Hoje é segunda, o 1º de abril, dia da mentira, mas, muito além das brincadeiras, é um dia que ficou manchado para sempre na história do Brasil. Neste dia, em 1964, tivemos o advento da Ditadura e, como a farsa pouco é bobagem, até o dia do golpe, eles mudaram, pois para esconder a mentira a tal “democracia” que ali se apresentava, melhor dizer que golpearam um dia antes, não virar motivo de chacotas. Claro, pela minha idade, não sei o que ali aconteceu, mas aprendi bem sobre todos os desdobramentos posteriores.
Nasci num Brasil distante, uma pequena cidade do interior do Ceará, Bela Cruz, que ainda hoje, acho que é perdida no tempo, mesmo com toda “mudernidade” lá chegando. Celulares, Tv a cabo via satélite, asfalto, drogas e tem até motel, acreditem. Mas as lembranças daquele anos, da ditadura, só me resta os ano 70, da cidade ainda empoeirada pelas estradas ainda de terra, com pouco calçamento. A troca de iluminação pública, que deixava as casas às escuras, enquanto trabalhavam fincando novos postes. Nem tinha ideia do que acontecia no Brasil a fora, muito menos sabia que o Tio Padre estava na trincheira contra a ditadura, se em casa sabiam, ninguém comentava.
Efetivamente, da Ditadura, o que mais se passava ali, naquele lugar, aos meus olhos e ouvidos, era a fila na escola, que antes de entrar na sala de aula, tínhamos que cantar o Hino Nacional, perfilados. Outra coisa que podia lembrar eram os desfiles do 7 de setembro. Naquele Brasil do fundão, até a cadeia da cidade tinha as portas abertas, os presos iam almoçar em casa, pois ali não havia comida. Meu pai era caminhoneiro, talvez soubesse das “novidades” de lá fora, mas desconfio que não tinha tempo para nos contar.
Lembro, por volta de 1978 a inauguração do Bradesco na cidade, parecia que vinha o progresso, no mesmo prédio que abrigava a prefeitura, a câmara municipal, o cartório, agora tinha um banco. Do lado de trás, na parte de cima do morro, eles tinha construído uma pequena estação de Telefone. Uma moça fazia as ligações e transferia para uma pequenas cabines, lembro que ia com minha mãe e irmãos ouvir a voz do meu pai, que estava em viagem, era uma pequena maravilha, aquele som, quando a telefonista conseguia fazer uma chamada.
Daquela época, as minha vivas memória são muito ligadas às músicas, aquelas que tocavam nas “radiolas”( é o Novo), os LPs ou Compactos que muitas vezes riscados, distorciam os sons. Os sons eram variados, mas ali predominavam os boleros, as serestas românticas, as músicas latinas que era aportuguesadas com Altemar Dutra, Nelson Gonçalves e tantos outros. Roberto Carlos, já não mais o rebelde da jovem guarda, cada dia mais “romântico”. Ah, também tinha um tal de Raul Seixas, na cidade, muito pequena, havia uns três doidões que ouviam bem alto o seu Raul, parecia chocar os mais velhos, quando iam para igreja.
Aos olhos de uma criança, não tinha a menor ideia do que se passava, mesmo com muitas brincadeiras, o ambiente não era de alegria, as músicas carregadas de melancolia, talvez fosse o sinal da época.
ALTEMAR DUTRA – LA BARCA
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