No final dos anos de 1970 Eu morava numa pequena cidade do interior do Ceará, Bela Cruz, Mal tinha completado 10 anos, depois da “primeira comunhão”, a “confirmação do Batismo”, o segundo sacramento, fui cumprir a saga da família Rocha, servir ao padre da cidade, compadre do meu avô paterno, acabei sendo “coroinha”, “acólito”, ajudante de missa.
Meu pai tinha sido um faz tudo da paroquia quando era adolescente, era motorista do padre, ajudava na igreja, operador da telefonia mono canal, controlado pela igreja de Nossa Senhora da Conceição. Depois meu tio mais novo, foi ajudante do padre, seu padrinho, e essa tradição, acabou sobrando para mim continuar, era uma “missão” divina sei lá, mas tinha que cumprir.
O sacristão era um cara chamado Neil Sedaca, isso no interior do Ceará, não reparem nos nomes, começando pelo meu.
Ele era o faz tudo da vez da paroquia e nosso “chefe”. Sedaca era responsável por escalar os coroinhas (em duplas) para missa. O da direita do Padres, era o que batia o sininho na hora da elevação da hóstia, ou outro dormia do outro lado e servia para contar as hóstias ministradas aos fiéis, estas compradas da produção da freiras, mas o padre desconfiava se a quantidade vendida batia com as distribuídas.
Sedaca me escalava para missa das 18 horas de sábado, um horror.
Passava o dia brincando e às 16:30 tinha que ir para igreja, tinha que tocar o sino de 30 em 30 minutos anunciando que a missa se aproximava. Isso me deixa possesso, justamente porque nessa hora era a mesma que na TV passava filmes da Disneylândia, e eu tinha que ir para igreja, para completar, o sacristão me pôs logo para o lado direito do padre, com mais funções na missa.
Começava a missa, já estava bêbado de sono, para piorar tinha que usar uma “batina” calorenta, sufocante, antes do Ato Penitencial, estava pecando em sonhos, o padre pigarreava ou me cutucava para acordar, dormia em pé (que técnica maravilhosa). Com a sonolência errava a hora de tocar o sininho para desespero do padre, mas ele não ralhava com o neto do compadre dele.
Confesso que “pecava” mais lá, do que se não fosse à missa, definitiva aquele não era meu lugar, mas invariavelmente tinha uma familiar no primeiro banco da igreja, quase sempre meu avô que ia para celebração no sábado e no domingo, para meu desespero.
Então tive que arrumar um jeito de não dormir na missa e não desonrar a tradição familiar. Encontrei a maneira certa, eu decorei a missa inteira (até hoje lembro), antes que o padre pronunciasse as falas, lá estava eu dizendo “louvado seja Deus que nos reuniu no amor de Cristo”, “por minha culpa, minha tão grande culpa”. No começo o padre se espantou depois me fulminava com o sacrilégio deu “rezar a missa”.
Essa aventura deve ter durado um ano e pouco, doloroso demais, meu mau comportamento não permitiu que fosse ajudar a missa principal, domingo pela manhã, que por obrigação tinha que assistir, pois a de sábado não substituía a obrigatoriedade do dia do Senhor. Lá do meu canto, continuava ditando a missa antes do padre “assim seja a sua vontade na terra como no céu”.
Bem que tentei, mas aquilo não era para mim, ter um peso com nome estrambótico em homenagem ao Padre confessor de minha já era muito para mim, e ainda ter que acreditar naquela liturgia e salamaleques, desisti.
Amém