River Plate, o melhor time da Argentina nos últimos anos, o Colo colo, também campeão da Libertadores e time que é tradicional no torneio. Começou claudicante, mas teve uma virada espetacular, culminando com a enorme vitória ontem (estádio vazio), no Chile, por 4 x 3.
Um feito histórico sem dúvida. Além de ter sido campeão da Lampeons ligue, a copa do nordeste com autoridade, e venceu a disputa local, do campeonato cearense. A situação de 7 rodadas do brasileiro não são boas, mas o Fortaleza tem tudo para não cair.
O Ceará fez grande campanha na Copa do Nordeste, mas perdeu nos penais, para o CRB, além de ter caído para o Iguatu, o que fez cair Thiago Nunes. A chegada de Dorival Junior fez o time crescer, a campanha no brasileiro ainda é bem fraca, concentrou forças na Sulamericana.
Na copa sulamericana, a segunda competição, o Ceará disputou com o maior campeão da Libertadores de todos os tempos (sete títulos), o Independiente da Argentina, além de duas copas sulamericana. Os dois outros times não contavam muito.
O Ceará fez história, pois venceu duas vezes o time argentino, o primeiro time do nordeste a vencer na Argentina, um dos maiores clubes locais.
O momento é de história, é seguir fazendo história, Fortaleza (bem maiores desafios) e Ceará, mas não esqueçam o brasileiro.
https://www.youtube.com/watch?v=T7C0AAeUn5g
Eu sempre digo a todo cearense: louvem o Ceará; idem o Fortaleza. O sucesso é do nosso Estado. Cumpre não ser estreito nesta hora. E que Fortaleza e Ceará nunca mais achem normal não crescer.