“Quem sabe a morte, angústia de quem vive”
(Soneto de Fidelidade – Vinicius de Moraes)
As redes sociais viraram o grande obituário da humanidade nessa Pandemia do Covid-19, dia após dia, as mensagens de luto e despedida, é o que se tem mais visto, sofrido, em 2020, o ano da Morte. Na data de hoje, 31 de outubro, 45 milhões de infectados, 1.2 milhões de óbitos, são 5.5 milhões de doentes no Brasil com 160 mil vidas perdidas, sonhos e amores.
É fato que a Morte é parte da existência de todos os seres, o seu termo final, que é a certeza de quem vive, entretanto, quando uma grande tragédia abala o mundo como nessa Pandemia, a Morte passa a ser algo mais doloroso, como se fosse um evento não natural, uma ruptura radical do curso normal de cada vida, a interrupção de um ciclo por algo externo, incontrolável e mais incerto sobre quem pode morrer.
Ao ler todos os dias nas redes sociais o compartilhamento de dores particulares, esses anúncios passam a fazer parte das exéquias do mortos, uma publicização do sofrimento, a busca de um conforto virtual, um chamado à consciência (sem muito efeito) sobre o momento trágico pelo que se passa no mundo.
Há outras questões que nos assombram, na verdade, destaco dois sentimentos tão atuais: o primeiro, de impermanência; o segundo, de impotência.
A impermanência nos liga aos limites da vida de que nosso tempo é finito, ainda que já se soubesse, parece que ele se tornou mais evidente, especialmente quando as vidas estão sendo ceifadas por um doença coletiva imprevisível e sem uma cura definitiva de curto prazo, sem uma vacina salvadora, apesar de todos os bilhões gastos em pesquisas, mas a demora causa mais sofrimento.
Dessa constatação primeira, a impotência é decorrente e vem das incertezas sobre a vinda de uma cura, o que se pode fazer mais? como sobreviver inclusive materialmente, pois as condições impostas para que a doença se espalhe indefinidamente, exige isolamento, poucos contatos e uma série de restrições da vida comum, gera uma enorme ansiedade e novas doenças.
Por outra mão, percebe-se ainda várias manifestações de indiferença com a Pandemia, a negação por ideologia, por absoluta falta de empatia com a humanidade, em cidades importantes do mundo, movimentos organizados de desafio às autoridades no esforço de tentar controlar a circulação da doença, quando não, algumas autoridades incentivam esse sentimento de negar o óbvio.
São tempos estranhos demais e ainda muito longe de uma solução que possa indicar qualquer novo normal, nada garante por quantos meses ou mesmo anos, a vida humana ficará sob a atual ameaça ou outra pior.
É essa a tragédia!