Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
(Motivo – Cecília Meireles)
As palavras escritas ou faladas (cantadas), raramente conseguem traduzir o que efetivamente sentimos, ou o que queríamos dizer de verdade. Entretanto, escrever no papel, ou na tela de um computador/Celular, parece que há uma perda clara daquilo que nos aflige, pois acabamos racionalizando, dosando, censurando, ponderando, mediando, medindo, calculando os melhores termos.
Obviamente que nos momentos mais tensos, em que a emoção mais aflora e então agimos com mais força/paixão, deixamos de subtrair a leveza, e expomos a crueza do que vivemos, e, assim, o discurso saí mais direto, reto e preciso.
Acabamos por nos despir de convenções e de sutilezas, dizemos aquilo que nos oprime, é uma sensação de alívio, de liberdade.
Ainda que no meu caso em que escrevo imediatamente aqui, sem muita elaboração prévia, e vou escrevendo e raramente fazendo qualquer revisão, apenas lendo depois (às vezes no mesmo dia ou até anos depois), muitas vezes penso que não era exatamente isto que deveria ser dito, mas ficou sendo, papo reto e duro, sabe-se lá terá perdão.
Por muitos anos fui escrevendo apenas motivado pelo lado mais perverso da vida, o medo da morte de um ente amado (a), ou da possibilidade dela ir-se sem volta. Isso demonstra como toda nossa existência é frágil, e as nossas fraquezas se tornam mais visíveis, nos açoitando ou assustando, naquela situação de eterno desassossego, o único desafogo, que me restava era escrever.
O pesadelo é/era achar que isso produziria algum diálogo, no fundo é/era um monólogo, em que as palavras se tornam frases, e delas se formam esses textos, com ou sem sentido. Na maioria das vezes com facilidade, noutras com certa dificuldade, mas em comum é que se tornou dolorido ficar sem escrever, sem dizer algo.
Uma parte do cérebro comanda os dedos e as palavras, a outra manda medir o que se expõe, as duas partes se unem para exorcizar a dor, a cor, a flor e o prazer de ter feito.
Penso que escrever sobre as nossas inquietação, medos, dissabores do cotidiano, etc, de certar forma , é também uma modalidade de terapia.