Arnobio Rocha Crise 2.0 Chipre 1 x 1 Troika – Gol Contra

Chipre 1 x 1 Troika – Gol Contra

 

Troika no Ataque: Christine Lagarde, FMI; Jeroen Dijsselbloem, chefe do Eurogrupo; e Olli Rehn, Chefe Econômico da UE. (Foto: John Thys/ AFP)

 

 

Depois de demonstração de firmeza, inédita, diante da Troika, o Ministro das Finanças de Chipre,  Michael Sarris,  acabou fazendo um gol contra, cedendo empate a esta épica partida. Aceitou um acordo, menos ruim do que o anterior, mas muito lesivo ao seu país, tudo em nome de “evitarmos o desastre de sair da Zona do Euro”. Na verdade, houve uma imposição e uma intervenção direta na economia e  no destino de Chipre, não houve um princípio solidário que pressupõe uma área de livre comércio.

Semana passada em vários posts (  os últimos foram : Deu Zebra: Chipre 1 x 0 Troika e Troika no Contra Ataque a Chipre) , vibramos com a recusa de Chipre frente à Troika, sabíamos que era uma doce ilusão, pois a pequena ilha com 0,2% do PIB da Zona do Euro, e seus poucos mais de 1 milhão de habitantes, não teria força para resistir diante de um poder forte e cruel. Mas a épica batalha não teve vencedor, senão vejamos o que se passou, para melhor compreendermos o tamanho da derrota.

A Troika tentou um passo a mais na política selvagem de combate a crise, que na verdade, se reduz a salvar os ganhos dos grandes bancos às custas da miséria de nações inteiras. Se em Portugal, Grécia, Irlanda e parcialmente na Espanha, se impôs uma dura política de Austeridade, que são corte de gastos sociais como Educação, Saúde e Previdência, combinado com aumento de impostos, privatizações e diminuição radical do Estado. Com Chipre, a “solução” tinha um Plus, o confisco da poupança. Um inédito sistema de taxação dos depósitos dos pupadores cipriotas, quem tinha até 100 mil euros, pagaria 6,75% do depósito, quem tivesse acima, pagaria 9.9%.

A temerária medida, assustou não apenas aos cipriotas, mas toda a Europa, países como Espanha, que estão em finalização de ajuste para seu resgate completo, temeu que em Chipre fosse um laboratório, para uma medida radical diante de si, o próprio Ministro das Finanças da Espanha, Luis Guindos, se apressou em avisar que em seu país os depósitos até 100 mil euros, era m sagrados. Mais ainda, este tipo de medida põe um país quase no gueto, o que poderia forçar sua saída da Zona do Euro, outro experimento que a Troika e os especuladores sonhavam em fazer, o que aconteceria se um membro fosse excluído, para ter como base, no futuro, para tratar de países maiores e mais problemáticos, como Grécia, Espanha.

Com a firme recusa do Parlamento cipriota e com a repercussão negativa mundial, em relação ao confisco, a Troika ficou desmoralizada, mas não perdeu a empáfia, publicamente mantinha a “oferta” de resgate, com confisco, mas, nas negociações aceitava outras possibilidades. A solução foi a liquidação do “Popular Bank of Cyprus, conhecido como Laiki, com perdas consideráveis para os depósitos acima de 100 mil euro” (EuroNews, 25/03/2013). E com o seguinte recado do “presidente do Eurogrupo tranquilizou os pequenos depositantes: “Gostaria de sublinhar que estas medidas não afetam os depósitos abaixo de 100 mil euros. E não deverá haver dúvidas sobre isso. Reafirmamos hoje a importância de garantir completamente esses depósitos na União Europeia”.

Como vimos falando, não foi um bom negócio para Chipre, o próprio site EuroNews assim descreve “A troika dá o dito por não dito, quanto à taxa sobre todos os depósitos, mas, como era esperado, impõe ao Chipre um plano duro de aceitar”.  E diz mais “Salvar a banca cipriota passa pelo fecho do segundo maior banco do país, com perdas “importantes” para os depósitos superiores a cem mil euros e a salvaguarda dos depósitos abaixo desse valor”. Além do desemprego e do pacote de Austeridade associado ao plano imposto.

O Negociado cipriota se defende “Não é que tenhamos vencido uma batalha, mas evitamos o desastre de sair da zona euro” – As palavras são do ministro das Finanças cipriota, Michael Sarris, que avisa que o mais difícil ainda está para vir. “Não acredito que as pessoas não estejam conscientes que vamos viver tempos difíceis e que vamos sofrer as consequências de um longo momento em que foram tomadas decisões erradas”, acrescentou Michael Sarris. (EuroNews, 25/03/2013). 

Ora, se o pior está por vir, por que fechar tal acordo? As autoridades locais, não apenas de Chipre, foi assim na Grécia, em Portugal e na Espanha, estão cada vez mais sem valor, a soberania estar extremamente relativizada, diante da Troika, os países perderam completamente seus valores locais, sua identidade, em nome de uma união que apenas favorece aos muito ricos, como os banqueiros alemães e franceses, esta é a dura realidade do fracasso completo da UE em geral e da Zona do Euro em particular. A Crise 2.0, jogou na lama aqueles “valores”, os princípios da união dos países, virou apenas um arremedo para arrancar a poupança dos mais pobres. O Sul europeu pobre contra os ricos do norte. Daqui a pouco só sobrará a Alemanha, todos os outros apenas terra arrasada, o que nem os tanques de Hitler foram capazes, Merkel,   com seus bancos, consegue fazer.

Uma realidade triste demais.

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4 thoughts on “Chipre 1 x 1 Troika – Gol Contra”

  1. Duas perguntas: a) por que seria um “desastre total” sair da Zona do Euro? b) não é fato que boa parte dos depósitos na ilha são de bilionários europeus que usam Chipre como “paraíso fiscal”? Se b) for verdade, esses espertos que se f*

    1. Vera,

      O tal “desastre total” é a frase de efeito que os dirigentes usam para assustar seus povos, foi assim na Grécia e agora em Chipre. Se sairmos da Zona do Euro ficaremos pobres, mas eles já são pobres dentro dela. Segunda questão não é de toda verdadeira. Dos 70 bilhões em depósitos, 47 bilhões são dos cipriotas, ou seja, quase 70% do total. É fato que é um paraíso fiscal, mas o dinheiro é só de passagem, não permanece. Este problema é anterior à zona do euro, se sabia e tolerava, por que a ‘punição” agora? Desconfio de que Chipre seria o laboratório, alvo mesmo será os países com mais dinheiro, como Espanha, Itália, em menor escala Portugal e Grécia. Caso estes países não consigam “honrar” seus compromissos, se parte para um confisco, que é uma medida mais direta do que ficar esperando o “pagamento”.

      Arnobio

  2. Pois é, ficar na zona do euro pra quê? Quero ver como ficaria a Alemanha etc, se Grécia, Chipre e talvez Espanha resolverem se mandar. Duvido que “confisquem” recursos da Espanha, Itália, até mesmo Portugal e Grécia. Tb acho que Chipre, menorzinha, serve de laboratório. Agora, 30% que sejam, esses depósitos parasitas, que paguem, ora, dinheiro especulativo numa ilha tão pequena!!

  3. Muito esclarecedor o artigo, resumindo, a unificação monetária européia foi um fracasso e para salvar os ganhos dos banqueiros só às custas da miséria de nações inteira. Lamentável.

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