Hoje durante um café com meu amigo Guy Corrêa, poeta, escritor, músico, jornalista, além de tramarmos da Revolução mundial, ao som dos Rolling Stones, pois ninguém é de ferro, falamos de coisas graves da nossa cidade, São Paulo, da situação crítica em que se encontra a grande metrópole, nossa Gotham City, abandonada e carcomida, entregue à miséria (humana, sem governo, sem poder, sem dignidade).
Claro que falamos sobre o Padre Júlio Lancelotti, o maior ícone humanista da cidade, que faz a defesa diária dos milhares de desvalidos e vulneráveis de São Paulo. Claro que o Padre Júlio não é o nosso Batman, mas as suas intervenções e a firmeza na defesa dos valores da vida, da diversidade e dos Direitos Humanos, o transformam no grande nome da cidade. Ele vai seguindo o caminho de outro religioso gigante, D. Paulo Evaristo Arns que completaria 100 anos, no fim de 2021.
A conversa cheia de imagens e metáforas, traz uma pergunta:
Quem fará a narrativa dos vulneráveis de São Paulo?
Quem falará e contará sobre os invisíveis, os excluídos e os esquecidos desse inferno dantesco, daqueles que são vítimas da higienização e da estética neofascista ao gosto da burguesia paulistana.
É fácil falar da Paulista, dos Jardins, até da periferia, escondendo rostos, histórias e gentes, dos que vivem e lutam diariamente apenas por algumas migalhas de comida, por uma bebida, uma droga qualquer, que teve sua cidadania destruída pela fome, exclusão e ausência do Estado.
Óbvio que não se romantiza a miséria, apenas se deve olhar de forma humana, de que se deve exigir respeito, tratamento digno e buscar solução para o que se tenta dizer e repetir que não há solução. É confissão de nosso fracasso social, humano e de civilização, não encontrar saída para milhares de pessoas que vivem à margem da riqueza, da ostentação de bem poucos.
Olhar São Paulo sob uma outra perspectiva, não temer andar pela Praça da Sé, pela República, pela região da Luz, não ficar indiferente à barbárie que avança, que ceifa vidas, como se não fossem de gente humana, e que vira apenas número de estatística, que não causa dor ou vergonha.
Ir aonde os mais vulneráveis estão não é ato de coragem, é ato humano, de amor ao próximo, de compaixão, de celebrar a vida, essas vidas que florescem em condições tão adversas, teimam em existir e de bater em nossa cara.
Quem contará…