A geleira azul da solidão e buscar a mão do mar
Me arrastar até o mar, procurar o mar
(Corsário – João Bosco e Aldir Blanc)
Parece a cada dia mais distante desde o dia em que o navio deixou o porto e agora se vive à deriva, sem capitão, sem tripulação.
E o mar, por tantas vezes, esteve em tempestades (furioso), nesses anos, com as ondas altas batendo forte no casco e convés, ameaçando virar, ou destruir o barco, que foi seguindo, como se tivesse saído de Santos, Fortaleza, Salvador, e continua no meio do oceano, sem rumo nem ao norte, nem ao sul.
Alguns dias, bem poucos, diria, o viver/mar foram de mansidão, de tão tranquilo, no começo, parecia o prumo havia retomado, o equilíbrio encontrado. Ora, era o tolo engano, pois da última tempestade, esse refluxo, calmaria, era apenas preparação para mais agitação, nada mais será, nem nos dias horas de aparente paz.
Na confusão dos dias e das noites, entre as luas e o poderoso sol, que vão se revezando, queimando, ou sumidos, provocando o intenso frio, congelante. A nau segue ao sabor da ação do tempo, o viajante feito naufrago, em suas lágrimas secas e seus sentimentos vazios, nada cura, nada muda, um dia encontra um uma ilha, um rochedo, se espatifa e finda, pois um dia, tudo acaba, as dores, humores e vida.
Viver sobre o balançar do mar, o ritmo das ondas ou da calmaria, o vazio existencial sem dó ou piedade, que lhe pune, sem nem mais saber a razão, apenas pune. Naqueles 1000 anos de pena que é cumprido no purgatório, que uma alma terá, para um dia chegar às portas da ilha dos bem-aventurados, redimido e limpo, depois de purgar suas faltas.
Naquela solidão do gosto de sal, maresia, a mente não para nunca, desliga de uns valores sem sentido (vaidade, beleza, fama, projeção, dinheiro), é atormentada por outros mais reais e urgentes (sobrevivência, norte, rumo, prumo, saudade e dor).
O tempo para frente será menor do que para o passado, isso é um consolo ou desespero, o quanto há de vir, o que mais de tempestade há que se passar.