1772: A Pandemia e as Classes em Luta.

A Pandemia expôs as enormes diferenças sociais no mundo.

“aos muitos males que nos ferem agora vêm juntar-se novos!” (Édipo Rei – Sófocles)

Estamos vivendo uma época de profundas incertezas, aquilo que parecia ser a vida moderna, se desmanchou ao vento como os nossos anelos. É fato que que a maioria da população mundial não tenha acesso à tal modernidade,  à bens e serviços, nem mesmo aos serviços essenciais como água potável, energia, saúde e educação, a situação se tornou mais dramática.

A insegurança da sobrevivência mínima se tornou improvável, pois até da migalhas recebidas do Estado ou de entes privados não chegam mais para esse contingente gigantesco da humanidade. O quadro de renda escassa, a falta de empregos, a informalidade generalizada, precarização teve uma piora além do que se poderia pensar, a extrema miséria expulsa pessoas para viver nas ruas, como pouco visto em grandes cidades.

O outro lado dessa moeda é chocante, o reduzido clube dos bilionários se tornou ainda mais rico, são fortunas pornográficas, livres de impostos, de prestar conta com a sociedade, um mundo paralelo, irreal e que crescem em momentos de crise, como já havia acontecido em 2008, agora é mais cruel, pois ali, era uma crise econômico cíclica, aqui, é uma crise humanitária, sem precedente.

É constrangedor ler os relatórios de que a Pandemia não afetou os bilionários, mas tem sentido, se nem o Fisco os pega, não seria um vírus que o faria.

As classes médias que passam por profundas transformações, uma parte significativa delas empobreceu, vive uma proletarização com perda de renda e de poder político de pressão. Esse fenômeno se deu depois da crise de 2008, os empregos públicos minguaram, com a diminuição da máquina pública, as privatizações, as terceirizações e precarização de trabalhos.

Parte dessas classes médias, com curso superior, que apostava em concursos públicos, ou mesmo empreender em escritórios, consultórios, acabaram na informalidade, ou no Uber, ou num outro aplicativo qualquer.

A parte mais rica das classes médias urbanas, que liderou esses movimentos irracionais contra política e democracia, expressaram politicamente seus ódios, pelo risco de não terem o mesmo poder de compra, do acesso restrito aos bens de luxo, viagens internacionais, restaurantes caros, além de sentirem expoliadas pelos impostos e taxas.

O que os levaram à ruptura com valores civilizatórios, vencidos por moralismo, sentimentos de inveja, medo de perder suas conquistas. De certa forma as opções políticas mais radicais como Trump, Bolsonaro são coerentes com esses sentimentos, o que explica O fenômeno do negacionismo frente à Pandemia.

A realidade da Pandemia e seus milhões de mortos, sequelados fisicamente ou psicologicamente, fora a incerteza de quantos anos mais a humanidade irá conviver, as vacinas dão esperança, mas não garantem que a pandemia terá seu fim em curto prazo de tempo.

O que parece certo é que as classes sociais passam por mutações, aprofundando as diferenças e o fosso social, não dando espaço para que acredite em mudanças mais profundas, mas produz barulhos políticos, que têm que ser interpretados e trabalhados numa perspectiva de ruptura com a letargia atual.

De certa forma há descolamento  político e questionamentos aos governos negacionistas e mais irresponsáveis no combate à pandemia. O trumpismo derrotado nos EUA e no Brasil, o Bolsonarismo, começa a arrefecer, abrindo uma chance de debate mais franco.

É o caminho.

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Author: admin

Nascido em Bela Cruz (Ceará - Brasil), moro em São Paulo (São Paulo - Brasil) e Brasília (DF - Brasil) Advogado e Técnico em Telecomunicações. Autor do Livro - Crise 2.0: A Taxa de Lucro Reloaded.

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