“A Felicidade só é real quando compartilhada” (Jon Krakauer apud Christopher McCandless – Into the Wild)
Estava procurando escrever sobre o perdão e o não perdão, que nos persegue por toda nossa vida, formalmente perdoamos a tudo e a todos, porém, intimamente, não nos deixamos experimentar o sentimento libertador do perdão, convivemos com a dor e amargura pela existência, sem jamais nos darmos chances de viver outro momento, as chagas continuam abertas, mesmo que não sangrem, mas a sensação destes terríveis buracos está ali perene. A dor é da alma, o corpo já não percebe, se acostumou.
Ontem vi um lindo e dolorido filme, “Na Natureza Selvagem” (Into the Wild), de 2007, dirigido e roteirizado por Sean Penn, que espetáculo de direção, baseado num livro de Jon Krakauer feito dos relatos do andarilho Christopher McCandless. A obra trata justamente deste sentimento, o Perdão, ou o não perdão, com que fez o jovem Christopher a romper com a sociedade, a hipocrisia das relações familiares e sociais, da sociedade do consumo e dos valores mesquinhos, uma ruptura radical e a busca de si mesmo.
A fuga de tudo e de todos procurando o isolamento absoluto, sem qualquer relação duradoura, perene, de uma alma atormentada. Os erros e a brutalidade de uma vida marcada por traumas familiares e a incapacidade de encontrar o amor nestas relações, apenas se enxergando ódio e culpas. Ali, como aqui, vivemos esta metáfora de se abstrair, sumir, só ou acompanhado, em casa ou na rua, na multidão ou no deserto, nada disto faz diferença, a natureza selvagem ou a civilização selvagem, os caminhos e os desvios serão os mesmos. Tanta uma situação, quanto à outra, a alienação de si é a mesma.
A radicalização dos sentimentos nos leva à completa escuridão, mesmo que se acendam velas, luzes ou faróis, não conseguimos enxergar um centímetro à nossa frente. A nossa relação hostil com o mundo, de multidões ou de ausência de gente, será duramente punida, não existe volta, ou ponto de retorno, se queimamos todas as pontes e os sentimentos. Só perceberemos a inutilidade destas sensações que nos oprime quando é tarde demais, aí acordamos e veremos cruelmente que não existe felicidade ou momento feliz sem que seja compartilhado.
O mais complexo é que buscamos com tanto desejo e ardor o isolamento, sem nenhum contato humano, descobrimos, muitas vezes tardiamente, que a vida só tem sentido quando interagimos com os outros, que faz parte de nossa natureza a convivência, mesmo a mais complicada. Voltamos ao ponto, sem perdoarmos a nós mesmos, jamais perdoaremos a qualquer outro.
A grande mudança começa conosco, não no outro. E nosso maior medo é mudar, qualquer que seja a mudança nos assusta, mas sem ela, nada fazemos nada somos.
Chorei demais, peito oprimido, nao sei como fui até o fim. O livro está no clubinho, nem chego perto.
Mari,
É um filme muito difícil, duro demais e lindo demais, ao mesmo tempo.
Arnobio
Dio Santo! Preciso assistir, preciso ler, é a obra de uma vida inteira, chave de ouro com que o Mestre fechou o Livro de Sua História, na suposta Cruz onde teria sido crucificado. É a chave da grande sabedoria, o elixir da saúde e da longevidade, o maná, o manjar dos deuses.